O Douro em três brancos e um tinto

Do vale do Roncão ao planalto de Alijó são 130 hectares de história que dão fruto aos novos vinhos da Real Companhia Velha.

Rui Soares, Director de viticultura da Real Companhia Velha, e Pedro Silva Reis, em representação do pai, Pedro Silva Reis, 27.º Presidente da Junta da Administração da Real Companhia Velha

Falamos da Quinta do Síbio, propriedade datada do século XIX, no Douro vinhateiro, a qual permaneceu nas mãos da mesma família até 1934, ano em que foi adquirida pela produtora de vinhos do Douro e Porto com mais de 260 anos de história, a Real Companhia Velha.

Mais de 60 anos volvidos, e este pedaço de terra duriense passou a testemunhar uma nova era. Estamos em 1999, ano em que se recuperaram os muros e os socalcos, e foi plantado um novo vinhedo, património que, em 2001, se viu valorizado com a afirmação do Douro como Património Mundial da Humanidade, pela UNESCO. Assim, e de olhos postos nas castas inscritas no antigo cadastro da quinta na Casa do Douro, a Real Companhia Velha “arregaçou as mangas” e elegeu a Touriga Nacional e a Touriga Franca, o Tinto Cão, a Tinta Amarela, o Sousão e a Tinta Francisca.

Graças à recente aquisição e anexação de 90 hectares de vinha do planalto de Alijó – anterior pertença da Quinta do Casal da Granja e onde se encontra o centro de vinificação da empresa –, a Quinta do Síbio espelha uma das grandes preocupações da Real Companhia Velha: Recuperar antigas castas do Douro, algumas das quais estão em risco de extinção. Eis a lista: Códega, Esgana Cão (ou Sercial), Pêro de Bode, Samarrinho, Síria e Touriga Branca, nas brancas; e Cornifesto, Bastardo e Touriga Fêmea, nas tintas.

Após vários anos de muita persistência – aqui, os Verões são muito quentes e secos, agravando a falta de água –, em 2006/2007 foi feita a primeira produção de vinhos.

Mostrar a qualidade da marca era, contudo, de suma importância, daí a necessidade de a reactivar, mas de forma diferente e com Jorge Moreira, o director de enologia da Real Companhia Velha, a supervisionar a produção de fio a pavio. Foi, portanto, este o mote para criar vinho biológico, processo de reconversão iniciado em 2013 na produção de uva – mas já lá iremos.

Os novos vinhos da Real Companhia Velha produzidos com as uvas da Quinta do Síbio

Antes de mais, comecemos pelas três boas novas de brancos DOC Douro.

Comecemos pelo Quinta do Síbio Field Blend branco 2015 ditado em 8.500  garrafas e que invoca a tradição duriense, com as Vinhas Velhas a preencher a fórmula dominada, neste caso, pela casta Viosinho, à qual se juntou o Gouveio, o Rabigato, o Fernão Pires e o Arinto. Os aromas frutados e florais juntam-se, por si só, à mineralidade típica da região, características muito apreciadas, sobretudo, pelo universo feminino.

Segue-se o Quinta do Síbio Samarrinho branco 2015 dividido em 800 garrafas e feito a partir da Samarrinho, casta que confere um branco muito fresco, com ligeiras nuances minerais, seguidas de notas de fruta branca.

Antes de terminar, passemos para o Quinta do Síbio Ananico branco 2015 – o lote original integrou a linha RCV Séries – cuja produção se traduz em 20 mil garrafas, manifesta um perfil caracterizado por notas frutadas e florais, com frescura e complexidade dos vinhos do Douro, e sobre o qual se recomenda que fique mais uns tempos em garrafa.

Para o fim, deixemos o Síbio tinto 2014, um DOC Douro de produção biológica que é uma edição numerada dentro de um universo de 6.600 garrafas. Feito a partir das castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Francisca e Sousão, originárias de parcelas selecionadas e associadas à vertente biológica, à qual se seguiu a fermentação, durante a qual 50 por cento foi submetida a este processo em lagares de granito e, os restantantes 50 por cento, em lagares de inox com controlo de temperatura; o estágio decorreu por 12 meses em barricas novas de carvalho francês. O resultado? Bom, sobre o resultado o melhor é provar… ou guardar para mais tarde pois, ao que parece, tem potencial para evoluir em garrafa.

Sobre a Real Companhia Velha, de quem a história está inscrita nos anais –como pode ler aqui – são cinco as quintas que detém: Quinta das Carvalhas, Quinta dos Acipreses, Quinta de Cidrô, Quinta do Casal da Granja e Quinta do Síbio.

Brindemos! •

+ Real Companhia Velha
© Fotografia: João Pedro Rato

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