Qualidade, criatividade, preço. Qual o futuro da restauração? / Chef Michele Marques

Com A Casa do Gadanha, o novo projecto de turismo de habitação de Michele Marques, a chef e co-proprietária do Gadanha Mercearia & Restaurante tem vindo a reinventar e adaptar a cozinha deste seu espaço de restauração, em Estremoz, com o intuito de manter a equipa e o espaço em constante ebulição.

Michele Marques rendeu-se aos encantos de um imenso Alentejo, há mais de uma década, sobretudo no que toca aos seus produtos e à tipicidade da sua cozinha, inspirações que replica no Gadanha Mercearia & Restaurante, situado no coração da cidade de Estremoz, no distrito de Évora. Enquanto a mercearia, à antiga, é uma mostra de produtos regionais que apelam à curiosidade, o restaurante é palco de sabores alentejanos recriados com esmero e a apresentação cuidada que merece distinção à altura. Sem esquecer a garrafeira, instalada no meio dos dois espaços, onde impera uma selecção criteriosa de referências vínicas do país. Para permanecer “vivo” todo o seu trabalho contínuo e iniciado em 2009, Michele Marques optou pelo serviço de take away, tarefa exigente, que lhe exigiu criatividade múltipla na criação de menus e estratégias de comunicação, para chegar aos seus clientes e demais gourmands ávidos por uma refeição distinta. A ler!

A que se dedicou a fazer durante estes últimos meses?
Dedico-me ao take away, para segurar as contas e salvaguardar meu staff e dedico-me, também, ao meu novo projecto, o turismo de habitação A Casa do Gadanha. 

Houve tempo para pôr em prática o que anteriormente lhe era impossível?
Houve tempo para estar com a minha filha, tempo para organizar novas estratégias de funcionamento.

Se lhe pedisse para falar sobre o seu percurso profissional, o que diria acerca destes 12 meses?
Duros. Estes últimos 12 meses foram duros. Muitas noites mal dormidas com o peso da responsabilidade de manter o negócio e o staff empregado.

Está a desenvolver pratos/criações para a temporada que se avizinha? Pode levantar o véu?
Estamos a desenvolver muitos pratos e mais variações semanais. Iremos apostar em mais petiscos de partilha.

Que novidades pondera incluir nos menus de degustação (não temos) e na carta aquando da reabertura do Gadanha Mercearia?
Pondero incluir na carta mais pratos de peixe. Temos um Alentejo com uma costa grande e rica.

Vai implementar mudanças na sua cozinha, no sentido de abranger um público mais lato ou a estratégia é cingir o serviço a um grupo mais restrito de clientes? Como explica esta decisão?
Minha cozinha está a sofrer uma adaptação muito grande. A estratégia, agora, é servir menos clientes, com mais qualidade e mais tempo. Com o número de lugares reduzido, como nos foi imposto, vai permitir que o serviço seja mais personalizado e cuidado. Todos os clientes são bem vindos!

Qualidade. Criatividade. Preço. Como é a sua cozinha e como vê o futuro do sector da restauração a partir destas três palavras?
Qualidade, cada vez mais. Penso que o futuro da restauração está em encontrar um equilíbrio entre preço, qualidade e criatividade. Como cliente, é o que gosto de encontrar quando visito um restaurante. Acho que muitas vezes esquece-se que está uma pessoa capacitada a confeccionar e a servir, e que estas pessoas têm de ser devidamente remuneradas. Encontrar este equilíbrio nem sempre é fácil e não podemos esquecer que, num país com tantos impostos, não podemos nos descuidar a fazer contas.

Quão desafiante se tornou este último ano no percurso da chef?
Tive tempo de olhar para mim e descobri que ter capacidade de reinventar e de adaptar-me a todas as circunstâncias colocou-me em uma situação de pressão muito grande, em que não há um dia que não esteja a desenvolver alguma estratégia, por mais pequenina que seja, para dar a volta por cima. Sempre com optimismo!

+ Gadanha Mercearia

© Fotografia: D.R.

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