A art de vivre na montanha / Megève

Era uma vez uma pequena cidade saída de um conto de fadas. Com um casario cor de chocolate de leite. Uma cidade abraçada pelas montanhas, ora pintadas de um verde embalado por uma profusão de tons leves, na primavera, ora ornamentadas pela candura do branco da neve, no inverno. O berço da gastronomia de montanha dos Alpes franceses, com um legado arquitetónico ímpar e uma art de vivre incomensurável com um nome comum de exclusividade, Megève.

A estrada atravessa o verde de ancestrais vales e montanhas erigidas ao alto, obrigando o olhar contemplar o céu recortado por uma infinidade de árvores, que acompanham a paisagem intemporal. Ao longe, o manto branco descansa, eterno, no cimo do monte delineado pelo azul celeste, ornamentado de nuvens brancas que sobrevoam os pedaços de terra entrecortados pelo brilho do sol. Eis o Monte Branco, o gigante dos Alpes.

A nobreza do traço

Chegamos a Megève. A pequena cidade dos Alpes franceses, que preguiça no vale rodeado pelos maciços Le Jaillet, Rochebrune e Mont d’Arbois, está revestida de pradarias verdejantes salpicadas por mantos brancos.

O casario, erguido por entre ruas e ruelas pedonais, que abrem caminho para pequenas praças neste paraíso (quase) intocável, recheado de pequenas boulangeries, boucheries com produtos artesanais das quintas locais e pequenos restaurantes de cozinha gourmet – três dos quais estão contemplados com estrelas Michelin –, entre outros mais descontraídos, como o Café 2 La Poste, é demarcado pela arquitetura autêntica, ditada pela fusão do elegante com o rústico. Um legado da história, respeitado ao longo das décadas, com o predomínio da pedra e, sobretudo, da madeira, por dentro e por fora.

Denominador comum nos chalets convertidos em hotéis e dos hotéis compostos por chalets, respeitando, assim, o traço depurado, erguido em harmonia com a paisagem sinuosa em redor de Megève. Cenário composto por montanhas que serviram de inspiração a Jacques Revaux, o compositor da melodia imortalizada pela voz de Frank Sinatra, “My way”, homenageada pelo escultor Pierre Margara.

Pelo roteiro da história

Erguida a 1200 metros de altitude, em Savoie, região de Rhône-Alpes, Megève foi construída em redor de uma aldeia medieval dedicada, desde o início, à agricultura e à pastorícia. Herança dos tempos adaptada ao presente e comprovada pela existência de quintas que permanecem ativas e, por conseguinte, fornecem os produtos, ditados pela excelência, para os hotéis e os restaurantes locais.

Porém, o rigor do inverno impede o trabalho na terra, pelo que não é de estranhar ver os agricultores a tomar as rédeas das charretes, convidando os passantes para um passeio memorável, acompanhado de estórias que prometem surpreender. Uma viagem que começa na praça central, junto à igreja do século XI, onde é colocada, no início de dezembro, a célebre árvore de Natal. O símbolo de inverno de Megève cuja decoração das bolas coube, na temporada de 2013/2014, ao pintor Yves Clément.

Bem perto está o Museu de Megève, com uma exposição sobre Emille Allais, uma lenda do esqui alpino, que tornou célebres as famosas fuseau, as calças de esqui revolucionárias criadas por Armand Allard e vendidas, ainda hoje, na boutique com o mesmo nome, no coração da cidade. Afinal, estamos numa das mais famosas estâncias de desportos de inverno dos Alpes fundada, no início do século XX, pela baronesa Noémie de Rothschild, com a finalidade de criar uma Saint-Moritz francesa. O então destino eleito por estrelas de cinema e artistas de renome, pela aristocracia europeia e pelas mais famosas famílias do mundo, esquecido durante os anos 1960′ e relançado ao fim de duas décadas depois, graças à família Sibuet.

Sobre o manto branco

Apesar da timidez matinal do segundo dia, o sol mostra o ar da sua graça ainda pela manhã, nas montanhas, e acompanha-nos ao longo de duas horas num passeio pela neve, feito com raquettes nos pés e conduzido por uma guia, Nicole Claudon. Aos quilómetros perdemos a conta, pois valeu a caminhada pelos pequenos mantos brancos, que ainda preguiçam na encosta suave de Rochebrune, e em outras, por todo o lado, com o imponente Monte Branco à nossa frente.

Pelo caminho observamos casas de montanha, ainda desabitadas, à espera de mais sol, do verão. A altura do ano em que os animais de pastoreio regressam às encostas verdejantes e os agricultores dão alma aos lares de outrora. Para já, os pequenos arbustos despertam por entre as cavidades formadas na neve e, em breve, os animais de montanha despertam do sono de inverno.

A aventura prossegue, no último dia, com uma viagem memorável. Ponto de encontro: o Altiport de Megève, em Aiguilles Croches, a 1500 metros de altitude. Está tudo a postos para um voo de 30 minutos ao maciço do Monte Branco, com 4810 metros de altitude, no coração dos Alpes, com vista para a Aiguille de Midi (agulha do meio dia), no Vallée Blanche (Vale Branco), que atravessa o Glaciar do Gigante rodeado, a norte, pelo Capucin du Tacul cujo gelo acumula, mais à frente, no Mar do Gelo, sem esquecer a emblemática figura de Jesus, de braços abertos, como que a proteger os alpinistas de tão encantador e vertiginoso cenário. Paisagens inebriantes, toldadas de branco, de uma beleza ímpar em redor do Monte Branco.

No cimo, as nuvens que o circundam mal deixam ver o esplendor da sua altivez.

No coração da natureza

Os desportos de inverno, sobretudo o esqui, são o cartão de visita de Megève, com múltiplas e variadas opções outdoor nos belíssimos terraços de altitude. Por outro lado, as atividades indoor conquistam cada vez mais adeptos, graças ao Le Palais des Sports, que concentra desporto, lazer e cultura, por um corpo e mente sãos, com piscinas, ginásio, corte de ténis, ringue de patinagem… mediateca e sala de espetáculos, e o recente Spa des Sports,  reservado ao bem estar. Aqui, as massagens e os tratamentos corporais culminam com o repouso na sala de relaxamento contígua ao espaço composto por um duche tónico para a coluna, hammam e sauna, coordenados por duas piscinas – de água quente e de água fria – e jacuzzi. A decoração prima pela elegância revestida de tons suaves, que complementam o convite ao descanso…

Na época estival, as pradarias revestem as montanhas de verde. O convite para os desportos de verão aumentam, com passeios de BTT, ao longo de uma rede de pistas com mais de 300 quilómetros, pesca, rafting, ou percursos pedestres com os amigos e a família, pois atividades para as crianças não faltam! Como escalada, equitação ou golfe… Práticas saudáveis que permitem desfrutar da natureza em toda a sua plenitude, numa cidade com uma cozinha de excelência (leia aqui sobre gastronomia em Megève) e uma arquitetura singular (leia aqui sobre os chalets que conhecemos em Megève), cuja distância desde o aeroporto de Genebra, na vizinha Suíça, é de uma hora (de carro), para onde o voo da TAP nos leva e de onde nos traz de regresso a Portugal. Vamos à descoberta! •

Agradecimentos:
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RdVFrancetap

© Fotografia: João Pedro Rato com Canon EOS 60D