E com 2018 a dias de chegar ao fim, a Casa da Esquina, em Coimbra, completa três anos bem preenchidos de exposições no Marquise. Uma bela varanda que convertida em montra foi casa para mais de 15 ilustradores e ilustradoras de diferentes nacionalidades.
Para celebrar este aniversário, e da melhor maneira festejar o final de 2018 e entrar em 2019, a Casa da Esquina lançou um repto a Joana Corker, natural de Coimbra, desafiando-a a ocupar tão acolhedora Marquise. Em resposta a irresistível desafio, a autora – cujo nome deve reconhecer dos Birds are Indie – decidiu celebrar a sua cidade e levar à Casa da Esquina a exposição “Baixagrafia”, uma viagem pela história gráfica da Baixa de Coimbra. Assim, no próximo dia 29 (sábado) o Marquise diz adeus a 2018, a preceito, com a inauguração desta imperdível exposição, pelas 18h00. Já tem programa para sábado à tarde?
E agora, para nos alongarmos mais sobre a “Baixagrafia”, nada melhor que as palavras da própria Joana Corker:
“Quando a Casa da Esquina me convidou a fazer uma Marquise, pensei ‘Caramba, e agora?… O que vou expor?’. Isto porque, no meu trabalho diário, não sou uma ilustradora, mas sim uma designer que utiliza a ilustração como uma das suas ferramentas de trabalho. À procura de um tema, lembrei-me de um post de Facebook que escrevi quando soube que a loja Hortícola de Coimbra ia fechar. Eu não sou muito opinativa nas redes sociais, mas a reacção que esse desabafo gerou fez-me perceber que haveria mais pessoas com a mesma preocupação. Este é um excerto:
‘Quem se lembra da mítica loja Eduardo Neves com os seus funcionários sempre prontos para contar piadas ou perguntar adivinhas, cercados por móveis de madeira recheados de frascos, frasquinhos, pregos, materiais de construção, artigos de casa e afins? Quando fecha este tipo de loja, não fecha apenas um negócio, perdem-se histórias e amizades.’
Como contraponto a este cenário, onde a memória tem um papel crucial, é também verdade que a urbanidade da Baixa, enquanto organismo vivo, está sempre em mutação. Para melhor ou para pior? O tempo o dirá… E lá, para ver, estarão as pessoas que, ao longo dos anos, têm mantido os seus negócios abertos ou arriscado abrir novos, naquela zona da cidade. A somar a isso, parece haver no ar um sentimento de que a Baixa é um local com enorme potencial onde, além do comércio e dos serviços, se podem incentivar actividades culturais que fortaleçam a ideia de comunidade e de usufruto de um espaço público que é de todos.
Voltando ao desafio da Casa da Esquina, pensei então na riqueza da história gráfica que a Baixa de Coimbra foi perdendo e, consigo, a sua identidade. De forma instintiva, numa espécie de arqueologia visual, comecei a reunir material gráfico diverso, como reclames, sacos e recibos, baseando-me em objectos que tinha em casa e em fotografias antigas. Para executar as peças expostas e, através delas, propor algum tipo de reflexão, utilizei maioritariamente lápis de cor aguareláveis, o que, pela sua minúcia, me obrigava a dedicar bastante tempo a cada ilustração. Com esta técnica tentei apropriar-me, de forma propositadamente lenta, do trabalho artístico que, ao longo dos anos, me foi preenchendo a memória visual e, igualmente importante, a memória emocional, a cada deslocação minha, à Baixa.
Nota biográfica
Coimbra é a minha cidade, a cidade onde nasci, cresci e aprendi a ser designer de comunicação na ARCA-EUAC, há 15 anos. Trabalhei em gabinetes de design, arquitectura e até departamentos de marketing mas, nos últimos anos, tenho-me focado mais no meu trabalho como freelancer e nas lides de baterista/organista/cantora.”
A exposição estará patente, na Casa da Esquina em Coimbra, até ao dia 22 de Fevereiro de 2019. Não deixe de passar por lá e fazer uma viagem na história gráfica de uma Baixa de Coimbra, recordando imagens idas que temos guardadas na memória. •