Margarida Girão / A exploradora de imagens

Ilustradora portuguesa que adora o mundo.

Hoje é mesmo a new day?
É. Confia em mim. Ontem também foi. Amanhã também será. : )

E tu  Margarida Girão quem és?
Olá Freud, não sabia que estavas cá.
Sou uma miúda gira e complexa, esta última tu já deves saber.

O que te sai das mãos faz-nos sorrir, tem poderes. E tu, como vais mudar o mundo?
Na minha opinião, o tema ‘mudar o mundo’ vem carregado de muitas demagogias e blá-blás para adormecer.
Mas respondendo…
Se faço a Senhora Entrevistadora sorrir com os meus trabalhos já é uma semente. Pelo menos nesse momento não se irritou. E isso deixa-me contente, e já temos duas pessoas satisfeitas. É o efeito do fio condutor.
No ano passado, pelo meu aniversário, usei a plataforma da organização charity:water para levar água limpa a 20 pessoas numa aldeia da Etiópia.
Juntamente com os meus amigos, colegas e desconhecidos do Facebook, contribuímos com dinheiro e somamos 200 dólares. Foi a melhor prenda de anos que tive, e todos ficamos felizes por ajudar. O processo leva 12 a 18 meses, e a charity:water envia-nos relatórios com os desenvolvimentos do projecto. Sou (super) fã do trabalho deles. E quero continuar a ajudar outros através deles.
Pessoalmente, a minha paixão são os animais e é aí que tento actuar com mais veemência. Acho que cada um tem que apostar no que acredita. Há espaço e matéria para todos e para todas as causas. Há tanto para ser feito em várias escalas, que é provável que tenha sempre a sensação que não faço o suficiente.
Em relação à A NEW DAY, mais do que roupa ilustrada queremos alimentar a auto-estima, a consciência e as emoções de quem usa as peças. E isso é feito, ou tentado, com as frases inspiradoras que cada peça tem, e as ilustrações estão cheias de alegria e têm um certo ar ‘estranho-esquisito’ que, no caso delas, se torna divertido. Paralelamente, a nossa comunicação tem fundações muito positivas. Não é preciso dizer muito para deixar alguém com um leve sorriso.
E da mesma forma, não precisamos de ser heróis para fazer alguma mudança no mundo. Coisas simples e práticas como não deitar lixo na chão ajuda a nossa rua, os nossos vizinhos e o urso polar que está no outro lado do mundo. É preciso pensar global e no futuro, vivemos todos no mesmo ‘pacote’. E todos somos importantes e responsáveis.

O que te move?
O ‘fazer acontecer’ tudo o que está na minha cabeça. O futuro. E muitas dúvidas que só se calam se tentar. Tudo acompanhado de música. Senão não há emoção e motivação suficientes. E eu ouço boa e má. Sou uma desavergonhada musicalmente falando.

As imagens são um vício que não tratas?
O meu médico diz que estou bem. Por isso, vou continuar a abusar das imagens. Mas confesso que acho que ainda não estou a tirar o melhor do melhor deste vício. Tenho que continuar até arrebentar ou cansar-me. Não?

Gostas de revistas, o papel é o teu melhor amigo?
Perdi parte do encanto que tinha com as revistas. Há uns anos descobri a Internet, e há uns tempos o Pinterest. É um mar de inspiração. Mas continuo a ir à TEMA, livraria em Lisboa, comprar algumas publicações. E ainda tenho revistas dos anos 80 e 90 guardadas e super estimadas.
O papel já não é o meu melhor amigo. Agora é o computador, mas é verdade que sem as revistas não consigo criar nada. As revistas são a horta, e o computador o fogão onde se cozinham os ingredientes. Preciso dos dois.

As tuas collages contam histórias, mas que história está por trás delas?
Freud és mesmo tu que estás a conduzir a entrevista?
Nem sempre há história atrás, há sempre imensas emoções e uma necessidade, cansativa por vezes, de me apaixonar pelo trabalho. Sentir borboletas por ele. E nem sempre isso acontece. Sou muito auto-crítica, e quero sempre fazer melhor e mais do que ontem. E a ideia de ser óbvia e a de não trazer nada de novo aterroriza-me.
Eu acredito nisto: o teu trabalho cresce à medida que tu cresces enquanto pessoa. Notei isso nos meus dois últimos anos, e acho que não é óbvio para quem acompanha o meu trabalho; mas para mim é e isso diverte-me. Tenho confiança na aprendizagem e nesta insaciável e constante procura pela mudança.

Para além de seres ilustradora, o que gostas de ser?
Freud, essa pergunta… Eu gosto de ser muita coisa. Eu gosto de ser tudo o que seja relacionado com comunicação visual, mas as minhas especialidades são: fazer sites bonitos, papel de parede bonito, publicidade bonita, trabalhar a comunicação de um projecto ou marca, e outras modalidades relacionadas. Em 2012 descobri que também quero trabalhar com fotografia, mas documentária. (seja lá o que isso for, porque a fotografia, independentemente do objecto, está sempre a documentar algo).
Mas eu não sou uma profissão. Quero que o meu trabalho não seja trabalho, mas sim emoções. A música tem esse poder, o de provocar emoções nas pessoas. E é este propósito que me dá borboletas no estômago. E é um belo de um desafio.

Oferecem-te uma parede enorme, onde gostavas que fosse e o que farias nela?
Eu vou fazer anos em Janeiro, podem entregar-me a parede na Ericeira. OK? Vou pintá-la de branco, fazer uma janela no meio. Para terminar, um gato (adoptado ou recolhido da rua) no parapeito da janela a apanhar a brisa do mar.

Onde te podemos encontrar?
Na Ericeira, à janela numa parede enorme. Devo estar a fazer festas ao gato.
Neste momento encontro-me algures na Beira Baixa. Moro aqui há mais de um ano. Em 2011 deixei Lisboa e fui para São Paulo fazer uma coisa, mas acabei a fazer outra completamente inesperada. Eu, uma medricas assumida, viajei sozinha pela América do Sul. Foi espectacular. Posso escrever duas vezes que foi espectacular? É que foi mesmo! Só agora é que estou a solidificar tudo o que aprendi e a tomar consciência dos resultados. Quero ir embora da Beira Baixa, mas ainda não sei para onde. A única certeza é que quero ficar no planeta Terra. Freud, o que achas? •

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