Fotografia, instalações, video, ilustração reúnem Rio de Janeiro, Detroit, Eindhoven, Seul e Phnom Penh na enorme exposição Lille 3000 que mostra uma Renaissance repartida pelos espaços mais inusitados, por lugares históricos e em verdadeiros museus ao ar livre da cidade da maior região Nord-Pas de Calais.
Através das janelas da torre do arquiteto e urbanista francês Christian de Potzamparc – o “edifício-bota” –, contemplamos o passado de Lille, dominado pelo casario e pelas ruas sinuosas de outros tempos. Do outro lado, a cidade integra um perfil urbano futurista, o testemunho do renascimento da economia de Lille, após o declínio da indústria nos anos 1980’, graças ao programa EuroLille, concebido na década de 1990’, graças à construção do túnel do Canal da Mancha, inaugurado em maio de 1994 e que marcou o início de uma nova era para a cidade do norte de França que, deste modo, se tornou o ponto de convergência das linhas de comboio de alta velocidade (TGV) de Paris-Bruxelas-Londres, na Gare Lille-Europe, projetada pelo arquitecto e engenheiro civil francês Jean-Marie Duthilleul, com o viaduto batizado de Le Corbusier, assinado por Antoine Béal, Ludovic Blanckaert e François Deslaugiers, mesmo ao lado, e o centro comercial Titanic e a Aéronef (sala de espetáculos), do mui célebre arquiteto holandês Jean Nouvel, como vizinho, sem esquecer o casino, os hotéis – cuja lista de espera reserva boas surpresas –, edifícios de escritórios e de habitação novos, além do Zenith de Rem Koolhaas, o arquiteto francês que deu forma a este plano urbanístico, ao qual se segue o EuraLille 3000, o programa do século XXI, que prossegue a linha do primeiro e se encontra a dois passos do núcleo histórico de Lille.
No alinhamento da metamorfose urbana, falemos da Lille 3000, que surgiu em 2004, ano em que a cidade foi Capital Europeia da Cultura e à qual se seguiram três edições – Bombaysers de Lille, em 2006, Europe XXL, em 2009, e Fantastic, em 2012. Em 2015, chega a vez de Renaissance como título da mostra que engloba inumeráveis exposições que, desde 26 de setembro e até ao dia 17 de janeiro de 2016, está patente por toda a cidade.
Há samba ao ar livre
Estátuas gigantescas “desfilam” na rue Faidherbe
Damos, assim, início ao roteiro pelas artes, primeiro, na rue Faidherbe, com a Gare Lilie Flandres – a estação de comboios erigida em finais da primeira metade do século XIX e uma réplica arquitectónica da parisiense Gare du Nord – nas nossas costas. Frente a frente, estátuas gigantes e coloridas a preceito, concebidas por escolas de samba do Carnaval do Rio de Janeiro e alinhadas pela batuta do carnavalesco Fábio Ricardo, refletem a paixão dos brasileiros pelo Entrudo e, uma vez mais, o reforço da metamorfose urbana. Quem passa não fica indiferente a este “desfile” de totens que, no passado dia 26 de setembro, conciliou os ritmos do samba à dança e à folia que gira em torno de um corso que povoou as ruas de gente, desde a centenária estação de comboios Lille Flandres até Champs de Mars, contíguo à cidadela.
Maison Folie Wazemmes, a herança da estreia de Lille 3000
Continuemos o roteiro pela folia contagiante dos “Cariocas!”, o nome de uma das exposições integrantes da Renaissance que, na Maison Folie Wazemmes, legado da primeira edição da Lille 3000, acolhe 14 mostras de artistas a somar à de um coletivo de artistas, a OpaVivará!, fundada em 2005, no Rio de Janeiro, e ao Projeto Miolo (2006-2014) com uma exibição de “Imagens do Povo”, criado pelo Observatório de Favelas.
“Self Servie Pajé” (2011), o quiosque com ervas para o chá à disposição dos visitantes da mostra
Quando entramos no espaço expositivo, o ritmo carioca não deixa margem para dúvidas, nem mesmo o quiosque típico do calçadão do Rio de Janeiro, no qual todos os visitantes são convidados para tomar um chá. A variedade de ervas é inumerável e até há uma lista que explica para que serve cada uma.
Cerca de 2000 postais revestem quatro paredes de um pequeno recanto do edifício
O nome da instalação é “Self Servie Pajé” (2011) e a autoria é do OpaVivará!, o mesmo coletivo de artistas que apresenta o “Eu (amo) Camelô” (2009), uma composição feita a partir de cerca de dois mil postais que retratam os tradicionais vendedores ambulantes de Copacabana ao som dos pregões destes homens que “fazem pela vida” na emblemática praia da “cidade maravilhosa”.
As “Constelações”mutantes de João Modé
E enquanto degusta o chá visita as demais instalações, como as “Escultura redonda” (2015) e a “Disjunção espacial” (2013), ambas de Maria Lynch, passando pelas “Constelações”, de João Modé que, com os seus adesivos em vinil coloridos, deixou que os visitantes dessem azo à imaginação, criando uma instalação interativa saída de um processo criativo divertido e mutante, o qual pode ser contemplado à medida que se sobrem as escadas. Em traços gerais, destacamos as peças construídas de Jorge Barrão, artista residente da antiga Fábrica Behring, no Rio de Janeiro, como a “Terrina de Noé” (2012), inspirada no universo das faianças de Rafael Bordalo Pinheiro, a “Coluna osso” (2014) e o “peixe boca de xícara” (2010); a sátira de Daniel Lannes que, num auto-retrato a óleo, aparece vestido de noiva, e pelo quadro em que pinta o artista – também brasileiro e seu conterrâneo – Rafael Alonso com uma tolete feminina; e as imagens de Stephen Dean, artista francês, as quais recriam as cores e a alegria registadas no estádio do Maracanã, por ocasião da Copa do Mundo de 2002 ou as séries de fotografia de Tatiana Altberg, sob o título “Mão na lata” (2012), as quais registaram o ambiente hostil que se vive na favela Maré, bem como a instalação do arquiteto argentino Jorge Mario Jáuregui cujo nome é “Favela loft – Penetrável” (2015). E outro tanto para ver.
Viajemos até Detroit sem o risco de jet lag
Vista alargada para aGare Saint Sauveur
Uma vez que a hora do almoço marca encontro com o apetite, o melhor é percorrer as ruas a pé – ou de bicicleta, que pode ser alugada à hora ou ao dia, até porque a cidade é plana e a circulação automóvel denota civismo – até chegar ao próximo destino artístico da Lille 3000, a Gare de Saint Sauver reconvertida, em 2009, em áreas de lazer e expositoras, por ocasião da Europe XXL. O lugar é ideal para uma refeição leve – ou, talvez, não, tendo em conta que, por aqui, as doses são generosas e de fazer crescer água na boca, tendo em conta que, na carta, é feita a referência para a comida caseira, feita na hora.
Detroit pelo olhar do fotógrafo francês Jean-François Rouzier
Em seguida, vamos até Detroit, a exposição patente no interior da estação centenária. Outrora reconhecida pela prosperidade da indústria automóvel, a cidade dos Estados Unidos aqui representada mostra uma realidade contrária associada a uma economia absolutamente instável representada através de criações de mais de uma vintena de artistas.
Ao fundo, a boca do demónio, de John Dunivant, traduz-se no convite para entrar na exposição
Em jeito de boas vindas, o fotógrafo francês Jean-François Rouzier reveste uma parte das paredes com o Renaissance Center por meio de uma balada de imagens captadas pela sua lente convertidas no retratar de uma cidade utópica, com edifícios “multiplicados” em comprimento, televisores espalhados pelas ruas com notícias e videoclips que podem ser visto/ouvidos através dos QR Code que se encontram nestas paredes forradas por uma gigantesca Detroit. Sigamos pela boca do demónio feita de aço e madeira – de casas, museus e demais edifícios abandonados de Detroit –, por John Dunivant, que lhe deu o nome de “Abandon all hope” (2015), de forma a dar uma nova vida a estes materiais.
A “Babel” de Scott Hacking feita a partir de vetustos pedaços de madeira
Pelo caminho encontramos “Available” (2015), da artista irlandesa Catie Newell, que desenhou uma instalação alusiva às asas de uma ave, da Phoenix renascida das cinzas, como tantas e tantas vezes consecutivas renasceu Detroit. A peça é feita em vidro e simboliza a fragilidade de algo – ou alguém – que sobrevoa as antigas linhas de caminho de ferro, em aço, num contraste que comunga com o breu que se prolonga até à instalação de Scott Hacking, que construiu a sua “Babel” (2015), feita a partir de pedaços de madeira dando-lhes, deste modo – e à semelhança de John Dunivant – nova vida, a qual simboliza a mítica torre de Babel a contemplar através de uma janela de vidro rasgada na parede, por meio da qual se vê as plataformas de acesso aos ancestrais comboios que passavam em Lille.
Dois passos dados e estamos junto do “Dead wire” (2015) de Catie Newell, uma instalação feita com fios de cobre, que é despojado de lugares abandonados pelos locais, em Detroit. Mas há muito mais para ver de uma Detroit decadente e degradada exibida numa série de seis curtas-metragens projetadas em três telas, intitulada “Eyes wide open”, de Steve Feigenbaum, que mostra uma cidade de conflitos, economica e socialmente frágil.
Duas das quatro estátuas antropomórficas de A. J. Fosik
Mais à frente, uma casa erigida dentro daGare Saint Sauveur abre as portas para as quatro estátuas antropomórficas de madeira de A. J. Fosik, pois na mesma habitam mais do que uma criatura; assim como ao video “Katabasis” (2013), de Cooper Holoweski que, através do programa sketchup, renova o que é considerado lixo, transformando-o numa peça de arte; e ao trabalho de Tiff Massey, artista afro-americana de Detroit que exibe quatro peças de joalharia – enormes colares de metal que denotam quão orgulhosa é por ser uma mulher de descendência africana –, explora os padrões das peças de vestuário associadas às suas raízes, bem como o nariz, umas das características que a define na sociedade.
Martin Van Boxsom na mesa de mistura da discoteca, a mais pequena do mundo
Depois há uma instalação e fotografia, e uma discoteca, a mais pequena do mundo, de Fanny Bouyagui, que convida a mergulhar em Detroit, berço da música eletrónica, com imagens do primeiro Festival de Música Eletrónica de Detroit, em 2000, mostrar o que sabe na mesa de mistura e desfrutar do ritmo.
Com que fios se tece a comida?
Coleção de alta costura “Le goût des autres…” / outono-inverno 2007/2008 da casa parisiense On Aura Tout Vu
Laranja, limão, ananás, banana, coco, café, arroz, soja, cogumelos, vinho, cerveja, leite… Eis alguns dos ingredientes que tecem um desfile de peças de vestuário e acessórios, assinados por designers dos quatro cantos do mundo, os quais compõem a Textifood, a exposição patente no Museu de História Natural, de Lille – cidade onde, em tempos, a indústria têxtil foi o prato forte –, na rue de Bruxelles. Objetivo: Explicar de que forma os produtos alimentares são transformados em fios de linha de várias espessuras, com os quais são fabricados tecidos de múltiplas texturas.
A metamorfose dos alimentos explicada em cada vitrine
Além de explicar a diferença entre as fibras naturais (ananás, banana, embondeiro, morango, linho, lotus, ortiga, arroz e conchas) e as sintéticas (citrinos, algas, café, cana-de-açúcar, milho, soja, lúpulo, eucalipto, uva, leite, crustáceos e peixe), a mostra, que surge no alinhamento da Future Textile, da edição de 2006 da Lille 3000, e integrou a exibição do Pavilhão de França, por ocasião da Exposição Universal de 2015, em Milão, é complementada por um pequeno mostruário de tecidos catalogados com o nome da matéria-prima utilizada em cada um.
Do lotus foi feito, por exemplo, uma mala criada pela Dognin Paris em parceira com marca cambonjana Samatoa. Do lado dos sintéticos, destacamos a coleção Soya, feita a partir de soja e desenvolvida por Jules Clarisse, da Bélgica, e que marcam presença nos quartos dos hotéis Ibis Lille Centre Gare, de 11 a 13 de dezembro, ou seja, durante a semana dedicada ao Rio de Janeiro; Ibis Style – Lille Centre Beffroi, de 8 a 10 de janeiro (por ocaisão da semana dedicada a Phnom Penh; e no hall do Accord Ibis Grand Palais, até 16 de dezembro.
Sol Jacket composto por painéis fotovoltaicos e lâmpadas LED
Do café se fez o Cal Jacket – Protótipo C1 e o Sol Jacket – Protótipo S1, dois projetos da Vitruvian concebidos em com outras quatro entidades; e da cana-de-açúcar a T-shirt Ocealis, feito à base do extrato da polpa desta planta, desenvolvida pela francesa Damart.
A somar ao guarda-roupa, estão expostos artigos feitos a partir de linho, os quais despertam, de sobremaneira, os visitantes, como o capacete de ciclismo Apollo, da parisiense Égide; a raquete TR 990 Artengo, desenvolvida pela Decathlon; o violino desenvolvido pela École Polytechnique de Paristech; ou o Cocon BBDor, desenvolvido por Virgine Breton, BBDor. E a coleção de alta cosutra da casa parisiense On Aura Tout Vu que expõe quatro curiosas peças de vestuário no Museu de História Natural, de Lille, no âmbito da Textifood.
Para Seul, depressa!
O universo kitsch do artista sul-coreano Choi Jong Hwa
No Tripostal, edifício contíguo à Gare Lilie Flandres, na avenue Willy Brandt, convertido num coletor de exposições na primeira edição da Lille 3000 – e com uma cafetaria/restaurante ideal para um repasto rápido antes de avançar para o périplo artístico que se segue –, o artista sul-coreano Choi Jong Hwa apresenta o seu universo kitsch por meio de uma multicolor exposição inspirada nos mercados da sua cidade natal.
A lei da mecânica protagonizada pelas criaturas de Choe U-Ram
Entramos na capital da Coreia do Sul com a exposição “Séoul, vite, vite!” passando, depois, para o mundo fantástico de Choe U-Ram, o qual está representado ora por criaturas bizarras movidas através das leis da mecânica, ora por um carrossel que gira com uma velocidade atroz, ora por uma bola gigantesca composta por um inimaginável número de faróis.
A utopia e catótica “Civitas Solis II”, de Lee Bul
Dos cerca de 30 artistas, enaltecemos o trabalho de Lee Bul, que figura na lista da arte contemporânea da Coreia do Sul, desta vez com “Civitas Solis II”, a instalação inspirada no texto homónimo do filósofo e peta renascentista Tommaso Campanella e formada por espelhos, exaltando a utopia e, ao mesmo tempo, a ruína apocalíptica da sociedade, e dentro da qual erigiu a “Via negativa”, um labirinto espelhado que termina num pequeno espaço repleto de lâmpadas, alusivo à obra “Subserviência e castigo”, do filósofo francês Michel Foucault. Uma obra que contrasta com a de Soyoung Chung que, por meio de pedaços de madeira cheios de farpas, retratam a violência com que ambas as Coreias foram separadas.
Grégoire Guillemin inspirou-se na pintura flamenga para mostrar os seus super-heróis
Já no último piso, os visitantes são desafiados a mudar de vida e, por conseguinte, escolher um de dois caminhos: Laranja ou violeta? O primeiro é povoado pelo imaginários dos super-heróis de Grégoire Guillemin, os quais são retratados em quadros inspirados na pintura flamenga dos séculos XV ao XVII ou metidos em sacos de plástico por Simon Monk.
A metamorfose “desenhada” pelas mãos de Julien Salaud
Porém, a exposição não se cinge à componente artística, uma vez que as disciplinas associadas ao processo científico, à física, à natureza, à alimentação saudável, ao ambiente, às novas tecnologias… através de uma panóplia de obras concebidas no sentido de despertar a atenção e exercitar a mente dos visitantes de todas as idades que, todos os dias, entram no Tripostal, para contemplar cada obra de arte. Uma a uma. Como a obra de arte do artista francês Julien Salaud que, com agulhas, linha e luz, teceu uma composição metamórfica surpreendente.
No coração da cidade velha
A fachada do jornal La Voix du Nord
A manhã começa com uma visita ao núcelo histórico de Lille, onde proliferam as caves ancestrais revestidas a tijolo de argila no casario antigo, como na loja de roupa para casa que visitámos, sendo a estrutura mantida – respeitada – pelos proprietários. Os mesmos tijolos são contemplados na primeira capela católica da cidade, a Chapelle Rihour, datada do século XV, de estilo gótico, e cuja construção começou na época de Filipe III, “O Bom”, que mantém também o pavimento de madeira de então.
Exemplo das caves que perduram nas casas da cidade velha
Fala-se da influência da Flandres, aquando do domínio espanhol e, por conseguinte, do edifício da Bolsa de Valores, do século XVII, na Grand Place, onde está La Colonne de la Déese, esculpida em memória da vitória de Lille sob a incursão austríaca, em finais do século XVIII, bem como o edifício em betão do jornal La Voix du Nord, no cimo do qual foram colocadas as estátuas representativas de Artois (à esquerda), Flandres (no meio) e Hainaut (à direita), e não deixe de anotar a rue de la Clef, que separa a cidade velha do modernismo do início do século XX da Boulevard Carnot.
A imponência da Câmara do Comércio e da Indústria
A poucos passas dali está a Câmara do Comércio e da Indústria, um edifício elegante do início do século XVIII, que ostenta a mais bela torre, com 76 metros de altura, uma vez mais, de influência de Flandres, e o símbolo do poderio comercial do norte da Europa à época.
A Phnom Pehn renascida
Os sonhos desvanecidos do artista coambojano Kimchean Koy
Antes de chegarmos à capital do Camboja, Phnom Pehn, contemplamos a instalação artística de rua de Kimchean Koy, que transporta o lixo produzido pelos habitantes da sua cidade adiando, assim, a concretização dos seus sonhos.
“A respiração da flor”, de Choi Jeong Hwa, a contracenar com o edifício da Idade Média
No museu do L’Hospice Comtesse, datado da primeira metade do século XIII, na rue de la Monnaie, a mostra alusiva aPhnom Pehn continua com uma composição artística que abrange a fotografia, a escultura, as performances, o vídeo, a pintura refletem o estado de alma dos artistas contemporâneos em consequência do regime liderado pelo Kmer Vermelho, liderado por Pol Pot, entre os anos de 1975 e 1979, na sala dos doentes. Suspensa no teto está a poética instalação de Anida Yoeu Ali que, entre a dança e a performance – exibidos nas enormes fotografias expostas neste espaço –, mostra o vestido como reflexo da liberdade do seu país.
Fotografia da série documentada da autoria do fotojornalista Lina Pha
Por sua vez, o fotojornalista do Jornal Phnom Pehn Lina Pha captou o retrato de homens, mulheres e crianças que habitam na floresta da província de Ratanakiri, uma região rica fauna e flora no nordeste do Camboja, e que compõem uma série de fotos em que a fita métrica representa consiste no elemento que dificulta as suas ações no dia a dia, devido à desapropriação e ao abate intensivo das árvores nas suas terras.
O “Budha”inacabado de Sopheap Pich na capela do L’Hospice Comtesse
Na capela do L’Hospice Comtesse, cujo teto tem gravados os nomes dos mecenas de Lill, está suspensa a escultura de Sopheap Pich, feita a partir de vime e arame, a qual representa um corpo de Buda inacabado. O autor apresenta uma interessante trilogia tridimensional representada também por uma escultura em vime, intitulada “O duelo” (2008) e uma outra chamada “Terra estéril” (2013) concebida a partir de bambu, vime, arame, pano, plástico, cera de abelha, resina e carvão vegetal; e todas contracenam com a pintura renascentista deste espaço religioso.
As fotografias encenadas de Mak Remissa
Falemos ainda do trabalho de Mak Remissa, artista cambojano que, ao regressar ao passado, faz um trabalho de fotografia que merece ser analisado ao pormenor, uma vez que todos os elementos cénicos que ornamentam cada imagem são feitos a partir de papel.
Prato do dia: Comfort food
A decoração vintage e o repasto colocam o Le Barbue d’Anvers no roteiro gastronómico da cidade
Depois do restaurante da Gare Sant Sauver, onde prevalece a comida caseira para todos os gostos e as sobremesas de comer e chorar por mais, eis que chega a hora do repasto da noite no Le Barbue d’Anvers. O restaurante do n.º1 da rue Saint Etiènne decorado ao estilo vintage num edifício secular acolhedor e com um serviço que prima pela simpatia.
O mui típico potjevleesch dunkerquois é uma das escolhas a ter em conta no restaurante
Na carta desfilam os pratos tradicionais da cozinha da região do norte de França, onde a influência predomina a flamenga. é o caso do potjevleesch dunkerquois – ou pequeno pote de carne, em flamengo –, típico da cidade de Dunkirk, com coelho, frango, vitela e porco cujo molho dentro de um recipiente de vidro com o a geleia formada pelo molho frio e servido com batatas fritas. O mesmo acompanhamento triunfou ao lado da carbonade flamande, receita de raiz flamenga com sabor agridoce – pois é-lhe adicionado açúcar –, no qual a carne e a cebola são guisadas em cerveja e temperadas com tomilho, louro e mostarda.
Para o fim ficaram as três bolas de sorbet de cerveja belga – loira, âmbar e branca – servidas a preceito numa taça ornamentada com a laranja confitada e o típico rolo de bolacha, mas há ainda o crème brûlée, que ditou as preferências em dose dupla.
Sobre a bebida, para refrescar a mente numa noite animada pelo ambiente que se faz sentir na sala do restaurante, nada melhor que uma cerveja da vizinha Bélgica, pois a tradição cervejeira já se estendeu, em outros tempos, à cidade de Lille, e o kir, um aperitivo composto por licor de cassis e, de acordo com a receita original, um vinho borgonha branco feito a partir da casta Aligoté – ou kir royal, em que o vinho é substituído por champanhe.
A Josephine, as cassetes e… os amendois
A famosa Josephine no lounge do restaurante do chef holandês Piet Bergman
A noite seguinte acabou, por sua vez, na direção oposta. Estamos no restaurante pop-up do holandês Piet Bergman, na Maison Folie Moulin, no n.º 49 da rue d’Arras, de portas até 17 de janeiro – a primeira parte foi protagonizada pelo chef português André Amaro, radicado na Holanda.
O CD é substituído pela cassete e tudo nos reporta para o passado
A decoração kitsch, com peças compradas em segunda mão, espelha a criatividade do chef que nos recebe com os amendoins dispostos nas mesas ao lado das cascas – sim, leu bem –, cenário que nos reporta para as tabernas antigas, onde não falta um pequeno lounge com uma poltrona e o rosto da Josephine, a vaca, exposta ao estilo de um troféu, para contemplar ao som das cassetes de música cuja inusitada melodia de tempos idos – mas não menos conhecidos – sai das colunas de um gravador da década de 1980’.
Senhores e senhoras: Piet Bergman!
Com uma cozinha caseira, que reconforta a alma e o corpo nos dias frios que teimam em ficar, Piet Bergman diz-nos o que vamos jantar, mas não sem antes recomendar uma de três cervejas russas.
A galinha, os cogumelos e as batatas fritas
Depois do brinde, eis que chega a sopa de ervilhas, típica da cozinha holandesa, triturada grosseiramente e acompanhada por um copo de tomate rayo triturado, uma combinação de sabores que conquista o coração, dizemos nós, na noite gélida de outono, seguida de uma suculenta perna de galinha com alecrim, paprika e pimenta, e acompanhada por cogumelos, batatas fritas e salada.
Breve trecho cénico que caracteriza o restaurante pop-up
No fim, e para acompanhar a conversa com o chef criativo, houve uma smoothie de banana, uma limonada e uma tangerina, pois Piet Bergman aprecia o natural, as coisas tal e qual como elas são.
Além da comida cozinhada no momento, contexto em que a palavra “caseira” se encaixa na perfeição, o chef criativo holandês diz gostar “de criar um espaço onde, quem entra, se sinta em casa” e, ao mesmo tempo, surpreendidas, não só com o que veem, mas também com o que ouvem, com “música o mais estranha possível”, confirma.
O restaurante pop-up está de portas abertas às sextas, das 18 às 22 horas, aos sábados, ao almoço e jantar, e aos domingos, à hora do almoço.
Na Fab Lab, o edifício contíguo, está patente, por sua vez, a exposição Eindhoven, com uma loja temporária onde criativos expõem as suas obras e workshops destinados a alunos e crianças a partir dos 12 anos.
Agora que já leu tudo, há ou não boas razões para visitar as exposições que compõem a Lille 3000, de “portas abertas” até 17 de janeiro de 2016, conhecer a velha cidade francesa e explorar a metamorfose urbana arquitetónica e artística de Lille que, nos anos 1980’ recebeu o primeiro metropolitano automático?
Outro bom motivo? O voo direto da easyJet entre Lisboa e Lille acontece às terças, quintas e aos sábados, com a partida da capital portuguesa às 7.20 horas e chegada às 11 a Lille; e partida da cidade do norte de França marcada para as 11.30 com chegada a Lisboa às 12.10 horas (as horas são locais, sendo que em Lille é 1 hora a mais do que em Portugal continental).
Boa viagem! •
+ Lille Office de Tourisme et des Congrès /+ Lille 3000 / + Atout France
© Fotografia: João Pedro Rato
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