Livros: Os escritos de Pessoa

Um livro recente, “Como Viver (ou não) em 777 Frases de Fernando Pessoa”, levou-nos a outro editado há dois anos, “Cartas de Amor de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz”.

O primeiro, organizado pelo pessoano Richard Zenith, agrega 777 frases da autoria de Fernando Pessoa, seus heterónimos e de algumas das suas personagens, em sete secções temáticas e apresentando sete frases, no início, e outras sete, no fim. A vida vivida, a vida eterna, a vida da imaginação, a vida afectiva, a vida pensada, a vida do eu inúmero e a vida não vivida colocam-nos perante alguns dos pensamentos do poeta, de forma muito abreviada, e que terá sido o maior desafio para Ricarh Zenith que, assim, nos faz uma recomendação: a de ler apenas uma página por dia. “Ou melhor ainda: abra o livro ao acaso, deixando que o dedo lhe aponte uma frase.” E pelo acaso nos deixámos levar… A frase que nos calhou? “Amo o que vejo porque deixarei qualquer dia de o ver” (Ricardo Reis).
E de Ricardo Reis para Pessoa e Ofélia. Talvez a maior surpresa de “Cartas de Amor…” seja a forma carinhosa como o poeta e Ofélia se tratavam. “Fernandinho”, “meu bebé pequenino”, “bebezinho”, “Íbis” (nome que Fernando Pessoa usava para assinar algumas das cartas dirigidas a Ofélia) ou “querido Nininho” são alguns dos nomes carinhosos que podiam ser substituídos por “Sr. Pessoa” ou “bebé mau”, se estavam zangados.
A temática das cartas é o dia a dia dos dois, com Pessoa a contar coisas do escritório e queixando-se até do trabalho numa carta que poderia ter sido escrita hoje: “Querer que eu faço todo o resto também, é como querer que o mesmo indivíduo, num escritório, seja chefe de escritório, guarda-livros, dactilógrafo e praticante para levar as cartas.”
Curioso também que Pessoa algumas vezes remeta para Álvaro Campos, como um amigo que também gosta muito de Ofélia, como se fosse realmente uma terceira pessoa, ao que Ofélia responde: “(…) Então o Álvaro de Campos também gosta muito, muito do Bebezinho? Ai não gosta não, Nininho. Se ele gostasse não era tão mau e tão injusto como já tem sido.”
Imaginarmos Pessoa como uma pessoa sorumbática, melancólica ou tristonha é um dos nossos maiores equívocos. O escritor adorava brincar com os seus sobrinhos, por exemplo, com quem era capaz de passar horas no chão a inventar brincadeiras.
Para os cépticos, deixo apenas esta carta escrita a Ofélia no dia 31 de maio de 1920:
“Bebezinho do Nininho-ninho
Oh!
Venho só quevê pâ dizê ó Bebezinho que gotei muita da catinha dela. Oh!
E também tive muita pena de não tá ó pé do Bebé pâ le dá jinhos.
Oh! O Nininho é pequinininho!
Hoje o Nininho não vai a Belém porque, como não sabia s’havia carros, combinou tá aqui às seis óas.
Amanhã, a não sê qu’o Ninninho não possa é que sai daquei pelas seis e meia (isto é a meia das cinco e meia).
Amanhã o bebé espera pelo Nininho, sim? Em Belém, sim? Sim?
Jinhos, jinhos e mais jinhos
Fernando”

“Como Viver (ou não) em 777 Frases de Fernando Pessoa” / 160 páginas / €14,40
+ Quetzal Editores

“Cartas de Amor de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz” / 368 páginas / €18
+ Assirio

 

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