No próximo sábado, dia 31 de janeiro, pelas 22h00, o Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCVF), em Guimarães, receberá a peça “La vida es sonho”, clássico de Pedro Calderón de la Barca, expoente máximo do Século de Ouro espanhol.
A peça que agora nos irá ser apresentada resulta de um encontro entre vários mundos e de um encontro entre duas companhias: a de João Garcia Miguel e o Teatro Oficina. O que Pedro Calderón de la Barca propõe, mais que tudo, é uma peça de teatro que desenvolve uma ideia com muitas ramificações e uma potência de mudarmos o mundo e a nós mesmos. Tudo isto está contido no título que é um poema: “A vida é sonho”. Afirmação e interrogação sobrepõem-se nesta frase poema de forma a erigir um edifício filosófico, uma verdadeira doutrina existencial. “A questão do sonho é fundamental, como uma matéria importante para o que somos, para a vida, o dia a dia, para nos reinventarmos”, explica assim João Garcia Miguel. Uma obra que levanta as questões da época barroca com cenário e encenação de hoje.
“La vida es sonho” mistura no título o português e o castelhano numa alusão ibérica e europeísta, mas remete também a um tempo em que Portugal e Espanha eram um só. “Este A Vida é Sonho, escrito ainda por cima numa Espanha que então também incluía Portugal, parece-me um sonho muito ibérico acerca de um território encurralado numa ponta da Europa que atualmente já nem sabe de que língua é. É um desafio pegar nesta história do teatro que se tornou já literatura e ir lá reconhecer temas que têm muito a ver com a genealogia do meu teatro, como a questão da liberdade interior e da relação com o mundo e com os outros, que me apaixonam”, justifica o encenador.
Apesar dos séculos que nos separam da estreia desta peça, a sua atualidade persiste. É um clássico que levanta várias questões filosóficas, muito antes de Freud vir desconstruir as complexidades do entendimento humano. A história de um pai que tranca o seu filho, Segismundo, numa torre por temer a concretização de uma profecia que diz que ele morrerá aos pés do seu descendente. Um pai que, temendo o seu futuro, priva o filho da própria vida. Uma obra que confronta os instintos e a natureza humana. Questões como o medo, a solidão, a sobrevivência e a liberdade estão bem plasmados nos conflitos interiores das personagens. E depois o sonho, o sonho que salva, o sonho que faz viver, como afirma o próprio Segismundo “Só isto não tem fim, o sonhar e o viver (…). O viver é sonhar (…). Todo o homem que vive sonha o que é enquanto não desperta.”.
Dirigida e encenada por João Garcia Miguel, “La vida es sonho” é uma coprodução da Companhia João Garcia Miguel, do Teatro Oficina e do Teatro-Cine de Torres Vedras. A peça conta com a codireção e adaptação de texto de Marcos Barbosa, diretor artístico do Teatro Oficina. Uma peça que é um encontro entre vários mundos e é um encontro entre duas companhias, que trabalham de formas muito diferentes, no momento que se crê imperdível. A tomar nota na sua agenda, o dia 31 de janeiro, em Guimarães. Vamos ao teatro? •
+ CCVF
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