Apresente-se a terra de bairros e de barros, fonemas da região-berço dos espumantes portugueses, de paisagens carregadas de verde, ora das florestas, ora das vinhas, onde o leitão assado à sua moda e os vinhos acicatam a alma e o estômago, e a vontade de permanecer o tempo devido para a (re)descoberta.
O desafio da criação da marca Bairrada remonta a 2013, quando Pedro Soares, presidente da Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB), e Jorge Sampaio, presidente da Associação Rota da Bairrada (ARB), decidiram falar com Carlos Coelho, CEO da Ivity Brand Corp, empresa sediada em Lisboa. Volvidos seis anos, é chegada a hora de apresentar esta identidade pioneira e “agregadora” da região, localizada no Centro do país, a qual abrange oito municípios – Anadia, Águeda, Aveiro, Cantanhede, Coimbra, Mealhada, Oliveira do Bairro e Vagos – que, juntos, convidam a viajar entre o mar e as praias, e as serras do Caramulo e do Bussaco. “Um território diverso e com enorme potencial”, nas palavras de Pedro Soares.
A apresentação teve lugar a 14 de Setembro, nos Paços da Câmara Municipal de Cantanhede, por ocasião do evento enogastronómico “Aqui na Bairrada – Beber e Saborear” e da celebração dos 40 anos da Região Demarcada da Bairrada. Na cerimónia, a Presidente do município, Helena Teodósio, cumpriu as funções de anfitriã ao lado de presidentes de câmaras acima referidas, dos presidentes das duas entidades mentoras do projecto, das comissões intermunicipais das regiões de Aveiro e Coimbra, de agentes económicos da região, do Turismo do Centro e do criador da marca.
“Nenhuma outra micro-região de Portugal tem argumentos tão sexys para o estômago: vinhos e espumantes, leitão, doçaria.” {Carlos Coelho}
Comecemos por explicar o monograma da marca. Este remete para as letras ‘R’ e ‘B’ representativas das palavras ‘R’egião e ‘B’arro ou ‘B’airro, palavras que estão na essência da Bairrada. A assinatura incide nas “Terras de bem-viver” e, por conseguinte, em “marca de múltiplos ‘Bem’”, defende Carlos Coelho, CEO da Ivity. Ao adjectivo, juntou-lhe a arte de saber viver e receber. Sobre esta matéria, perguntámos ao co-fundador da empresa de criação e gestão de marcas o que gostaria de ver concretizado/mudado no que à hotelaria da região diz respeito, seja na reabilitação, seja na gestão de recursos humanos/pessoas qualificadas.
Carlos Coelho dá como exemplo dois baluartes de rara beleza: a Curia e o Buçaco. “São bastiões de um charme, romântico e identitário, adormecido. A reabilitação dos palácios turísticos de outros tempos, a par da criação de novas ofertas é um grande desafio, mas a oportunidade da região se afirmar como as ‘Terras-de-bem-viver’, no sentido geral do termo, é real.” Até porque há que ter sempre em conta a gastronomia, isto é, os vinhos produzidos na Bairrada e o receituário regional, com o famoso leitão assado à moda da Bairrada, o pão da Mealhada, os ovos moles de Aveiro, o morgado do Bussaco, as cavacas do Luso ou as barrigada de freira da Anadia.
“Nenhuma outra micro-região de Portugal tem argumentos tão sexys para o estômago: vinhos e espumantes, leitão, doçaria. O acordar dos espaços e das pessoas está a começar. O blend final será, certamente, mais qualificado e sedutor. A marca Bairrada será um ‘agregador’ desses agentes e um incentivador deste processo de mudança”, esclarece o CEO da Ivity.
Por falar em comida, impera a necessidade de alimentar esta marca por tempo indeterminado. Pedro Soares define “conhecimento e regras” como os ingredientes a aplicar durante o percurso da marca. “As entidades têm o dever de utilizar e comunicar a marca de forma correcta, sabendo associar-lhe regras de utilização e valorização”, defende o presidente da CVB.
Já Carlos Coelho indica quatro “comportamentos necessários para conseguir que uma marca cresça e se desenvolva” – “coerência, persistência, resistência, resiliência”. E vai mais longe: “a marca Bairrada nasceu, para ser bem-amada”. A expressão “afectiva” determina “o compromisso que precisamos que todos os bairradinos tenham para com a sua marca”. Jorge Sampaio sublinha, por isso, a importância do trabalho da CVB e da ARB no sentido de “motivar os agentes económicos a sentirem a marca Bairrada e a valorizarem esta marca”.
“Queremos que a Bairrada seja uma denominação de origem valorizada!” {Carlos Coelho}
A marca Bairrada representa a convergência das múltiplas valências da região. Para Pedro Soares, “foi, durante vários anos, uma aspiração natural daqueles que entendem que os vinhos são da Bairrada, o leitão é da Bairrada, as termas são da Bairrada e, mais que tudo, as gentes são da Bairrada”. Esta foi a razão apontada para que se criasse uma identidade que abarcasse todas estas e as demais valências da região – formada pelos oito municípios acima referidos – firmadas na sua história, bem como na valorização futura dos seus recursos endógenos.
Carlos Coelho partilha da mesma convicção e defende: “queremos que o futuro privilegie a qualidade em detrimento da quantidade e que o valor associado aos produtos da Bairrada seja maior. Queremos que a Bairrada seja uma denominação de origem valorizada!”
“Acredito que, em breve, teremos novidades sobre acções de parceria com o sector hoteleiro” {Pedro Soares}
“Ninguém se opôs a esta visão agregadora que acredito ser, de certa forma, também inovadora”, reforça o presidente da CVB, homenageado por Carlos Coelho pelo empenho demonstrando ao longo destes seis anos. Por isso, “as entidades envolvidas têm a obrigação de respeitar, preservar e comunicar de forma correcta e coerente uma região como a nossa. Foi para que tal possa acontecer que elaboramos este trabalho que é um ponto de partida e não uma meta.”
Dentro da área do turismo, “a hotelaria e a restauração são essenciais neste processo, quer pela quantidade de pessoas a que chegam, quer pela diversidade de origem dessas mesmas pessoas – portugueses e estrangeiros. São várias a acções que pretendemos realizar neste sector e em todos os agentes ligados ao turismo”, declara Jorge Sampaio, sobre quem Carlos Coelho sublinha o apoio dado no nascimento da marca. O presidente da ARB acrescenta, ainda, que este território tem muito mais para além do vinhos: “A Bairrada é uma terra de bem-receber.”
Pedro Soares adianta, por sua vez, “acredito que, em breve, teremos novidades sobre acções de parceria com o sector hoteleiro” e advoga que “continua a ser de vital importância melhorar a formação de quem recebe, para podermos proporcionar experiências ricas e genuínas a quem nos visita”.