“A Essência” de um país à mesa, por Louis Anjos

Os bivalves da Ria de Alvor, o salmonete de Sagres, a presa de porco alentejano e o ananás dos Açores representam, apenas, o resumo do novo menu de degustação do restaurante Bon Bon, no Carvoeiro.
Os amendoins são, a par das nozes, o ponto de partida para um repasto que, do início ao fim, não deixa de surpreender

A estreia de Louis Anjos no Bon Bon (1 estrela Michelin), localizado no Barlavento algarvio, aconteceu a 14 de Fevereiro de 2018. Um ano depois, eis que é apresentado o primeiro menu de degustação primaveril inteiramente assinado pelo chef, assistido por Ricardo Luz e pelo chefe de pastelaria, Raúl Cachola, ao qual foi atribuído o nome “A Essência”.

O início é marcado pelos interessantes snacks recriados na cozinha do restaurante. Há falsas nozes e falsas alcagoitas – nome atribuído, pelos algarvios, aos amendoins. As primeiras são feitas com manteiga de cacau recheadas com queijo fresco de Loulé e compota de abóbora; as segundas contêm, por sua vez, recheio de mousse de galinha.

Louis Anjos dignificou as partes menos nobres do”fiel amigo” neste aperitivo “de chorar por mais”

Há ainda a mui recomendada dupla de aperitivos servidos num bacalhau decorativo em faiança, da Bordallo Pinheiro: pastel de massa tenra com sames e língua de bacalhau, e bola de Berlim com bochecha, caras e pil pil do “fiel amigo”. A santola chega à mesa na tartelete, acompanhada por óleo de coentros, a qual é servida na casca do próprio crustáceo. “É uma sopa de santola à moda de Justa Nobre”, confessa do chef. Fica a faltar a perdiz, ingrediente inscrito, no menu, juntamente com os anteriores. Mas já lá iremos…

A feijoada do mar que apetece repetir

Por agora há que dar atenção aos bivalves da Ria de Alvor acompanhados por muxama de atum, ovas e polvo seco e feijão branco, uma “feijoada do mar”, tal como lhe chama Louis Anjos, de sabor memorável.

Uma combinação de sabores de truz esta entrada com lavagante azul

Lavagante azul proveniente, na maioria das vezes, das águas da Costa de Vicentina – ou de Peniche –, cozinhado a baixa temperatura, tangerina e variedades de beterraba, regados com consomé feito a partir do crustáceo e açafrão, são os elementos do prato de sabores refinados que se segue.

De volta à região algarvia, é eleito o salmonete de Sagres, para o momento seguinte. A irrepreensível migada de tomate e o molho de fígados, ajudaram à festa, juntamente com o presunto de bolota.

A tão aguardada perdiz a rechear o delicioso ravioli

Depois da pesca, vem a caça. Desta feita, com a perdiz presente no recheio de um ravioli divinal feito com massa de cogumelos.

Nas carnes ressaltam, primeiro, presa de porco alentejano, proveniente de Estremoz, com pezinhos de porco e milhos aferventados de Monchique. Estes são feitos à moda antiga, ou seja, são lavados com cinzas, o que lhes dá um sabor único. “A ideia para este prato surgiu numa tasca, onde estava a comer porco com milho e feijão”, diz-nos o chef.

A carne de vaca, servida na dose certa, sublima o prato

Há ainda o lombo de vaca da raça Arouquesa e a deleitosa língua de vaca com puré de nabo e couve estufados.

A amêndoa, a alfazema, o mel e o moscatel são os produtos que compõem uma das sobremesas dos menus de degustação do Bon Bon

As várias texturas de amêndoa, a gelatina de alfazema, o falso favo de mel e o gelado de moscatel, juntos num só prato, convencem os glutões. A outra sobremesa é composta por ananás dos Açores com chocolate (com 70% de cacau) e gelado de coentros com rum. Mas ainda antes deste doce momento há a pré-sobremesa, sobre a qual limitamo-nos a informar de que é surpreendente!

O menu – disponível em quatro (aperitivos, bivalves, salmonete, porco e amêndoa: €98), cinco (aperitivos, bivalves, lavagante, salmonete, porco ou lombo e amêndoa ou ananás: €120) ou seis momentos (€130) (os dois últimos estão disponíveis apenas até às 21h30) – é uma viagem pelo país, sobretudo pelas regiões do Alentejo e do Algarve. O valor de cada menu não inclui a harmonização vínica, que está previamente determinada ou pode ser feita de acordo com o gosto de cada um. Por isso, recomendados a consulta da carta de vinhos cuja selecção é feita por Nuno Diogo, o proprietário do restaurante e escanção, juntamente com André Pereira, também ele escanção, a qual incide em pequenos produtores de Portugal e d’além fronteiras.

O Bon Bon está de portas abertas de quinta a segunda-feira, ao jantar, e de sábado a segunda-feira, a almoço, com um menu diferente, com três (€38) ou quatro (€50) momentos e que muda todos os meses.

É ir! Bom apetite! •

+ Bon Bon
Fotografia de entrada: Chef Louis Anjos e Nuno Diogo, escanção e proprietário do restaurante
© Fotografia: João Pedro Rato

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