Há nova luz no universo jazz com um trio de peso – Pérez, Patitucci e Blade – que nos presenteiam com um trabalho obrigatório no jazz: “Children of the Light”.
Dedicado a Dr. Wayne Shorter (senhor de saxofone tenor), mentor na música e na vida destes músicos, que são “crentes convictos que a música pode trazer luz a este mundo e ajudar na restauração da humanidade“. Pérez, Patitucci e Blade, três quartos do reconhecido Wayne Shorter Quartet por mais de uma década, apresentam o alinhamento de 11 músicas que nos chegam sob o título de “Children of the Light”.
São 10 composições originais, pela pena dos três membros deste trio, e um take refrescado de “Dolores“, um clássico intemporal de Shorter. É um álbum num balanço perfeito de um equilíbrio onde os três músicos não perdem, em nenhum momento, a sua identidade distinta. Pérez conta, sobre o álbum, que “Quando dei a Wayne uma cópia do álbum, disse-lhe: ‘isto é para ti, Doctor. É o nosso presente. Isto é a nossa demonstração de amor, carinho e gratidão por todas as lições.’” E é, para quem ouve “Children of the Light” de fio a pavio, uma demonstração de savoir faire na composição aliada à improvisação de forma bem singular e de ser exímio na interpretação, numa linguagem tida por muitos, e bem, como cinematográfica. Algo perfeitamente compreendido e sentido quando nos desprendemos de análises racionais e nos deixamos envolver no viver da música que está a ser, insignemente, tocada por Pérez, Patitucci e Blade (apesar de Shorter ser um peso pesado no percurso deste trio, eles mantêm a bitola bem elevada). Aqui, conseguimos viajar num filme estruturado, carregado de emoção e cenários, criado por notas que podem naturalmente mudar o rumo de uma cena, a qualquer instante. Não tivesse Pérez dito que “Nós podemos ‘comprovisar’ (composição espontânea/ improvisada) com formas melódias e harmónicas densas, mas também podemos explorar a beleza de uma simples harmonia“.
Um trabalho musicalmente bem iluminado, destes filhos da luz – perdoem esta retórica, que acaba por ser inevitável – onde a dedicação é assumida, sem medos por Pérez – “E nós conseguimos ver a dedicação que cada um de nós coloca nas músicas que trazemos para aqui.” Falar-vos música a música é de todo escusado. Num trabalho de jazz instrumental é deixar a música tocar e criar, em cada imaginário, uma história com esta banda sonora bem esgalhada por quem tem na música a alma.
O trio é composto assim por Danilo Pérez (Yamaha CFX grand piano, Yamaha CP4 teclado, bateria panamense – pujador), John Patitucci (baixo acústico, baixo eléctrico Yamaha cinco cordas, baixo eléctrico Yamaha seis cordas) e Brian Blade (bateria, chekeré), sem esquecer Sachi Patitucci (violoncelo) como convidado na oitava música do alinhamento.
Um trabalho a ter de ouvir se tem no jazz, na boa música, uma forma de estar. •
+ Danilo Pérez
+ John Patitucci
+ Brian Blade
© Fotografia: Sara Quaresma Capitão.
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