Corte Superlativo / ID by Carlos Gago

“All you need is your own imagination
So use it that’s what it’s for (that’s what it’s for)
Go inside, for your finest inspiration
Your dreams will open the door (open up the door)
(…)
You’re a superstar, yes, that’s what you are, you know it
(…)
Strike a pose”!

“Vogue” by Madonna. Foi o que leu, muito provavelmente, com o ritmo da música. Pop perfeita para abrir a conversa que se segue. Às 19h00, de mais um dia em Coimbra, abriam-se as portas de um espaço que celebra 30 anos, que de Ilídio Design caminhou para ID by Carlos Gago, para se falar com quem trabalha a imaginação com tesouras. Embaixador da L’Óreal, em Portugal, tem no corte uma arte, no criar um lema: Carlos Gago, senhor do corte superlativo.

Primeira década / 1984-1994
Passei a ter duas paixões: ser cabeleireiro de salão e de apresentações, criando tendências.

Em que dia abriu o Ilídio Design?
Dia 1 de Fevereiro de 1984. O Ilídio Design começou em Coimbra e foi formado pelo meu tio, por mim e pelo meu irmão para este espaço, aqui, onde estamos.

Passo atrás. Quando apanhas a carreira para esta carreira de tesoura em riste?
Aos 15 anos, em 1978, com o meu tio Ilídio a convidar-me para ir aprender o ofício de cabeleireiro. Estava a fazer o 9.º ano e no futebol federado. Em junho, fui aprender o ofício. Em dezembro, deixei o futebol. Depois disso, a escola. E dediquei-me, em exclusivo, a ser cabeleireiro. Era o que queria ser.
De seguida, o meu tio levou-me a conhecer Luís LLonguerras e ao vê-lo a trabalhar percebi que queria também apresentar coleções para cabeleireiros – tal como o meu tio já fazia. Passei a ter duas paixões: ser cabeleireiro de salão e de apresentações, criando tendências. Aos 17 anos estava a cortar cabelos com o meu tio. Porém, entretanto, ele pôs-me a estagiar, em Lisboa, na Lúcia Piloto, no Vítor Ferreira e no Nobre para aprender outras técnicas e modelos; quis abrir-me horizontes. Após os estágios, regressei ao meu tio.

Estamos no ano de abertura, ainda te lembras da primeira vítima?
O Ilídio Design teve duas primeiras vitimas: Helena Mendes Silva e Fernanda Mota Pinto. Um delas ficou cliente, a outra não. Portanto… E Já não me lembro de quem penteou quem. Sim, começámos só a pentear, apesar de estarmos vocacionados para o corte. Foi sempre a politica do Ilídio Design focar no corte.

Que cores darias aos dez anos primeiros a criar molduras para o rosto?
Dou-te todas, até hoje. Os anos 80 é França, os anos 90 é Inglaterra, 2000 começa por ser americano portanto: vermelho, branco e azul. Depois deixa estas cores e passa a ser global, passamos a ser Portugal, a ter uma identidade e o Ilídio passa a ser ID by Carlos Gago a nível nacional e, rapidamente, internacional. Aí, passa a ter todas as cores.

Hair style is the final tip-off whether or not a woman really knows herself”, Givenchy, 1985.

Concordas, apesar da ida epidemia de permanentes?
Concordo. Os anos 80 cá, no geral, é o que dizes. Contudo, lá fora não era o que se passava. Havia uma identidade que mandava a nível internacional que se chama(va) de Haute Coiffure Française. Os cabeleireiros (nós) iam a Paris, duas vezes por ano, buscar as novas tendências. No Ilídio não tivemos epidemia. O meu tio sempre teve que o corte de cabelo tinha de ser em função da pessoa e não ir atrás copiando, essa fase passou-nos um pouco ao largo. A frase tem muita lógica, se formos carneirinhos não temos identidade.

 

Segunda década / 1994-2004
Deixei de ter a influência de ídolos a partir do final da década de 90 e tudo o que me fez e faz criar foi e é o que me rodeia.

1994, já te dedicavas a criar tendências com Moliére e Wagner?
No teatro é, precisamente, em 1994 que é “oficial” essa ligação. Nesse ano, foi fundado o Teatrão e fui convidado para pentear a primeira peça; foi quando me apercebi que as tendências que via em Inglaterra, as podia por em prática no teatro. Comecei com o Teatrão, depois os Bonifrates, o TEUC, o CITAC e outros desafios que permitiram ter a noção que podíamos soltar a imaginação, e não mais parámos.
A música entra em plenos anos 90 com a Inês Santos, logo a seguir com os Squeeze Theeze Pleeze e o André Sardet. Isto deu a origem a conhecer os Fonzie e destes para os a Jigsaw, tudo na mesma fase. Com os Squeeze foi, um desafio engraçado. Iam lançar um álbum, apercebendo-se que a imagem e telediscos era importantes, comecei a fazer-lhes os cabelos. É curioso que estando em Coimbra tenho noção que influenciámos, a nível nacional, o inicio dos telediscos, nos anos 90. E não é só pentear para o momento. É acompanhar, fazer o corte, tratar do cabelo, depois preparar para as produções. Exemplo disso tem sido o Paulo Furtado e, mais recentemente, a Rita Redshoes. Não há dúvidas que podemos criar tendências com atores e músicos.

Ano 2000. Apocalipse anunciado. Que corte terias escolhido para entrarmos no fim do mundo?
Sem cabelo, tudo sem cabelo. (risos). Para haver o fim do mundo, tem de haver um apocalipse. Esse apocalipse é no ar. Se é no ar, qual é a primeira coisa no corpo que recebe coisas vindas do ar? O cabelo. Portanto, ficamos sem cabelo! Não estavas à espera desta resposta… (risos).

E se tivesse havido o início de um mundo novo, quem querias que continuasse a ser a tua inspiração?
Não há uma pessoa que me inspire por si só. Quando construo algo vou buscar a inspiração à música, à natureza, ao cinema… Tornei-me cabeleireiro por causa do meu tio, mas isso foi o inicio. Deixei de ter a influência de ídolos a partir do final da década de 90 e tudo o que me fez e faz criar foi e é o que me rodeia. Assim, o estado da arte que iria encontrar, no mundo novo, é que me iria influenciar, e isso iria dar azo a novas imagens.

A woman who cuts her hair is about to change her life.”, Coco Chanel.

Um corte de cabelo pode ser comparado a um novo milénio?
Claro. Há várias atitudes para se cortar um cabelo. Tens a atitude de fazer um comum corte e a de fazer um grande corte. Este último é porque aconteceu alguma coisa e queres mudar algo na tua vida, queres ter outra atitude perante a vida, um novo milénio, e a melhor maneira é um novo look.

 

Terceira década / 2004-2014
Uma mulher com um bom corte de cabelo pode tudo. Onde quer que chegue, marca a sua presença.

Ilídio, nome que fez história e que continuas a manter vivo. ID será sempre a tua casa, daqui a mais 30 anos?
Cortar é o que gosto de fazer na vida. Se estarei com as minhas faculdades todas daqui a 30 anos, não sei. Agora, que cortarei cabelos enquanto tiver são para fazê-lo e aqui será a minha casa, não tenho dúvidas. Sinto-me bem aqui, tenho uma equipa que gosto e tenho os meus clientes que vêm aqui. Não faltam convites para mudar para Lisboa, mas não quero. Gosto muito desta casa. Não me vejo noutra até as minhas faculdades o permitirem…

Sendo tu um mecenas nas artes do espetáculo, dá-me três dos nomes que te deram mais gozo dar umas tesouradas?
Músico: Rita Redshoes, quando fizemos a mudança radical. Banda: Fonzie, conseguir transformar-lhes o estilo punk sem perderem a identidade. Atriz: Diana Costa e Silva, uma transformação para fazer de filha de Petra von Kant, no Teatro D. Maria, estilizando o corte.

A quem ainda não meteste a tesoura, mas gostavas de meter?
Manuel João Vieira. Há uns anos, a mulher dele, na altura, foi atriz do Teatrão, e foi uma das modelos de uma colecão que eu fiz. Há um dia em que ele entra por aqui adentro, estávamos nós a fazer as fotografias, olho-o, vejo o cabelo e digo para mim: metia-te a tesoura. E Luísa Sobral que no ultimo álbum era um contra-senso, a música e a imagem que transmitia. Para mim, não fazia sentido.

The only place where success comes before work is in a dictionary.”, Vidal Sassoon.

É certo?
Certíssimo e numa das últimas entrevistas que ele deu, dizia que para evoluirmos temos que cometer erros e saber ultrapassá-los. É muito importante saber errar, saber onde se erra e não se errar mais. Evoluis com as dificuldades, por isso é que ele diz essa frase. O trabalho vem sempre antes do sucesso.

 

Novas décadas / 2014-…

Desejos, sonhos, objetivos para mais 30 anos a ditar tendências?
Desejo: continuar a criar, a ter pessoas que me deixem criar, a ter desafios. Objetivo: fazer com que os cabeleireiros portugueses vejam a técnica do corte, do styling e dos produtos como instrumentos e que usem isso para beneficio das pessoas. Sonho: continuar a fazer o que quero.

Gorgeous hair is the best revenge.“, Ivana Trump.

Para terminarmos, que dizes desta afirmação?
Digo-te que uma mulher com um bom corte de cabelo pode tudo. Onde quer que chegue, marca a sua presença. Com um bom corte e cabelo bem tratado ofuscas tudo o resto. Mrs Trump, tem razão.

ID by Carlos Gago é uma forma de arte que cria molduras para rostos, a superstar. Já fez o corte para a nova estação?  •

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© Fotografia: Carlos Gomes