A tradição na cozinha de D. Roberto / Gimonde

Às portas do Parque Natural de Montesinho espera-nos D. Roberto. O restaurante típico de Gimonde, hospitaleiro e acolhedor, com uma taberna típica e um espaço dedicado aos produtos regionais, para degustar e levar.

A vizinha Espanha está para lá dos montes e montanhas que revestem a paisagem bucólica e mágica da aldeia de Gimonde, com o rio Sabor a seus pés, no concelho de Bragança. O berço do restaurante D. Roberto, onde a tradição à mesa permanece no receituário, com mais de três décadas, da respeitável família Fernandes e eleito pela Real Academia de Gastronomia estando, assim, presente na nova edição do Guia Repsol 2015.

Da cozinha saem os pratos de hoje temperados com a sabedoria de outrora, pelas mãos de Raquel Martins sob o olhar atento de Maria da Glória, familiar de Alberto Fernandes, neto de António Alberto Fernandes, conhecido por D. Roberto, o fundador da então taberna de Gimonde, em 1935.

Na carta do restaurante, de índole regional, o porco bísaro é o prato forte. Confecionada e servida com a generosidade imensa das gentes do norte, a carne, suculenta, sobressai pelo sabor singular. A alheira, o chouriço e o presunto são o trio perfeito para iniciar a refeição, na companhia de um bom vinho. Os chichos, os secretos, o lombinho assado e costela fazem jus ao velho ditado, pois são “de comer e chorar por mais”, assim como o cordeiro assado no forno, suculento e deleitoso e as sopas, que valem mesmo a pena. O rústico da apresentação, despretensiosa, mas muito cuidada, faz-nos sentir em casa das nossas avós, dos nossos pais, da nossa família. Dentro de quatro paredes, numa sala pequena e intimista, ou na sala maior e, de igual modo, confortável, ou na taberna típica.

Sobre as sugestões de comeres, estas continuam carta fora, com a chouriça e o salpicão de Vinhais, o pisperno e a orelha com alcaparras, o lombinho acompanhado de castanhas, o leitão de raça bísara, o cabrito de Montesinho em caldeirada, assado no forno e as costeletas de cabrito, bem como a caldeirada de cordeiro bragançano e as costeletas de cordeiro na brasa, a juntar à versão assado no forno, a vitela – aba grossa, bodião ou posta à D. Roberto –, a cabidela de pica no chão, o pato e o peru, para os apreciadores de carnes brancas ou a caça, com a perdiz, o faisão, o arroz de javali, o javali cozinhado com vinho do Porto e a lebre. É de considerar ainda o azedo com grelos e o butelo com cascas, duas especialidades da casa para petiscar ou acompanhar o repasto em tão acolhedor restaurante que, com as alterações no imobilismo, em 1995, as quais respeitam a traça e o traço do casario local, se passou a chamar de D. Roberto, em homenagem ao seu mentor.

Na vetusta e mui respeitada cozinha bragançana, o doce nunca amargou. Por isso, as receitas de açúcar de outros tempos perpetuam no livro de sabores do D. Roberto, como os milhos doces (ou papas de carolo, como é mais conhecido nas Beiras Alta e Baixa), que podem ser acompanhados por uma das muitas compotas Quinta das Covas, produto da casa, ou o gelado de marmelo que, tal como o nome, e parafraseando Fernando Pessoa, “primeiro estranha-se, depois entranha-se”. Ao queijo de ovelha junte uma das compotas e experimente o arroz doce.

Boa viagem e bom apetite! •

+ Restaurante D. Roberto
© Fotografia: João Pedro Rato

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