Quando a música é cinema e é independente, então é IndieMusic no IndieLisboa. “Música, juventude, resistência, drogas, alucinações, doença, caos, morte. O IndieMusic desenha, assim, o retrato de alguns dos mais prodigiosos talentos musicais“, um retrato obrigatório que pode ser visto nos documentários a serem apresentados.
O caos selvagem dos The Parkinsons, com vivências que os levaram tão velozmente até à ribalta e que tão rapidamente os devoraram por dentro, chegar-vos-à em imagens e sons inéditos reunidos no documentário perfeito de Caroline Richards “A Long Way to Nowhere” – e já falado aqui, na Mutante, realizadora que estará presente na sessão. A banda punk de Coimbra actuará, depois, da na mesma noite, com uma sessão no âmbito do IndiebyNight, na Taberna das Almas.

© “Janis: Little Girl Blue”
Saindo de Coimbra, falemos de quem oscila, nas suas composições como na vida, entre a ordem e o caos: Jaco Pastorius, um dos mais notáveis baixistas do seu tempo, um produto acabado da loucura jazz dos anos 1970 e que é objecto de retrato em “Jaco”. Outro vulto da música do século XX, Leon Russell, multifacetado músico folk que colaborou com várias bandas, é o tema principal do filme póstumo de Les Blank “A Poem is a Naked Person”. Seguindo para “Emocean”, um documentário musical pautado pela música da banda pop psicadélica Fenster, que conta aqui, em modo home made, quão alucinada foi a aventura por trás da gravação do seu terceiro álbum de originais.
Voltando-nos para pop electrónica portuguesa, esta é olhada – e ouvida – de perto em “Tecla Tónica”, o mais recente filme de Eduardo Morais. Este filme alicerça-se em intervenções preciosas de alguns nomes reconhecidos do panorama musical português, tais como DJ Vibe, Vítor Rua ou José Cid. A sessão de cinema é seguida da festa de encerramento do festival, que regressa à garagem da Culturgest e no programa, esgalhado por Eduardo Morais,já estão alinhados: Ghost Hunt, W.A.S.T.E. Club, Nunchuck DJ set e Lena Huracán VJ set.
Tempo para dois talentos desaparecidos precocemente por causa das drogas: Janis Joplin e Mark Linkous. A primeira revela-se, além-túmulo, num conjunto de cartas que enviou a pais, amigos e colaboradores. Em “Janis: Little Girl Blue”, as palavras secretas de Joplin são lidas por Cat Power sobre imagens da “rainha do rock and roll”. O segundo, vocalista da banda Sparklehorse, levou uma vida “bela e triste” de luta permanente contra a depressão e a toxicodependência. “The Sad & Beautiful World of Sparklehorse” é um filme feito por quem conviveu de perto com Linkous até 06 de março de 2010, dia em que este decidiu terminar com a sua vida. Os realizadores Bobby Dass e Alex Crowton estarão presentes na sessão.

© “A Long Way to Nowhere”
“Miss Sharon Shones” é o documentário mais recente da oscarizada Barbara Kopple (Harlan County, U.S.A. e American Dream). Trata-se da história inspiradora da vocalista dos The Dap-Kings, que luta contra um cancro no pâncreas enquanto procura usufruir do sucesso que lhe escapou ao longo da vida. “Sonita” resiste não à doença do corpo, mas à doença da sociedade em que vive. Ela é uma imigrante afegã de 18 anos a viver ilegalmente no Irão. Sonita transforma os obstáculos da conservadora sociedade iraniana num motivo para inspirados temas rap que desafiam a ordem patriarcal em vigor. Outra história de resistência contra a intolerância e a injustiça: “Mali Blues”, de Lutz Gregor. Este filme reúne o melhor da cultura maliana para uma viagem pela estrada fora por um país que corre o risco de ver a suas formas de expressão amordaçadas pela lei da Xaria.

© “The Sad and Beautiful World of Sparklehorse”
É a vida, e tudo o que ela ainda tem para oferecer – que parece ser muito -, que pesa sobre os ombros dos três putos de “Breaking a Monster” – são os Unlocking the Truth, banda que em 2014 abriu concertos de Guns N’ Roses, Motorhead e Queens of the Stone Age. Quase a terminar este programa de luxo, uma escola de veteranos: “Journal d’hérésie”; o documentarista francês Benoît Bourreau faz o retrato de três artistas que partilham experiências numa mesma residência artística. Ao jeito de One+One de Jean-Luc Godard, em que o cineasta suíço documentava os Rolling Stones em pleno acto criador, Bourreau revela o backstage artístico do “poeta sonoro” francês Anne-James Chaton, do guitarrista da banda holandesa The Ex Andy Moor e do fundador dos Sonic Youth Thurston Moore. Uma irresistível concentração de talento. O realizador estará presente na sessão. Por fim, “The Ecstasy of Wilko Johnson”, de Julien Temple, “ele está demasiado ocupado a viver para pensar em morrer”. Elton John fala sobre o seu amigo, a estrela rock Wilko Johnson, diagnosticado em 2013 com um cancro no pâncreas. Julien Temple faz o retrato de um ser humano incansável que combate a doença em cada arranhão na sua mítica guitarra eléctrica, a mesma que produziu a sonoridade emblemática da banda pub rock Dr. Feelgood. Invocando excertos de filmes de Buñuel, Bergman ou Tarkovsky, Temple encena o confronto de Wilko com a sua própria morte, sem encontrar nele sinal de autocomiseração.

© “Mali Blues”
Eis o alinhamento de um IndieMusic a não perder:
20/04, 21h45 e 25/04, 23h15 – “Journal d’hérésie”, no Cinema São Jorge e no Cinema Ideal, respectivamente.
21/04, 21h30 e 30/04, 23h45 – “The Sad & Beautiful World of Sparklehorse”, Cinema São Jorge.
22/04, 21h15 – “A Long Way to Nowhere”, Cinema São Jorge. Seguido de concerto, nas catacumbas do Liceu Camões, pelas 23h00.
22/04, 19h00 – “Jaco”, Culturgest.
22/04, 21h30 – “Janis: Little Girl Blue, Cinema São Jorge.
22/04, 23h45 e 25/04, 15h00 – “The Ecstasy of Wilko Johnson”, Cinema São Jorge.
23/04, 18h00 – “Sonita”, Cinema São Jorge.
23/04, 23h45 e 30/04, 19h15 – “Emocean”, Cinema São Jorge.
24/04, 16h00 – “Breaking a Monster”, Cinema São Jorge.
24/04, 23h45 e 01/04, 19h00 – “A Poem is a Naked Person”, Cinema São Jorge.
26/04, 21h45 – “Miss Sharon Shones”, Cinema São Jorge.
30/04, 18h00 – “Mali Blues”, Culturgest.
30/04, 21h30 – “Tecla Tónica”, Culturgest. Seguido de Festa de Encerramento do Festival , pelas 00h00, na Garagem da Culturgest.
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© Imagem de destaque: Leon Russell and Harrod Blank, in NY, for “A Poem Is A Naked Person”.
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