GUIdance 2018

Mesmo à beira do Natal, anunciamos um programa que faz parte da sua agenda cultural, de cada ano novo, a norte. Guimarães prepara-se para receber a 8.ª edição do GUIdance – Festival Internacional de Dança Contemporânea, convocando nomes incontornáveis como Wayne McGregor e Peeping Tom a abrir e a encerrar, respetivamente, o festival. Rui Horta – coreógrafo em destaque nesta edição – apresenta duas criações, uma em estreia absoluta e outra em reposição. Em 2018, o GUIdance reunirá a europa da dança na cidade berço, com Vera Mantero, Joana von Mayer Trindade & Hugo Calhim Cristovão, Patricia Apergi, Euripides Laskaridis, Marlene Monteiro Freitas e Andreas Merk a completarem o cartaz. Imperdível.

A nova edição do “GUIdance terá corpos novos a dançar, comandados por um olhar ancestral de práticas acumuladas que passaram de geração em geração. E também corpos mais velhos que se continuam a desafiar em palco à procura do que ainda não encontraram, ou seja, do novo. Mas esta viagem não é aleatória. Ela encontra base na pesquisa e começa pela matéria acumulada no próprio corpo dos criadores. Assente no elenco apresentado, a mostra desenhada para esta edição lança-nos uma interrogação. Como é que a história que passa pelos corpos que dançam pode ajudar a criar futuros?

A abrir a 8ª edição do GUIdance, logo no dia 01 de fevereiro, um dos grandes coreógrafos contemporâneos, Wayne McGregor, que nunca cessa de explorar limites, e decidiu mergulhar fundo na combinação do seu ADN para criar “Autobiography”, espetáculo em que parte de uma busca à mais notável tecnologia existente, o seu corpo, para lançar possibilidades que apontem à construção de futuros. Neste regresso ao Centro Cultural Vila Flor (CCVF) – depois da apresentação de “Atomos” em 2016 – o multipremiado coreógrafo abre o GUIdance com aquela que tem sido considerada a sua obra mais íntima e ousada, fervorosamente aclamada pela imprensa internacional e que assinala, em Guimarães, a sua estreia em solo nacional. Reserve a data…

Dado o arranque com bitola elevada, “o festival arranca para uma viagem tão completa e híbrida quanto desejável, comandada por todas as possibilidades que o jogo da criação nos permite“. Vera Mantero em “O Limpo e o Sujo”, no dia 02 de fevereiro, com corpos “educados e deseducados” atravessados por informação acumulada procuram um novo lugar. É no mesmo sentido que Joana von Mayer Trindade & Hugo Calhim Cristóvão trabalham em “Da insaciabilidade no caso ou ao mesmo tempo um milagre”, partindo de Almada Negreiros e da sua velocidade em despertar cérebros no corpo, peça que se apresenta a 03 de fevereiro.


© Autobiography, Andrej Uspenski

A primeira semana de espetáculos encerra no dia 04 com Rui Horta a “ler do individual para o coletivo, ao orientar uma massa de corpos como que dizendo que a partir da matéria identificada se pode gerar um resultado desconhecido, arriscando um futuro que exceda a nossa perspetiva habitual“. “Humanário” é o título da nova criação de Rui Horta, cuja estreia absoluta acontece no GUIdance. Uma obra criada em conjunto com o maestro Tiago Simães que integra 40 intérpretes amadores, onde o traço de união é a capacidade vocal.

A segunda parte do GUIdance tem regresso marcado a 07 de fevereiro com a reposição de “Vespa”, peça que Rui Horta estreou no CCVF, em abril de 2016, aquando da celebração dos seus 60 anos de vida. “Um solo, interpretado pelo próprio. Uma peça sobre uma cabeça a explodir, sobre o que nem sequer falhámos porque nos coibimos de cumprir. Após 30 anos de ausência dos palcos, o coreógrafo e bailarino português – em destaque nesta edição – dança existência fora, projetando num plano infinito a ideia do eterno começo, criando futuros.

E nesse lugar imaginário vive a peça de Patricia Apergi, “Cementary”, uma espécie de fuga à distopia continuada por Marlene Monteiro Freitas em “Jaguar”, onde o futuro já é uma realidade. “Cementary”, peça que esteve em residência artística no Centro de Criação de Candoso (Guimarães), apresenta-se em estreia nacional no palco do CCVF a 08 de fevereiro e marca a segunda visita de Patricia Apergi à cidade berço e ao GUIdance, depois da presença no festival em 2015 com “Planites”. Neste espetáculo, a coreógrafa grega continua a indagar sobre um tópico central na sua obra, o labirinto urbano, focando-se agora na cidade como lugar de caos. O “Jaguar”, de Marlene Monteiro Freitas com a colaboração de Andreas Merk, irrompe palco dentro no dia seguinte. Um cruzamento de inspirações que brotam muitas vezes sem controlo e que fazem da arte o que ela deve ser: uma força incontrolável, que não se fecha em rótulos ou denominações, mas que voa livre na cabeça de quem cria.

Quase no fim, no dia 10 de fevereiro, encontramos “Titans” de Euripides Laskaridis com todo o poder que o lugar da ficção nos reserva. Nesta peça, que chega ao GUIdance “como um lembrete da frágil condição humana, evocando a importância de todos os fracassos, Euripides Laskaridis trabalha em estreita colaboração com o figurinista Angelos Mendis e cria um cenário apocalíptico para explorar a perseverança da humanidade diante do desconhecido. O desespero perante o fim da razão, um mundo desolador que evoca uma era em que os titãs governavam o universo.”

Esta viagem na dança termina a 11 de fevereiro para, “no final, voltarmos àquilo que a dança em si (sempre) transporta: a relação entre o ser humano. Depois de ‘Moeder’ (Mãe) – espetáculo apresentado no 12º aniversário do CCVF –, a companhia belga Peeping Tom visita novamente o CCVF, desta vez para encerrar o GUIdance com ‘Vader’ (Pai), a primeira parte desta trilogia em torno da família. ‘Vader’ reflete sobre a decadência, o vazio, a indiferença e a fúria a que estamos sujeitos quando a vitalidade nos abandona, socorrendo-se, ainda assim, de algum humor. Um retrato de um lugar que nos remete para a solidão no fim da vida, obrigando a uma introspeção sobre um filme que já (quase) acabou.


© Cementary, Tassos Vrettos

A juntar aos espectáculos de dança terá as habituais e indispensáveis atividades paralelas para aproximar público, artistas, escolas e pensadores. Destas fazem parte as masterclasses com as companhias Wayne McGregor e Peeping Tom, conversas pós-espetáculo com os artistas, debates moderados pela jornalista Cláudia Galhós e sessões que levarão Joana von Mayer Trindade e Rui Horta às escolas do concelho de Guimarães. O meeting point do festival, após os espetáculos, tem lugar marcado no Café Concerto do CCVF. Para melhor organizar a sua agenda, uma suma da edição de 2018:

01/02, 21h30 – Autobiography [ESTREIA NACIONAL], Company Wayne McGregor. CCVF, Grande Auditório.
02/02, 21h30 – O Limpo e o Sujo, Vera Mantero. CCVF, Pequeno Auditório.
03/02, 18h30 – Da insaciabilidade no caso ou ao mesmo tempo um milagre, Joana von Mayer Trindade & Hugo Calhim Cristovão. CIAJG, Black Box.
03/02, 21h30 – Humanário [ESTREIA ABSOLUTA], Rui Horta. CCVF, Grande Auditório.
07/02, 21h30 – Vespa [REPOSIÇÃO], Rui Horta. CIAJG, Black Box.
08/02, 21h30 – Cementary [ESTREIA NACIONAL], Aerites Dance Company / Patricia Apergi. CCVF, Grande Auditório.
09/02, 21h30 – Jaguar, Marlene Monteiro Freitas com a colaboração de Andreas Merk. CCVF, Pequeno Auditório.
10/02, 18h30 – Titans [ESTREIA NACIONAL], Euripides Laskaridis. CIAJG, Black Box.
10/02, 21h30 – Vader, Peeping Tom. CCVF, Grande Auditório.

A tomar nota. A ir. •

CCVF
© Fotografia: “Titans”, Elina Giounanli.

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