Os últimos instantes de sol no terraço do Avista, no Funchal, foram aproveitados para uma conversa descontraída com o CEO do grupo PortoBay. O seu percurso pelo sector hoteleiro, a infinita paixão pela história sobre a ilha da Madeira, a importância da gastronomia, as suas inspirações e o seu mais recente projecto foram falados com o vagar que tanto ansiamos ter.
“Sou hoteleiro de nascença.” Eis como se define António Trindade que, no final da primeira década de vida já estava familiarizado com a hotelaria através da pequena unidade hoteleira dos pais, a Quinta Favila, na Madeira. Filho de pai português e mãe belga viaja, mais tarde, com destino à capital portuguesa, para frequentar o curso de Direito, na Universidade de Lisboa.
Durante este período, troca cartas com a avó, que permanece na ilha. O tempo ditava a espera entre o envio e a recepção do escrito da autoria da sua ascendente, conferindo-lhe a beleza de uma espera habitual na época. Esse conjunto de registos estão guardados, ainda hoje, como se de um tesouro se tratasse e assumem o pretexto para o CEO do grupo madeirense PortoBay falar acerca da história da Madeira, mais concretamente do porto do Funchal.
Rodeada por águas profundas, a cidade fora, em tempos, a eleita para fazer escala dos navios cruzeiro provenientes de Inglaterra com destino a África do Sul. “Quem ia a bordo vestia fraque, porque vinha de um país mais frio, até chegar aqui e aqui mudava para a indumentária caqui”, conta o nosso anfitrião. A Madeira estava – e permanece – localizada a meio da viagem, daí que servisse de paragem estratégica a quem fizesse viagens tão extensas Atlântico afora, para se habituar à transição do clima, aqui mais semelhante ao que era esperado ao longo da costa africana. “Foi daqui que também nasceu a expressão ‘ja chegámos à Madeira’, além de que o Funchal é um dos factores de escolha dos hóspedes.” Este é, indubitavelmente, um dos factores preponderantes na economia do grupo PortoBay, mas também na capacidade de resposta face às exigências de cada cliente.
Este pequeno desvio na conversa tem a ver com o vagar e a casa onde, actualmente, está instalada a recepção e duas suites exclusivas pertencentes ao Les Suites at The Cliff Bay, o novo boutique hotel de cinco estrelas do grupo PortoBay. “Era a casa onde comecei a namorar a minha mulher”, revela António Trindade.
Um cinco estrelas para desfrutar com tempo
Edificada no início do século XX e localizada no topo do promontório contíguo ao Hotel The Cliff Bay, esta casa centenária mantém a arquitectura ao estilo colonial. A recepção, repleta de objectos alusivos a viagens – paixão que acompanha António Trindade ao longo da sua vida –, tem na enorme varanda, ornamentada com o gradeamento original, palco com uma vista deslumbrante para a piscina infinita, o enquadramento dos jardins e do mar. Nos pisos superiores estão a Master Suite e a Artistic Suite.
Comecemos o roteiro pela espaçosa Master Suite. É constituída por duas salas, kitchenette e dois quartos, cada um com casa de banho. Tudo foi desenvolvido ao estilo Art Déco, elevando ao expoente máximo a elegância de então. “As portas [do interior] da casa foram recuperadas e o pavimento da varanda preservado”, realça.
Mais acima está a Artistic Suite cujos interiores primam, não só pela luz vibrante do Funchal em dias soalheiros, mas também pela subtil irreverência no detalhe alusivas ao tema das artes. Ambas têm varanda enormes que desfrutam da panorâmica da recepção, e somam, à passagem pelo interior, o acesso, a cada uma, a partir do exterior, através de um elevador panorâmico.
Do lado oposto a este edifício, está a outra casa da mesma época de estilo colonial datada da mesma época. Nela está o Avista Restaurant & Lounges pertencente a este cinco estrelas. Com uma equipa orientada pelo chef Benoît Sinthon, este espaço multifacetado reflecte a importância que António Trindade concede à gastronomia, para quem “é um factor de diferenciação da hotelaria”, daí a aposta crescente a respeito deste tema nos seus hotéis, dando como exemplo maior o Il Gallo d’Oro, o restaurante com duas estrelas Michelin, do vizinho The Cliff Bay. Sobre a traça de ambas, o CEO do grupo PortoBay reforçar: “as fachadas foram preservadas e o que é novo é assumidamente novo.”
Entre as duas casas foi acrescentada a ala central, devidamente “encaixada” na paisagem, onde estão inseridas as restantes 21 espaçosas suites. Estas dividem-se em 15 suites, das quais nove ficam no piso térreo com terraço e acesso directo ao jardim deste hotel convidativo ao ócio, mas também à leitura. Afinal, os livros, dispostos num rectângulo em madeira incrustado na parede das salas, também integram a decoração “e levam a que os hóspedes os folheiam e os leiam”.
Sobre as peças de mobiliário, António Trindade confessa que “têm várias proveniências” e encaixam na linha minimalista do design escandinavo predominante nos interiores. As peles, os têxteis naturais e as cores neutras, assim como a madeira de nogueira a conferir um ambiente acolhedor nas espaçosas e soalheiras unidades de alojamento e com forte presença, também, nos corredores do hotel.
Há, ainda, outras seis suites duplex. Estas dividem-se entre área social, em baixo, e zona de dormir, em cima cujo acesso é feito a partir do elevador privativo. Todas partilham dos mesmos atributos e demais objetos, seja decorativos, seja de mobiliário, seja da vista para o imenso oceano através das varandas.
Desçamos, novamente, ao terraço, onde a piscina infinita de água aquecida oferece uma vista privilegiada para a imensidão do oceano. Ao redor, as chaise-longues, o discreto jacuzzi e os recantos ajardinados proporcionam, no seu conjunto, um cenário edénico de sonho, como se de um pequeno resort se tratasse.
“O maior desafio para um homem do turismo é ser visionário.” {António Trindade}
“Este hotel durou cinco anos até estar concluído na minha cabeça”, declara o nosso anfitrião. Para o “construir”, o CEO do grupo PortoBay inspirou-se nas suas viagens a Marraquexe, em Marrocos, ou a Bodrum, estância balnear turca, a título de exemplo. A este factor determinante, o nosso anfitrião falou de visão: “o maior desafio para um homem do turismo é ser visionário.” E António Trindade demonstra sê-lo com este pequeno refúgio.
“É, também, preciso ser-se selectivo, ganhar tempo, estruturar experiências e saber comunicá-las”, remata, com a notícia de que, a médio prazo, o grupo PortoBay irá somar uma nova unidade hoteleira. Trata-se da Quinta das Ferragens, localizada na zona velha da cidade do Funchal, que terá 60 quartos. A conhecer…
Boas viagens!