O chef, o editor, o artesão e as facas deles

Renovar a cutelaria portuguesa foi o mote para um trio de bons rapazes pegar na vetusta navalha usada no campo, com o objetivo de dar-lhe uma imagem mais polida e, ao mesmo tempo, transformá-la em facas de mesa, para levar pelo mundo fora, à qual deram o nome de Rocks Knives.

Amigos de longa data, Nuno Mendes, chef do Chiltern FireHouse e proprietário da Taberna do Mercado, ambos em Londres, e Paulo Amado, editor de duas publicações e organizador de eventos que agitam o universo da gastronomia em Portugal há cerca de duas dezenas de anos, tiveram a primeira conversa no seguimento do “trabalho de linha do Nuno em ligar-se aos produtos portugueses e estávamos sempre a dizer ‘um dia temos de fazer alguma coisa juntos’”, declarou Paulo Amado. E bastou uma conversa numa madrugada de um dia do mês de novembro de 2014, aquando do Chef Cozinheiro do Ano de 2014, para dar início a “uma brincadeira entre dois amigos que, de repente, ficou séria de mais”, continuou.  “Lembro-me que, já mesmo nessa noite, agarramos em papéis e começamos a fazer uns desenhos”, recorda Nuno Mendes.

O passo seguinte foi procurar um cuteleiro português dentro de portas. Desta feita, entrou em cena Carlos Norte, com um prestigiante legado de mestres na cutelaria nacional, neste projeto – que conta também com Sérgio Santos, responsável pelas bainhas, e o Carlos Fonseca, arquiteto de profissão, a última aquisição na equipa com a função de desenhar as novas facas – que incide em “resgatar e dar visibilidade ao que é português e à tradição portuguesa”, afirmou o chef português. Ou seja, “o hábito do homem do campo andar com o canivete perdeu-se e nós queremos, com estas facas, trazer essa tradição para a mesa”, explicou.

No alinhamento do projeto, a ideia passou do papel para as mãos de Carlos Norte, que deu corpo às facas, mas “há uma parte mais freak show, que aconteceu com a primeira encomenda, que Carlos Norte gostou tanto que não a quis dar”, contou Paulo Amado. Por isso, “fizemos outra diferente. A partir daí começamos com uma linha que, partindo da tradição portuguesa, pudemos chegar a um objeto” que atravessa três fases. A primeira consiste na transformação dos canivetes Caneças, Bandido e Capa Grilos em facas adaptadas à restauração, “respeitando a lógica de faca de mesa” – além destas há uma faca indicada para queijos; a segunda baseia-se na faca que se adapta às necessidade de um chef de cozinha, a qual já ganhou forma, embora estejam previstas alterações; a terceira permanece no segredo dos deuses, pois o protótipo está a ser trabalhado, mas Paulo Amado adiantou que “vamos fazer algo que, neste momento, acreditamos que não existe no mundo”.

Sobre o nome Rocks Knives, associado à assinatura Since the Beginning, é uma alusão ao primeiro objeto cortante, o sílex e, ao mesmo tempo – podemos dizê-lo – às origens, pois “trazer o canivete à mesa estamos a atualizar uma tradição que se está a perder” e “são este tipo de atualizações que são importantes, para que as tradições evoluam e permaneçam pelo país fora”, reforçou o chef português, mas também além fronteiras.

No que aos materiais diz respeito, a lâmina das facas de mesa são em aço inox sandevic e as das facas de chef são em aço damasco. Por sua vez, os cabos podem ser de madeira de oliveira, sobre a qual Carlos Norte enfatizou o facto de se tratar de um material “que é nacional”, madeira de ébano angolano com 30 anos de secagem, madeira de pau violeta ou kingwood e chifre bovino. E qualquer um deles exige cuidados específicos na hora de lavar. Por conseguinte, as facas com cabos de madeira e chifre devem ser lavadas à mão; o latão renova-se facilmente com qualquer limpa metais, pois é natural que vá escurecendo com o tempo; e os cabos de madeira devem ser esfregados, com regularidade, com um óleo natural – de preferência, de camélia – ou cera, para que fique protegido da humidade.

Aos interessados informamos que as facas de mesa – cuja apresentação decorreu n’O Apartamento, em Lisboa, com o chef João Rodrigues, do Feitoria, restaurante do Altis Belém Hotel & Spa, em Lisboa, a testar as peças, na preparação de duas mãos cheias de iguarias – podem ser adquiridas online no site da Rocks Knives, encontrando-se também disponíveis para compra na Taberna Portuguesa, de Nuno Mendes, em East London, “a minha casa adotiva”, como lhe chamou, para a qual o chef português se mudou de malas e bagagens há cerca de 11 anos e onde prevê ter o novo Viajante no final de 2016 – relembramos que o prestigiado Viajante, inserido no Hotel Town Hall, na zona leste de Londres, conquistou a primeira estrela Michelin oito meses depois de abrir as portas.

Os preços destas peças de cutelaria podem sofrer alterações, mas o valor das facas de mesa é, em média, € 40. •

+ Rocks Knives

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