A arte azulejar é o mote para a mostra do fotógrafo brasileiro que, pelas ruas da capital portuguesa, registou a falta de elementos ou os que passaram a fazer parte sem o devido direito.
“Nos meus caminhos de Lisboa percebi que existe uma medida-padrão que desafia constantemente as chegadas. Um após o outro, lado a lado, o coro alinhado de azulejos traz em si uma luminosa vaidade que só é interrompida, como embaraçoso soluço ou corda partida de violino, quando falta um elemento. Mais tarde ou mais cedo, mais ou menos a propósito, mais ou menos no tom, alguém inventa uma solução. A criatividade vem pela mão d’os Intrusos, cujo papel é sossegar novamente a vaidade, trazendo-lhe um novo brilho. Com o tempo, porém, as cores somem-se trazendo ao de cima os Vestígios, com o charme de uma vida cheia de histórias para contar a quem, como eu, quer ver.”
Eis a explicação de Ricardo Junqueira, fotógrafo que trocou a capital brasileira, Brasília, a sua terra natal, pela capital portuguesa, Lisboa, para a mostra de fotografia “À altura dos olhos”, patente no Convento dos Cardaes, desde o dia 22 de setembro.
“Quando temos olhos para o caminho, as ruas desafiam o destino.”
Sobre a exposição, o autor fala sobre a intenção deste trabalho “nunca foi de denúncia”, mas sim tornar visível o que acaba por ficar oculto no caminho, devido ao grande afã do dia a dia. Porém, a criatividade dos elementos aos quais chama de “intrusos” parece solucionar as falhas por vezes “um pouco despropositadas”. Quanto aos “vestígios, acho importante ver o que foi incorporado nos azulejos como história, que deixa marcas e cicatrizes mas, por outro lado, são os testemunhos de tudo aquilo que já passou ali”. E tudo nos faz olhar com a atenção redobrada à procura de tão criativos elementos – ou a falta deles.
“As ruas são feitas de gatos e de idades curiosas à janela, de estendais arcados e de portas interrompidas. De vasos com sede, do saco do pão pontual, da campainha que acorda o silêncio, da caixa do correio de escrita enferrujada.”
“À altura dos olhos” fica para ser visitada até ao dia 24 de outubro no n.º 123 da rua de O Século, em Lisboa, de segunda a sábado, das 14.30 às 17.30 horas, e cada fotografia está disponível para ser adquirida – 50 por cento do lucro reverte para as obras no Convento dos Cardaes.
Ricardo Junqueira começou a fotografar aos 14 anos e, aos 19, tornou-se fotógrafo profissional sob a égide da expressão artística e da capacidade de criação aliadas à técnica. Pelo roteiro das suas competências, conta com trabalhos em diversos estúdios com fotógrafos associados à publicidade em São Paulo passando, em 1992 de assistente para o disputado universo da fotografia profissional na cidade mais povoada do Brasil com a publicação de ensaios nas revistas Vogue, Elle, TRIP e Veja, bem como nos jornais Folha de São Paulo, Jornal do Brasil e Correio Brazileirense, sem perder o fio à meada da publicidade. Quatro anos depois foi a vez de Natal, no Rio Grande do Norte, para onde foi à conquista de novos espaços, e está inscrito na Abrafoto – Associação Brasileira de Fotógrafos de Publicidade desde 1999. Membro do conselho administrativo da Rede de Produtores Culturais da Fotografia Brasileira e da Associação dos Fotógrafos Profissionais – Portugal, Ricardo Junqueira vive e trabalha, desde maio de 2012, entre Lisboa e Natal.
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© Fotografia: Ricardo Junqueira
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