A cerveja com o doce travo do sucesso / Maldita

Já não são só os vinhos, os espumantes e os azeites portugueses que dão cartas além-fronteiras. Em matéria de líquidos preciosos e apreciados cá dentro e lá fora chegou, agora, a vez das cervejas artesanais brilharem. Apresentamos a Maldita, a ‘bejeca’ aveirense que conquistou o Europe’s Best Barley Wine 2014, nos World Beer Awards.

Comecemos pelo início. Dois engenheiros, pai e filho, resolveram meter mãos à obra e produzir cerveja artesanal. Foi em 2007 que o filho, Gonçalo, ainda estudante universitário, teve a ideia quando começou a interessar-se pela bebida. “Não gostava de a beber mas, sim, de a apreciar, o que, desde cedo o levou a querer ser ‘juiz’ e apreciador de cerveja, recordam, explicando: “Dada a pouca variedade na oferta de cervejas artesanais em Portugal, começou a produzir estilos que queria experimentar, aqueles que mais gostava”. Estávamos em 2008 e o resultado foram três receitas que estiveram na origem das três Malditas. A ideia deu lugar a um projecto palpável e, com a ajuda da Incubadora de Empresas da Universidade de Aveiro (IEUA), nasceu a Faustino Microcervejeira, no dia 13 de Dezembro de 2012. A sede mantém-se na IEUA e a microcervejeira está localizada em Cacia, num espaço de 650 m2, com uma capacidade de produção de 4000 litros mensais.

A paixão por uma boa ‘jola’ esteve na base deste projecto familiar, mas os objectivos ficaram bem claros desde o início. “No segmento das cervejas artesanais, daqui a dois anos, a Maldita será a cerveja mais premiada a nível internacional”, assumem. Os indicadores são positivos e falam por si, com a atribuição do título de ‘Europe’s Best Barley Wine 2014’, nos World Beer Awards. O evento anual premeia as melhores cervejas em oito categorias. “Num prazo de cinco anos queremos ser a melhor cerveja do mundo. Já temos a melhor da europa. Falta pouco”, reconhecem. A médio prazo, as metas são outras, igualmente bem definidas: Estabilizar a produção para assegurar uma oferta consistente e consolidar a presença nos mercados nacional e externo. Isto sem descuidar o ‘processo de cultura cervejeira’, dito de outra forma, “queremos continuar a ajudar os consumidores mais exigentes a entrar neste mundo da cerveja artesanal”. Como? Para 2015 está prevista a abertura da Academia Maldita.

Regresso à escola

Porque tão importante como beber uma boa cerveja é saber reconhecer uma quando a bebemos, vem aí a Academia Maldita. Ao longo de quatro sessões, os ‘alunos’ irão familiarizar-se com esta realidade, aprender a harmonizar a cerveja com a comida, escolher o copo certo, identificar a temperatura correcta para desfrutar ao máximo da bebida. “Trata-se de um percurso de aprendizagem. Pretendemos conduzir os participantes numa viagem sobre a cerveja artesanal. O objectivo não é ensinar as pessoas a fazer cerveja, mas sim ajudá-las a tirarem o máximo prazer da experiência de saborear uma cerveja artesanal”, revelam os autores do projecto, realçando: “No final, os mesmos participantes estarão preparados para avaliar uma cerveja artesanal, no geral, e uma Maldita, no particular.” Aqueles que mais se destacarem serão nomeados Embaixadores Malditos.

Uma, duas, três…

Bohemian Pilsener, Robuster Porter e English Barleywine. São estas as três Malditas com que podemos brindar. A razão da escolha não podia ser mais simples: “Na altura em que definimos os estilos de cerveja a produzir, quisemos primar pela diferença”. Cor, sabor, acompanhamento, entre outros traços, distinguem este trio. Deixamos as explicações para os entendidos: “A Bohemian Pilsener é uma cerveja de cor clara, que deve ser acompanhada por comida salgada ou picante; é refrescante e óptima com tapas. A Robust Porter vai melhor com sobremesas e doces, porque há um contraste perfeito com os seus sabores torrados e uma conjugação com os seus sabores a caramelo. Por último, a premiada English Barleywine é uma cerveja bastante intensa em sabor e aromas; deve ser conjugada com comidas igualmente fortes e intensas, para que a cerveja não se sobreponha à comida. Também há quem goste de a beber após uma refeição como digestivo.”

Ciúmes e amores

Para o fim, fica sempre o melhor e não fugimos à regra. Afinal, Maldita porquê? Como muitas vezes, a história é simples e resume-se a um caso típico de ciúmes: “Sempre que uma namorada sente que o seu respectivo namorado está cada vez menos tempo com ela, porque está empenhado numa outra coisa é assim. E um dia, um desabafo do género ‘lá vais tu outra vez para a maldita cerveja’, visto com o humor típico do Gonçalo, só podia dar nesta resposta: ‘Maldita! Belo nome para a nossa cerveja’. Foi assim que começou.” O resto é história…

Academia Maldita

Curriculum
Despertar Maldito – Primeira etapa. Consiste numa primeira abordagem à cerveja artesanal Maldita. Com a duração de duas horas, contempla uma visita à microcervejeira, uma introdução ao conceito Maldita e uma prova entre cerveja Maldita e duas cervejas comerciais.
Experiencia Maldita – Segunda etapa. Prevê-se que os participantes consigam, de uma forma clara, identificar as características de uma cerveja artesanal, bem como tenham já interiorizado o conceito Maldita. Esta experiência permite-lhes pôr em prática alguns conceitos, como por exemplo o de Beer Paring. Esta experiência pressupõe provas de cerveja e comida e tem a duração de aproximadamente duas horas.
Criação Maldita – Terceira etapa. Destina-se a pessoas que têm uma grande curiosidade sobre o mundo da cerveja artesanal e levará os participantes a descobrir os ingredientes da cerveja artesanal, sendo desafiados a criar a sua própria cerveja.
Equivalência Maldita – Quarta etapa. Como classificar uma cerveja, quais as características que devemos observar nas cervejas e de que forma as mesmas podem ser potenciadas para melhorar o produto. Após esta formação os participantes receberão um diploma que lhe dará equivalência a ‘Maldito Cervejeiro’. •

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© Fotografia: Mariana Rosa