A mudança começou a desenhar-se em 2015 quando o casal Alberto Weisser e Gabriela Mascioli se apaixonaram pelo Alentejo e adquirem a propriedade com cerca de 800 hectares, localizada em Igrejinha, freguesia de Arraiolos.
O anfitrião e produtor Alberto Weisser e o enólogo Luís Patrão
Alberto Weisser, um cidadão do mundo que trabalhou em diversas multinacionais ligadas à indústria agro-alimentar, mudou-se de malas e bagagens para o Alentejo. Apesar de residir na Herdade, mantém ligações profissionais que o levam de seis em seis semanas a Nova York ou Singapura. O seu objetivo é elevar ao nível da excelência, apostando unicamente na qualidade e na diferenciação dos vinhos de Coelheiros e, com isso, a imagem dos vinhos portugueses no estrangeiro. “Os produtores portugueses não podem ter medo de valorizar o produto que é de excelência e devem vendê-lo com o seu valor justo”, afirma confiante antes de darmos início ao almoço onde iríamos provar os néctares com terroir da herdade dentro.
Para dar início a este desígnio, Alberto Weisser ouviu opiniões de especialistas e amigos, alguns produtores de vinho português que foi conhecendo ao longo dos anos e criou uma equipa comandada por Luís Patrão, bairradino e conhecido como um grande defensor das castas portuguesas, a quem encarregou a responsabilidade da viticultura e da enologia. Uma das primeiras decisões que tomaram foi ousada: arrancar algumas das castas internacionais, como por exemplo a Chardonnay, que foi uma das imagens de marca da Herdade num passado recente.
António Saramago, que continua ligado ao projecto, fora o co-responsável pela introdução destas castas internacionais na herdade – uma inovação para a época – enquanto enólogo consultor de Joaquim e Leonilde Silveira, antigos proprietários da Herdade dos Coelheiros, além de ter sido o autor do primeiro Tapada de Coelheiros tinto.
Ecossistema: O meio das vinhas
Já sem cachos, a vinha exibe ainda a folhagem verde fora de época
Mas comecemos pela origem, o local onde os vinhos começam a ser produzidos. Enquanto circulamos pela herdade, encontramos as diferentes parcelas de vinha que ocupam atualmente pouco mais de metade dos 50 hectares previstos para esta cultura. Paramos. Enquanto observamos as videiras já sem uvas (este ano a vindima foi mais cedo e rápida – apenas dez dias em vez de um mês – devido ao tempo quente e seco que se fez – e faz – sentir este ano em Portugal e a essa precocidade obrigou), mas ainda com bastante folhagem e poucos tons amarelo-castanhos do que seria de esperar nesta altura do ano, Alberto fala-nos da preservação da diversidade para a manutenção do equilíbrio do ecossistema. Além da vinha “temos, na herdade, um pomar de nogueiras, 40 hectares plantados nos anos 80 e 90 do século passado, dois hectares de pinheiros mansos onde produzem pinhões, olival, bosque e uma vasta área de montado onde pastam livremente ovelhas, veados, gamos, patos, coelhos e lebres”.
Da paisagem faz ainda parte uma barragem com capacidade para 500 milhões de litros de água, um dos bens mais escassos e fundamentais na região. “A barragem permite-nos ser autónomos, mas temos de estar atentos” prossegue apontando para o lago com o nível de água bastante baixo. Essa preocupação tem levado a várias ações para reduzir ao mínimo essencial o seu consumo nas diversas fases de produção de cada cultura. A vinha, onde predominam os solos de origem granítica, tem uma altitude média de 300 metros e está dividida em sete pequenas parcelas, três de sequeiro – a Vinha da Sobreira, a da Ribeira e a do Taco (nome dado à bucha que se comia antes da caça: “dar um taco na fome”). Nas restantes, de irrigação, estão a diminuir a utilização de água, tendo como objetivo o seu uso apenas em S.O.S.. Atualmente, a área em produção biológica soma cinco hectares, à qual se juntarão brevemente os restantes onde está a decorrer o processo de conversão.
Da vinha para entre paredes
A produção dos vinhos desceu das 400 mil para as 1oo mil garrafas em nome da qualidade
Na adega, a primeira decisão a tomar foi reduzir a quantidade de garrafas produzidas, passando de cerca de 400 mil para pouco mais de 100 mil, selecionando apenas o que é de qualidade. A simplificação da gama foi acompanhada por uma nova identidade visual inspirada na arte do bordado de Arraiolos, criada pelo designer portuense Eduardo Aires.
Como resultado, o novo portfólio está agora organizado em três referências: Coelheiros branco e tinto, Tapada de Coelheiros branco e tinto, e Coelheiros Vinha do Taco. Os preços oscilam entre os €10, €30 e €45 respetivamente, posicionando este trio vínico num segmento alto.
Vinho a vinho
Coelheiros
O Coelheiros branco é um monocasta de Arinto, uma casta proveniente da Vinha da Sobreira e que se tem mostrado bem adaptada aos solos graníticos da herdade. As uvas são colhidas manualmente para preservar a frescura e intensidade aromática e sua acidez torna-o um vinho gastronómico e versátil, revelando um bom potencial de envelhecimento; 70 por cento estagiou oito meses em depósitos de inox e 30% em barricas de carvalho francês de 500 litros com recurso a bâtonnage (agitação do vinho feito com o auxílio de uma vara) durante seis meses.
O Coelheiros tinto, oriundo das parcelas do Taco e da Sobreira, vinhas não irrigadas, revela o carácter vigoroso do Aragonêz e, ao mesmo tempo, a textura sedosa e a densidade de boca proporcionadas pelo Alicante Bouschet, duas castas típicas do Alentejo. O estágio decorreu durante 12 meses em barricas usadas de 225 litros.
Tapada de Coelheiros
O Tapada de Coelheiros branco é feito a partir das castas Arinto e Roupeiro provenientes da Sobreira. A uva é colhida no período da manhã e encaminhada para a câmara de frio para manter a frescura e preservar os aromas naturais das castas. Fermenta em depósitos de inox e estagia durante oito meses em barricas novas de carvalho francês de 500 litros com recurso a bâtonnage.
O Tapada de Coelheiros tinto é um vinho histórico produzido pela primeira vez em 1991. Foi desde o início feito com a predominância de Cabernet Sauvignon e assim se mantém até aos dias de hoje, tornando-se num dos ícones da casta em Portugal. Tem origem na Vinha Leonilde plantada em 1982 em homenagem a D. Leonilde Silveira, pela sua dedicação à terra, à herdade e à região. A experiência de várias vindimas e uma melhor compreensão dos solos permitiram a introdução de cerca de 30 por cento de Alicante Bouschet. Cada parcela é fermentada em separado de forma a evidenciar a sua singularidade, seguindo-se o estágio que se divide entre 18 meses em barrica de carvalho francês e 18 meses em garrafa.
Coelheiros Vinha do Taco, uma vinha com história
O Colheiros Vinha do Taco é, por sua vez, produzido a partir da casta Petit Verdot, apenas em anos de excecional qualidade e em quantidades limitadas. A vinha que lhe dá nome está situada na nascente junto da barragem, foi plantada em 2001, e tem a particularidade de ter sido aqui que a família Silveira apresentou aos seus amigos os primeiros vinhos de Coelheiros. A fermentação ocorre em depósito de inox, à qual se segue um estágio de 18 meses em barricas de carvalho francês. O vinho permanece ainda em garrafa por mais cinco anos antes de entrar no mercado.
Coelheiros Chardonnay, a despedida
Por fim, a última e limitada edição de um vinho icónico de Coelheiros que perdurará na história. Um 100 por cento Chardonnay que evidencia a expressão da casta no terroir alentejano, revelando elevado potencial de envelhecimento. Uma edição de garrafeira. Tem origem na vinha Leonilde, uma vinha de sequeiro, o que permite uma elevada concentração das uvas, e solo, com presença de quartzo. A uva é colhida no período da manhã e encaminhada para a câmara de frio, para manter a frescura e preservar aromas naturais. O mosto é fermentado em barricas de 500 litros e, após fermentação, é feita a bâtonnage duas vezes por semana durante seis meses, com o propósito de evidenciar a untuosidade, característica do Chardonnay.
Estes vinhos vão estar no mercado a partir deste mês de outubro, mas nada como conhecer os rostos e a natureza que está por trás de cada um cuja ambição consiste em escrever um novo capítulo nos vinhos portugueses.
A Herdade de Coelheiros tem uma loja onde os vinhos podem ser provados e comprados, aos quais se somam os vinhos antigos, mas só mediante marcação através do (+351) 266 470 000 ou de info@coelheiros.pt. As portas da loja estão abertas das 9 às 17 horas.