Espumantes, brancos, rosados, tintos e licorosos voltam a dar cor à capital e mostram todo o potencial de uma região cada vez com mais notoriedade.
Organizada por um grupo de cinco enófilos e aficionados pela região – Ema Martins, Nuno Gonçalo Monteiro, Ricardo Oliveira, Helena Pereira Muelle e Alberto Muelle Goldstein –, o Bairrada@LX apresentou-se, pela primeira vez, em 2015, em Telheiras.
A 2.ª edição, agendada para 10 de março deste ano é organizada pela Eira na Beira, entidade entretanto criada por Ema Martins e Nuno Gonçalo Monteiro, e muda-se para uma zona mais popular da cidade de Lisboa: o Mercado da Ribeira. “Comodidade e conforto foram palavras de ordem para nós! Somos acérrimos frequentadores deste tipo de eventos e sabíamos o que queríamos e o que tínhamos que evitar. São vinte os projectos vínicos presentes e é fundamental que os visitantes circulem à vontade, possam conversar com os produtores, conhecendo as suas histórias, e provar os seus vinhos sem constrangimentos”, afirma Ema Martins, porta-voz da Eira na Beira.
À semelhança da edição anterior haverá, a cada hora, as “Bairrada Talks”, que se definem como apresentações de cinco a dez minutos, ótimas para quebrar o gelo e dar continuidade a este evento que se quer descontraído. “Queremos promover a interação e a proximidade entre consumidor e produtor, dando lugar a conversas únicas. Estão previstas pequenas apresentações pelos produtores/enólogos, que se poderão debruçar sobre vários tópicos como por exemplo, a região, um determinado vinho, uma casta, um ano de colheita, etc.”, sublinha a organização.
E onde há vinho não deverá faltar comida. Portanto, para acompanhar os preciosos néctares da Bairrada haverá o famoso leitão à Bairrada, entre outras iguarias preparadas pelo restaurante da Mealhada, Rei dos Leitões.
A 2.ª edição do Bairrada@LX decorrerá das 15 às 20 horas, no Estúdio Time Out, localizado no primeiro andar do Mercado da Ribeira. Os bilhetes estarão à venda no local e dia do evento pelo valor de 10 euros por pessoa. O preço inclui um copo para a prova, o qual deverá ser devolvido à saída, e a degustação livre dos vinhos. Já a comida deverá ser adquirida à parte.
Lista de produtores presentes:
Adega de Cantanhede; Ataíde Semedo; Campolargo; Carvalheira Wine Creators; Casa de Saima; Casa do Canto; Caves Messias; Caves do Solar de São Domingos; Caves São João; Filipa Pato; Kompassus; Luís Pato; LusoVini; Quinta das Bágeiras; Quinta de Baixo; Quinta do Ortigão; Rama & Selas; Sidónio de Sousa; Vadio e VPuro. A Rota da Bairrada também estará representada no Bairrada@LX.
Se ainda não está convencido de que não deve perder esta mostra de vinhos de uma região singular e que tanto ainda tem para descobrir, falamos de cinco novos vinhos apresentados ao mercado no início deste ano.
Pedro Soares, há seis anos presidente da Comissão Vitivinícola da Bairrada, tem sido um dos grandes impulsionadores da moderna imagem dos vinhos da região da Bairrada. A Comissão Vitivinícola da Bairrada apoia o Bairrada@LX / ©Gonçalo Villaverde
Novos Bairrada Clássico e Baga Bairrada
Entre antiguidades e raridades haverá muitas novidades. Entre estas estarão, certamente, os dois novos “Clássicos”: o Messias Bairrada Clássico branco 2012 das Caves Messias, e o Aliança Baga by Quinta da Dôna Bairrada Clássico tinto 2011, o primeiro vinho da Aliança Vinhos de Portugal a integrar esta categoria; e os três novos espumantes “Baga Bairrada”: o Casa do Canto Baga Bairrada Bruto branco 2015 da Casa do Canto, em Ancas, Anadia, o Ortigão Baga Bairrada Blanc de Noirs branco 2015 da Quinta do Ortigão, em Anadia e o Pinho Leão Baga Bairrada Bruto branco 2016 da Casa Agrícola António Santos Lopes, Lda., em Vila Nova de Monsarros, Anadia.
Bairrada Clássico e Baga Bairrada são duas categorias criadas para mostrar a expressão superior da identidade, com o objetivo de preservar a autenticidade dos velhos clássicos da região.
Apesar de ter sido criada em 2003, no período de reconversão das vinhas e de dificuldades de adaptação das castas tradicionais às novas exigências da viticultura, para proteger as castas locais quando a região abriu as portas à entrada de castas estrangeiras, a Bairrada Clássico é uma categoria que, durante muitos anos, foi mal “trabalhada e comunicada”. Em 14 anos foram criados somente três clássicos.
Atualmente, há uma grande motivação para os produtores criarem novos clássicos cuja produção deve respeitar rigorosas regras: os tintos têm de ser submetidos um estágio mínimo de três anos, dos quais um é feito em garrafa, e os produtores são, neste caso, obrigados a utilizar, pelo menos, 50% da casta rainha da região, a Baga; nos brancos, a lista abarca mais castas (como a Cerceal, Bical, Arinto, Maria Gomes), e devem estagiar, no mínimo, um ano, seis dos quais em garrafa.
A Baga Bairrada é mais recente. Foi criada em 2015 sob o lema “Uma Região. Uma Casta. Um Espumante!”. A finalidade consiste em reunir uma lista de espumantes feitos a partir da casta bandeira da região, a Baga, para preservar a identidade da Bairrada e elevar os espumantes desta região. Para fomentar este produto diferenciador foram estabelecidas regras de produção e identidade gráfica próprias, de modo a promover melhor a região e os seus vinhos em Portugal e no mundo. Aquando do arranque deste projeto havia cinco referências. Hoje são 23 de 20 produtores.
Quatro das cinco novas referências foram apresentados, no início deste ano, na Taberna Fina de André Magalhães, que aproveitou o momento para estrear as harmonizações vínicas do novo restaurante da cidade.
Pescada, nabo, cenoura e coentro, no prato, e Messias Bairrada Clássico branco 2012 (€17), no copo
Messias Bairrada Clássico branco 2012 é a referência da Caves Messias que dá resposta e fomenta a categoria Bairrada Clássico. Na adega, as uvas utilizadas foram integralmente prensadas e submetidas a uma fermentação espontânea em barricas de carvalho francês. A afinação em garrafa decorreu após um ano de estágio. O resultado é um branco com uma riqueza e uma concentração das variedades locais Arinto e Cerceal que, cultivadas em solos calcários, dão corpo a um vinho de aparência límpida de amarelo-ouro. No nariz enaltecem as notas evoluídas e complexos do barro molhado e da cera de abelha. No sabor revela grande estrutura e uma juventude surpreendente, com um final longo de prova com nuances minerais, características que deixam prever a garantia de potencial de envelhecimento.
É de salientar a coragem do produtor em apresentar um branco da colheita de 2012 em 2018. Será este um sinal de mudança dos tempos?
Veado, dióspiro e cenoura roxa & Aliança Baga by Quinta da Dôna Bairrada Clássico 2011 (€20), prato com o qual foi também servido o Marquês de Marialva Grande Reserva 2011.
O Aliança Baga já existia, mas sem a menção “Quinta da Dôna” no rótulo nem com o certificado “Bairrada Clássico”. Portanto, o Aliança Baga by Quinta da Dôna Bairrada Clássico tinto 2011, feito a partir exclusivamente da casta Baga – plantada em solos argilo-calcários da Quinta da Dôna, propriedade adquirida em 2003 –, é o primeiro vinho da Aliança Vinhos de Portugal a integrar a categoria Bairrada Clássico. A vinificação tradicional pré-fermentativa a frio e a demorada cuvaison possibilitou a criação de um vinho de cor rubi intensa. O aroma e sabor frutado com nuances de frutos vermelhos intensos e chocolate preto. Na boca revela-se poderoso, mas elegante, equilibrado, mas muito encorpado, e com um final de boca persistente, características associadas ao estágio de 14 meses em barricas novas de carvalho francês e russo que antecedeu o engarrafamento. Para acompanhar com pratos de carnes vermelhas, caça e queijos.
Se aos pratos principais coube serem acompanhados pelos novos “Clássicos” a honra de abertura e de fecho do repasto pertenceu aos espumantes, a categoria vínica mais conhecida da Bairrada, de onde sai 60% da produção nacional.
Casa do Canto Baga Bairrada Bruto branco 2015 (€7,70) e três snacks criados por André Magalhães que, segundo explicou, tinham como objetivo demonstrar a versatilidade do espumante: um ceviche de peixe-galo para o fazer jogar com alguma acidez, um pani puri com fígado de raia, que trazia o desafio da gordura, e um embrulho de espinafres e sésamo, para os sabores terrosos
De aspecto cristalino, bolha fina abundante e cordão de espuma disperso, o Casa do Canto Baga Bairrada Bruto branco 2015 100% Baga, cuja enologia esteve a cargo da Total Wines, apresenta uma cor pálida e acobreada. As notas de frutos secos e pétalas de flores torna-o intenso e complexo no aroma. Produzido a partir do Método Clássico, no sabor converte-se numa mousse suave a cremosa, revela-se frutado e elegante, elevando a frescura e a persistência no final de boca. É um espumante a servir como aperitivo e o par ideal para pratos à base de carne, peixe ou marisco, e pasta.
Sobremesa de abóbora, caramelo e baunilha e a companhia de Ortigão Baga Bairrada Blanc de Noirs branco 2015 (€7)
Um espumante cristalino com bolha fina e persistente, de cor alambreada e aroma a frutos vermelhos, com predominância da cereja e do cássis. No sabor é frutado e fresco. O final é equilibrado e apresenta um excelente volume de boca. À mesa, este espumante desenhado por Osvaldo Amado é para servir com pratos típicos da região, mariscos e sobremesas.
Dos novos Baga Bairrada também faz parte o Pinho Leão Baga Bairrada Bruto branco 2016 (€8), que não esteve à prova no almoço. É um espumante límpido de cor cítrica e a bolha é fina e persistente. Denota boa acidez, vibrante e de efervescência fina, com sensações de fruta no aroma. Na boca sobressaem a frescura, a firmeza e a cremosidade, com bolha bem dissolvida no vinho. Excelente como aperitivo e para acompanhar pratos de peixe, marisco, carnes brancas, saladas e, como não poderia deixar de ser, o leitão assado à Bairrada.
Boas provas! •