Imagine a sala de estar de uma casa. Sem morada fixa. Oito mulheres, sentadas nos sofás e em torno da mesa do repasto, falam sobre tão aprazível dádiva de Baco, usando-a como metáfora. Ao mesmo tempo, bebem a informação que lhe dá corpo, num ambiente descontraído e de partilha. E tudo permanece no segredo dos deuses.
vi.nho [ˈviɲu]
nome masculino
1. bebida alcoólica proveniente do sumo das uvas fermentado;
2. qualquer líquido alcoólico obtido por fermentação.
Quantos de nós já partilhamos segredos e aventuras na companhia de um bom vinho? Pois bem, a The Wine Conspiracy vai muito além disso, mas “o que acontece nos workshops fica nos workshops”. A garantia é dada por Isabel Saldanha, mãe, fotógrafa e escritora a tempo inteiro – e mentora deste projeto –, e Luana Cunha Ferreira, psicóloga clínica e da família, duas das cúmplices desta conspiração baseada em sessões exclusivas, inicialmente, para o público feminino – grupos de oito mulheres, ao todo.
O intuito consiste, por um lado, em desmistificar “este universo masculinizado” e carregado de formalismo e, em simultâneo, utilizá-lo como metáfora na construção do auto-conhecimento, ou seja, usar “a estrutura e a semântica do mundo do vinho como pessoa”, explica Isabel Saldanha, no sentido de encontrar respostas para as inquietudes que fazem parte da vivência de cada mulher.
Afinal, a The Wine Conspiracy surge na sequência da constante procura desse mesmo fim face aos textos que a mentora do do projeto escrevia – e continua a escrever – na sua página do facebook. Eis a razão pela qual entra Luana Cunha Ferreira, que confessa ter ficado “gulosa” quando Isabel Saldanha lhe falou acerca desta aliança entre o aprender mais sobre o vinho e o desenvolvimento pessoal de cada participante, sem enfoque no lado clínico, “mas não garantimos que não tenha efeitos terapêuticos”, adianta.
“Da vida para o vinho. Do vinho para a vida.”
Porém, faltava colmatar o hiato dos entendidos na matéria. Por isso, Isabel Saldanha e Luana Cunha Ferreira convidaram Manuel Moreira e Sérgio Antunes, da Wine Service 4 You, especialistas no vinho e na sua linguagem . “Nós não olhamos para o vinho como sendo masculino ou feminino”, diz-nos Manuel Moreira. “Falamos muito para consumidores, pessoas que gostam de vinho, sempre de uma forma descontraída, por isso a Isabel achou que fossemos os parceiros ideias da The Wine Conspiracy.
Confirma-se. Manuel Moreira, comunicador nato, fala do legado de Baco como se de um ser humano se tratasse. “O próprio ciclo do vinho é muito semelhante à vida de uma pessoa”, pois passa por várias fases – “há os jovens, depois há os vigorosos, maduros, e há os robustos cuja cadência de vida é mais longa.”
Esta é a base do jogo que desafia cada mulher a falar sobre si mesma, desde que nasceu até ao presente, numa tertúlia inspirada no inverso vinícola.
“O vinho constrói-se como as pessoas”
O início é marcada pelo terroir, pela “origem da construção de uma tipologia de vinho” e, por conseguinte, no contexto familiar, da educação e da formação de cada uma das presentes. Segue-se a casta, o associar a performance das características que formam a personalidade ao caráter – “uma uva é um indivíduo”, explica Isabel Saldanha; e o ambiente, o clima que influencia a vivência da planta, ou seja, as constâncias e as inconstâncias do dia a dia. Depois há a uva, a essência que, no fundo, é moldada pelo meio que nos rodeia e nos define; a vindima, que reflete o processo de desenvolvimento; e, por fim, o vinho, o resultado desta simbiose, da soma de fatores e castas que constroem uma pessoa, com estágio em barrica ou cuba de inox, por exemplo.
Contudo, cada participante partilha apenas se e quanto de sentir à vontade para o fazer. Basta dispor a rolha – uma das ferramentas que faz parte do jogo – ora com a parte verde virada para cima, ora com a parte a vermelho virada para cima. “Todos os exercícios são discretos”, afirma Manuel Moreira, e acontecem num ambiente intimista e, ao mesmo tempo, descontraído, de um apartamento secreto e diferente na cidade de Lisboa, e sem morada fixa. “Queremos que as pessoas se sintam em casa”, sublinha Isabel Saldanha, daí que o melhor é sentar-se e desfrutar de um encontro quase às cegas, com duração de seis horas – das 10 às 18 horas –, a fim de ter tempo para degustar o vinho de uma forma menos académica – porque “o objetivo é a busca do prazer” nas palavras da mentora do projeto –, assim como do repasto, que será feito para casar com o legado de Baco que estará à prova.
Ao todo, são duas a três provas de vinho de dois ou três produtores nacionais. Falamos de Paulo Laureano, Quinta do Monte d’Oiro ou Caminhos Cruzados – em suma, esta última apresenta-se como uma empresa familiar, fundada em 2011, no coração de Nelas, por Paulo Santos que, de um vinho feito para os amigos fez nascer um vinho para o mercado, e cujo futuro está muito nas mãos de Lígia Santos, uma das filhas que, há dois anos, deixou a advocacia para trás das costas, para abraçar, de corpo e alma, tão grande desafio –, os nomes que dinamizam o trabalho de Manuel Moreira e Sérgio Antunes, a dupla responsável pela explicação das características de cada casta e das sensações de cada região do mapa vinícola de Portugal, através de imagens e de palavras, entre outras atividades em grupo e individuais, sempre na companhia de um copo de vinho.
No fim, cada participante é convidada a construir o próprio vinho. Metaforicamente, claro!
Às interessadas informamos que o primeiro workshop acontece a 19 de dezembro, podendo inscrever-se através de thewineconspiracy@gmail.com, e os próximos estão agendados para 15 e 22 de janeiro, e 13 de fevereiro, sendo a divulgação das datas feita através da página do facebook da The Wine Conspiracy. Dois dias antes da conspiração, cada participante recebe um email com as coordenadas do local.
O valor de cada sessão é de 250 euros por pessoa (provas e almoço incluído).
Prontas para tão enigmática conspiração? •
+ The Wine Conspiracy
+ Wine Service 4 You
© Fotografia: Isabel Saldanha
Legenda da foto de entrada: Isabel Saldanha, Sérgio Antunes, Luana Cunha Ferreira e Manuel Moreira
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