Luzes, Câmara… Música! Estão de volta os Dias da Música no Centro Cultural de Belém, evento a não perder com um programa de excelência para todas as idades (ver fim do artigo).
Os próximos dias, de 24 a 26 de abril, são dias de música sem parar numa festa que vai unir, como nunca, a música à sétima arte. Num documentário sobre a música no cinema, o imenso Hitchcock faz-nos ver a memorável cena do duche de “Psico” (1960), no momento em que Janet Leigh está prestes a ser assassinada. Primeiro, a cena tal como ela foi exibida nas salas de cinema. Depois, a cena sem a música de Bernard Herrmann. consegue imaginar? Escusado será dizer-lhe que a cena perde quase tudo, a carga dramática, a emoção, o suspense, perde o que a torna memorável e nos deixa arrepiados. Dizia sabiamente Hitchcock, “a música é o segredo!” Os próprios irmãos Lumière, conscientes disso, fizeram acompanhar as suas primeiras projeções por uma pequena orquestra, tal como viria a acontecer ao longo das primeiras décadas de exibição. Na transição do Cinema Mudo para o Cinema Sonoro, entre 1926 e 1927, a música adquire uma importância ainda maior, não tendo sido por acaso que o título escolhido para o primeiro filme sonoro tivesse sido “O Cantor de Jazz” (1927), a história de um músico negro que se apaixona pelo género nascido em Nova Orleães. Já reparou quantos momentos da sétima arte se tornam ímpares pela presença de música feita à medida para a cena?
Na sua primeira rendição à voz, quase uma década depois do seu primeiro filme, Charlie Chaplin optou por cantar em vez de dialogar. Ou não ficasse, mais rapidamente, na nossa memória auditiva um refrão que uma fala. Na realidade, mesmo na fase do cinema mudo, a maneira como o vagabundo mais famoso da Sétima Arte se movimentava ao longo das inúmeras peripécias em que se envolve, faz-nos perceber como em todos esses movimentos há toda uma coreografia encenada, reveladora da relação quase umbilical entre o cinema e a música. A música tornou-se num elemento indispensável em qualquer filme e não foi preciso esperar muito para se assistir ao nascimento de um género específico de música para filmes e para o qual contribuíram grandes compositores como Sergei Prokofiev, Dmitri Shostakovich, Arthur Honegger e Erich Wolfgang Korngold, ou ainda compositores que se tornaram em verdadeiros especialistas neste género absolutamente único como Miklós Rózsa, Nino Rota, Maurice Jarre, Bernard Herrmann, Michel Legrand, Ennio Morricone, John Barry, ou John Williams. Um contributo tão precioso, que muitos destes nomes acabaram por se transformar em parceiros indispensáveis de alguns dos maiores realizadores da história do cinema. Para além disso a ascensão do género Musical, coincidente com a época dourada de Hollywood, vem dar à Música um papel absolutamente central, comparável ao de uma grande produção musical apresentada em palco e para o qual concorreram compositores como George Gershwin, Cole Porter, Irving Berlin, Richard Rodgers, Stephen Sondheim e Leonard Bernstein, entre outros. Vá fixando todos os nomes que vamos escrevendo…
Para além da música escrita de propósito para o cinema – bandas sonoras -, houve também uma apropriação cada vez maior das obras intemporais da história da música, dando-lhes toda uma dimensão cénica, a ponto de muitas vezes sermos levados a esquecer o sentido original da obra. De Bach a Ligeti, passando por Handel, Vivaldi, Mozart, Beethoven, Schubert, Rossini, Liszt, Chopin, Wagner, Brahms, Tchaikovsky, Mahler, Richard Strauss ou Samuel Barber, todo um mundo de obras apropriadas pela sétima arte para bandas sonoras que ainda hoje estão na nossa memória. Totalmente natural numa cena de Woody Allen ouvirmos “Lago dos Cisnes” de Tchaikovsky, certo?
Neste imensurável mundo musical há também uma vontade cada vez maior por parte dos mais variados artistas em incluírem as suas músicas nas grandes produções cinematográficas. Phil Collins, Stevie Wonder, Smashing Pumpkins, Metallica ou The Cure são alguns exemplos recentes de artistas consagrados que aceitaram o desafio de construir canções para o cinema, nunca esquecendo o caso de James Bond, a saga que se distingue também pela canção título, alvo de cobiça dentro da indústria discográfica e quem se seguirá a Adele é já a perguntar que paira no ar.
É a consciência do enorme poder da música na sétima arte, que faz o CCB decide dedicar os Dias da Música em Belém de 2015 ao tema “Luzes, Câmara… Música!” ou seja, à Música no Cinema. Um pretexto para através da sétima arte se revisitar toda a grande história da música e igualmente para abrir ainda mais o leque já variado de ofertas musicais que caracterizam os Dias da Música, da música erudita ao Jazz, do Fado à música latino-americana, e até aos grandes temas que tendo sido apresentados no cinema, se tornaram em verdadeiros fenómenos de popularidade. Tudo com um enfoque especial para a relação entre a música e a imagem.
Concertos, oficinas, conferências e visualização de filmes, artistas de primeira linha do panorama nacional e internacional, jovens intérpretes e até compositores, vão levar-nos por uma viagem pela história do Cinema através da sua música, sempre no clima de festa que caracteriza os Dias da Música. O programa é vasto, muito diverso e vai encher a sua agenda com sonoridades de excelência. Para consultar o programa clique aqui e tome nota de vários momentos (não resista à tentação!).
Prepare-se, que este é um festival que o vai deixar encantando. Obrigatório ir, em Lisboa! •
+ Dias da Música CCB
© Imagem: Pormenor do cartaz de divulgação.
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