Uma viagem pela cozinha portuguesa / De Castro Gaia

Entrar no Espaço Porto Cruz, em Vila Nova de Gaia, é como invadir um presente futurista em um lugar pertencente a um passado longínquo, onde a experiência culmina com o casar do vinho com a gastronomia assinada pelo chef Miguel Castro e Silva.

Quando a noite cai, o interior do edifício secular é contrastado por um azul psicadélico

Após uma lacónica e alusiva apresentação sobre os vinhos Porto Cruz, os Dalva e da Quinta do Ventozelo – a aquisição do grupo Gran Cruz, que pertence aos franceses do La Martiniquaise, registada em 2015 –, no Centro Interactivo da Porto Cruz à beira do rio Douro, onde três figuras femininas vestidas de negro da autoria dos estilistas portugueses Ana Salazar, Luís Buchinho e Katty Xiomara em nada passam despercebidas, é chegada a altura de subir até ao terraço do edifício da Porto Cruz datado do século XIX, o epicentro dos apreciadores mais jovens de cocktails com Vinho Porto. O propósito é “descodificar, descomplicar o Vinho do Porto”, sublinhou Jorge Dias, presidente do concelho de administração da Gran Cruz. E um miradouro provido de uma vista de 360° privilegiada para casario que preguiça na colina da cidade do Porto encimada pela vetusta Torre dos Clérigos e, ao mesmo tempo, para o pôr do sol contemplado por quem partilha conversas e emoções em um ambiente descontraído.

O interior do De Castro Gaia com cozinha de assinatura

Porém, o De Castro Gaia é o mote da conversa. Falamos do restaurante com a assinatura de Miguel Castro e Silva, o chef do De Castro Flores e do Less, em Lisboa, e cuja escolha deveu-se à amizade de tempos incontáveis, quase, com Jorge Dias. “O Miguel [Castro e Silva] é um velho amigo de há muitos anos e como ainda não me conformei com a ida dele para Lisboa, trouxe-o para Gaia”, mas também à forma como chef portuense cozinha, pois segundo o nosso anfitrião “o Miguel faz boa comida, comida portuguesa, que se possa partilhar”, daí o primeiro registo ter sido concebido para uma cafetaria, com ênfase na finger food, “mas, ‘já que aqui estamos’, como dizia o Miguel, fez com que continuássemos uma viagem à mesa com a cozinha portuguesa”, explicou o presidente do concelho de administração da Gran Cruz.

Sarda fumada com escabeche de cebola e Vinho do Porto, e rúcula

Já à mesa do De Castro Gaia, o azeite extra virgem da Quinta de Ventozelo, feito a partir de azeitonas de oliveiras centenárias, faz as honras da casa a par com a pasta de tomate com alcaparra que apetece comer como se não houvesse amanhã.

Pataniscas do cachaço do bacalhau

Uma vez que Vila Nova de Gaia é a cidade eleita para o repousar do Vinho do Porto, o começa do repasto é marcado por um Vinho do Porto Dalva Tawny 10 anos com a assinatura de Miguel Castro e Silva. Um início arrojado para acompanhar a muito apreciada sarda fumada com escabeche de cebola e Vinho do Porto, e rúcula.

Trouxas de queijo das beiras e mel

Por sua vez, as pataniscas do cachaço do bacalhau, primadas por uma fritura no ponto, as trouxas de queijo das beiras e mel, e as bolas de morcela das beiras com maçã e cebola, um ícone do chef, tiveram a companhia de um Quinta do Ventozelo Viosinho 2015, um vinho DOC (Denominação de Origem Controlada) do Douro que casou bem com a noite de estio que se fazia sentir à beira rio.

Cogumelos salteados com cebola e Vinho do Porto

O passo seguinte foi um tinto para acompanhar um prato recente do chef: Cogumelos salteados com cebola e Vinho do Porto. Uma entrada de truz no que concerne aos sabores eleita para estar ao lado de um Quinta do Ventozelo tinto de 2012, feito a partir das castas Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz.

Bochechas de vitela com arroz cremoso de cogumelos e enchidos

Nesta viagem de norte a sul de Portugal chegou à mesa o melhor prato da noite: As suculentas bochechas de vitela com arroz cremoso de cogumelos e enchidos – sem pretensões de ser um risotto – numa harmonização de truz com um surpreendente Quinta do Ventozelo Syrah 2015.

O icónico bolo de chocolate do chef Miguel Castro e Silva

Chegada o doce momento, a escolha recaiu no emblemático bolo de chocolate do chef Miguel Castro e Silva, o qual continua a maravilhar o palato e, desta vez, teve a companhia de um Porto Cruz LBV 2001…

Tarte de requeijão com gelado

… e na tarte de requeijão “de comer e chorar por mais” com gelado, a qual contou com um Porto Cruz Tawny 10 anos como companhia. A cereja no topo do bolo, ou melhor, deste repasto elaborado pelo chef Pedro Guedes, gaiense de gema de 38 anos, que trocou a educação física pela cozinha. Assim, já depois de concluir o curso no Lenôtre, em Paris, trabalha com o chef Miguel Castro e Silva há quatro anos num espaço onde ambos “falamos a mesma linguagem”, a qual passa por, e acima de tudo, “valorizar os produtos portugueses”.

A ir. Bom apetite! •

+ Espaço Porto Cruz
© Fotografia: João Pedro Rato

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