Aqui o tempo é… intemporal. Permanece intocável pelos ponteiros do relógio. O silêncio confunde-se com as horas, os minutos, os segundos.Com o ténue chilrear dos pássaros, com a acalmia do vento. Confunde-se com dia, a noite, as estações do ano. Aqui mesmo. Na Villa Extramuros.
Queríamos mudar de vida. Queríamos um lugar com história, monumentos, com boa comida, não muito longe de Lisboa nem de Espanha.
François
Depois de uma manhã escondida pelo denso nevoeiro, depressa o sol desperta por entre a subtil névoa que pairava além Tejo e assim permanece até ao fim da viagem. Até fora das muralhas da vila da Arraiolos. Na Villa Extramuros. Um olival centenário sem fim à vista, salpicado de azinheiras! Virados para a porta sde entrada da pequena Villa, e após uma breve investida à mesma, aparece François, com um longo sorriso amável, ao qual se junta, depois, o de Jean-Christophe.
Entramos a convite. Na sala, as mesas sustentam pilhas de livros. Formas de estar que apelam ao conforto e ao à-vontade dos hóspedes numa decoração vintage a adivinhar o bom gosto da dupla de parisienses – François Savatier e Jean-Christophe Lalane.
Procurámos peças típicas da região, com qualidade, autenticidade, ligadas ao passado, demarcadas pela tradição e pela beleza.
François
A conversa flui naturalmente…
Outrora ávidos por conhecer o imenso mundo, um desejo concretizado por longos anos, François e Jean-Christophe sentem-se realizados com a nova casa. O gosto pela terra plana pintada de tons dourado e verde. O quente do sol anunciado a cada dia que passa. O lugar ocupado pelo onírico e pelo sossego. O sorriso das gentes da terra. O que a terra dá. O deleite infinito de uma mesa alentejana, desde o olhar ao aconchego do sentido do gosto. Uma mão cheia de razões que seduziram os anfitriões desta pequena Villa com vista para Arraiolos.
A atenção para a arquitetura do edifício é uma constante. Linhas direitas, depuradas, rematadas pela matéria nobre da região – a cortiça nos tetos exteriores, nas portas, no portão de entrada da Villa, em pequenas peças decorativas e de utilidade diária… a pedra de Estremoz, nas casas de banho, na ilha da cozinha cujas paredes são revestidas por mosaico hidráulico, e as mantas de Reguengos de Monsaraz tapam pequenos pedaços do chão da sala contígua à cozinha.
Toda a decoração é a nossa vida e cada um tem uma história para contar.
Jean-Christophe
Continuamos pelo corredor espaçoso, dominado pela candura das paredes iluminadas pelo resplandecer do sol… numa fusão perfeita com a panóplia de verdes, vermelhos, laranjas e amarelos da coleção de jarras em murano italiano expostas na receção da Villa. A pretensão não é, de todo, uma casa museu. Apenas a criação de um espaço inimista, trendy, apaixonante, decorado com savoir-faire, com peças de design datadas entre 1950’ e 1990’. Uma panóplia de criações, com a assinatura de designers de renome internacional, como Charlotte Perriand, Pierre Paulin, Joe Colombo ou Marc Newson provenientes de um apartamento em Paris. E uma biblioteca, onde repousa a chaise-lounge de Jean Prouvé. Apetece ler! A presença das peças de arte fomentam uma combinação harmoniosa com mobiliário dos quartos amplos – cinco, ao todo – com pequenos pátios acolhedores que convidam ao descanso nas chaise-loungues, à toma do pequeno almoço na mesa, ao desfrutar de uma paisagem alentejana carregada de quietude. A um canto, a laranjeira tranquiliza a calma…
E a entrega ao ócio domina a alma. Mergulhamos na piscina…
A ideia de resort foi posta de parte desde o início.
Queríamos espaço, muito espaço.
François
A pouco e pouco, a noite apodera-se do dia numa longa despedida. Mas há uma surpresa, Monsieur Toutou. Segue-se o jantar, na agradável companhia da dupla parisiense e de mais uma de tantas conversas recheadas de boas histórias para contar.
De novo, o sol, a manhã! O pequeno-almoço aguarda numa das mesas do pátio interior, onde a pausa para o sossego é desejável a qualquer hora do dia – e da noite. O leve travo a hortelã do chá – escolhido por nós, pois o serviço do hotel Villa Extramuros é personalizado –, acompanhado por uma deliciosa delícia de requeijão – perdoem-me a redundância, mas é mesmo um deleite –, desperta o palato para mais umas iguarias feitas em casa: doce de tomate, doce de ameixa com nozes e doce de maçã e canela. O mel é das abelhas da vizinhança. O pão, alentejano. Há morangos, um cesto de fruta. Um aprazível repasto saboreado sob o céu azul imaculado e boa música.
A despedida foi longa…
François e Jean-Christophe contam mais histórias acompanhadas de boa disposição e amabilidade. E, ao contrário do que acontecia no dia anterior, os ponteiros do relógio parecem ter, de novo, regressado ao trabalho. •
Até breve François.
Até breve Jean-Christophe.
+ www.villaextramuros.com
© Fotografia: João Pedro Rato