É chegado o momento de reflexão. Sobre o que se fez durante o ano que está prestes a terminar e o novo, que, ao virar da página, crê-se melhor, mais feliz, com familiares e amigos, música tranquila e dos livros, que pedem para ser lidos. Afinal, o final deste 2021 exige um digestivo maior!
Adega Velha 12 Anos XO DOC Vinho Verde
Apesar da Aveleda, em Penafiel, recorrer ao método charentais, originário de Cognac, na região Charentais, localizada a Norte de Bordéus, as aguardentes vínicas produzidas por esta casa da região dos Vinhos Verdes são feitas a partir de castas tintas. Vinhal, Azal tinto, Borraçal e Espadeiro são as variedades de uva utilizadas na feitura de vinho, que, posteriormente, é submetido à destilação dupla, sendo esta uma aguardente vínica de Vinho Verde DOC. Segue-se o estágio em cascos de carvalho francês e o lote final desta Adega Velha 12 Anos XO (€36,59) soma, em média, 12 anos de envelhecimento, processo esse realizado sob a supervisão do enólogo da casa, Manuel Soares, que, em mãos, tem a cartilha de um legado, com meio século, em relação ao seu primeiro engarrafamento, e 120 anos desde a sua primeira destilação. Resultado? Esta XO (Extra Old, qualificativa de qualidade superior atribuído a aguardentes, cujo envelhecimento é superior a cinco anos) denota aromas a frutos secos, uma textura suave, com uma riqueza aromática singular e um final de boca prolongado.
Mas a história da aguardente vínica da Aveleda remonta a 1870, quando Manoel Pedro Guedes, proprietário da Quinta da Aveleda, em Penafiel, recebe, por ocasião das suas primeiras produções vínicas, uma garrafa singular de vodka. Proveniente da Rússia Imperial, este recipiente em vidro, trazido, no século XVIII, para Portugal, fica guardada com desvelo, juntamente com a promessa de se produzir algo com atributos igualmente distintos, por forma a preservar a tradição da sua família.
A estreia da destilação vínica da Aveleda data de 1901. O palco desta experiência é a velha adega da propriedade, onde Roberto Guedes se auxilia de um alambique charentais em cobre, que tinha adquirido na região francesa de Cognac, para efectuar a dupla destilação de vinho feito a partir de uvas tintas da região dos Vinhos Verdes. Seguiram-se o atesto de barricas de carvalho francês e as diligências da parte do filho, António Guedes, que, mais tarde, mostra o resultado a Armando Galhano, reconhecido Engenheiro Agrónomo na região dos Vinhos Verdes. Sucedeu-se o envio de amostras para Cognac e a posterior recepção de reconhecimento.
Em 1971, a aguardente vínica da Aveleda é comercializada em garrafas iguais ao recipiente em vidro guardada por Manoel Pedro Guedes, bisavô de António Guedes. O nome atribuído? Adega Velha.
+ Aveleda
Costa Boal Aguardente Bagaceira Velha
Os aromas de frutos secos e a suavidade das notas de especiarias conjugam-se com o toque aveludado desta aguardente bagaceira, produzida sob a chancela da Costa Boal. O final persistente torna o seu sabor ainda mais envolvente na boca. Costa Boal Aguardente Bagaceira Velha (€40) é o nome desta bebida destilada obtida a partir das massas de uvas fermentadas de vinhos desta empresa familiar criada em 2009.
A sua produção está associada ao método de dupla destilação, feita com o auxílio do alambique charentais em cobre, comummente utilizado na região de Cognac, em França. O envelhecimento ocorreu em barricas de carvalho, estágio esse que permitiu “trabalhar” a cor e a complexidade desta aguardente. Uma vez mais, o tempo investido é tido como um factor determinante no ao resultado diz respeito.
+ Costa Boal
CR&F Aguardente Velha Reserva
Os cascos de carvalho português, nos quais envelheceu esta aguardente da Carvalho, Ribeiro & Ferreira, conferiram a esta CR&F Aguardente Velha Reserva (€17,49) a tonalidade e a complexidade aliados às notas de frutos secos aliadas ao toque de caramelo e chocolate, que, em conjunto, se sentem no final, na boca.
A sua persistência é indissociável à história desta Aguardente Velha Reserva. Criada pela CR&F – sociedade fundada em 1900, entre Francisco Ribeiro de Carvalho, Manuel Joaquim Ribeiro e Joaquim Nunes Ferreira –, em 1950, tem, desde a década de 1970, a sua garrafa actual. Entre 1995 e 2005, esta histórica empresa do mundo dos vinhos, em Portugal, passa pelas mãos de três empresas.
Entretanto, em 1999, a produção e envelhecimento das suas aguardentes fixam-se em Vila Nova de Gaia e, em 2016, João Portugal Ramos, produtor, enólogo e proprietário da JPR Vinhos, adquire a CR&F e mantém esta herança. Mesmo quando se trata da produção desta aguardente obtida a partir da destilação de vinho feito com variedades de uva nacionais. O método de destilação divide-se em duas fases e os lotes seleccionados seguem para os cascos, que descansam em sala própria, com as condições ideias, para a realização optimizada de todo este processo, que requer tempo. Mais, é a única casa portuguesa, que recorre ao método solera – procedimento usado em Jerez, na vizinha Espanha, para o nosso país, pela equipa de tanoeiros da CR&F –, com a aprovação do Instituto da Vinha e do Vinho, o qual consiste em sobrepor os barris, de modo a que formem uma pirâmide, com o objectivo de reabastecer os cascos, como se de uma escala se tratasse, ou seja, que permita o atesto dos cascos mais velhos, com o lote dos cascos que estão imediatamente acima.
+ JPR Vinhos
+ CR&F
Aguardente Vínica DOC Lourinhã XO
Fundada em 1957, só 35 anos mais tarde – em 1992 –, a Adega Cooperativa da Lourinhã vê concretizado um velho sonho: ter o concelho que lhe empresta o nome como a única região do país exclusivamente demarcada para a produção de aguardente vínica. Solo e clima foram alguns dos elementos decisivos, uma vez que, conjuntamente, proporcionam as condições ideais para a produção de vinho com baixo teor alcoólico e acidez alta, indispensáveis na produção de aguardente. Eis o pretexto para falar sobre esta Aguardente Vínica DOC Lourinhã XO, que conta já com a sua 29.ª série (a partir de €40), cuja idade mínima de estágio é de oito anos.
De acordo com os trâmites instituídos pelo Instituto da Vinha e do Vinho, a aguardente vínica da Lourinhã é obtida a partir de vinho elaborado com uvas colhidas e vinificadas dentro da área geográfica delimitadas da Região Demarcada da Lourinhã, onde também deve ser realizado o envelhecimento. Trata-se, portanto, de uma aguardente vínica e não bagaceira, feita a partir de castas brancas, como a Fernão Pires, a Vital e a Malvasia Rei, bem como as tintas Castelão e Tinta Miúda. A maior parte das uvas é proveniente da Quinta do Valvite, no Vimeiro, no concelho da Lourinhã, a mesma que recebe e vinifica esta matéria-prima dos produtores da região. Findo este processo, o vinho é levado para a Quinta do Rol, onde é submetido ao método de Armagnac – nome atribuído ao método de destilação realizado na mais antiga região francesa produtora de aguardente –, ou seja, de destilação contínua através de uma só coluna. Num terceiro momento, o vinho destilado é colocado em barris em madeira de carvalho francês e em vasilhas de castanho português, que repousam na cave do edifício da Adega Cooperativa da Lourinhã, para iniciar o seu estágio.
A aguardente vínica da Lourinhã ganha cor, complexidade aromática e sabor período de envelhecimento, factores que, com o tempo, se acentuam. Porém, esta Aguardente Vínica DOC Lourinhã XO já denota atributos, que merecem tempo de apreciação, além de que, nesta casa, a sigla XO é aplicada em lotes com o mínimo de sete anos de envelhecimento.
+ Adega Cooperativa da Lourinhã
Quinta do Rol Aguardente Velha VSOP DOC Lourinhã
Dois anos após a Lourinhã ter recebido a classificação de região demarcada única e exclusivamente para aguardente vínica em Portugal, Carlos Ribeiro passa a desempenhar o papel de gestor da propriedade da sua família. Falamos sobre a Quinta do Rol, localizada em Ribeira de Palheiros, no concelho da Lourinhã, e de 1995, o mesmo ano em que adquire uma destilaria em cobre, que funciona no método contínuo, designada de Armagnac, tal como a região francesa situada na região da Gasconha. Mais tarde, o proprietário decide-se pela compra do alambique em cobre, associado à região de Cognac, para destilar os seus vinhos, feitos a partir de uvas próprias, vinificadas na adega da sua quinta.
As barricas de carvalho nacional e de carvalhos francês – as duas últimas são provenientes de Limousin e Allier – são atestadas com o vinho destilado, que, no caso de Quinta do Rol Aguardente Velha VSOP DOC Lourinhã (€36) o envelhecimento ocorreu por mais de cinco anos, ou seja, a sua composição é contemplada por vários lotes de aguardentes, com, pelo menos, quatro anos de envelhecimento, daí a sigla VSOP, para Very Superior Old Pale. A complexidade conferida, no nariz, pelos aromas a frutos secos e especiarias, é equilibrada pela textura suave, que, no final se alonga na boca, tornando-se persistente.
+ Quinta do Rol
Mosca Aguardente Vínica
A história desta aguardente, produzida pela secular José Maria da Fonseca, em Azeitão, no concelho de Setúbal e Região Demarcada da Península de Setúbal, remonta ao ano de 1937. Nessa época, esta era uma aguardente moscatel bagaceira, obtida a partir de bagaço de uvas. A sua produção ocorreu até meados da década de 1980.
Cerca de quatro décadas depois, em 2019, a emblemática Mosca é colocada novamente no mercado, desde então, como aguardente vínica. O envelhecimento ocorre em cascos de madeira outrora utilizados no estágio do Moscatel desta empresa. O objectivo de Domingos Soares Franco, enólogo e Vice-Presidente da José Maria da Fonseca, consiste em recuperar um dos legados da sua família e torná-lo, simultaneamente, numa referência, em nome dos velhos tempos.
A Mosca Aguardente Vínica (€19,99) ganha com as notas caramelizadas conferidas pelas barricas usadas, elegância e complexidade na boca, somando-se o final de boca e a persistência. Apesar de ser recomendada como um digestivo, a carta do Wine Corner by José Maria da Fonseca, em Azeitão, continua a ter a sugestão da “Mosca na mousse”. É experimentar!
+ José Maria da Fonseca
Capela da Atela XO 20 anos DOC Tejo
Feitas as contas, eis a sétima referência desta lista e a primeira aguardente vínica com certificação Denominação de Origem Controlada Tejo. Chama-se Capela da Atela XO 20 anos DOC Tejo (€196) e é produzida pela Quinta da Tela, propriedade vitivinícola localizada em Alpiarça, na região dos Vinhos do Tejo. Fernão Pires, Boal Alicante, Tamarez e Tália foram as castas vindimadas precocemente, há duas décadas, nas terras desta quinta, para fazer vinho, que, depois do duplo processo de destilação, efectuado em alambique charentais em cobre – à semelhança do que é realizado na região de Cognac, em França – resultou em aguardente. Esta esteve guardada ao longo de 20 anos, em barricas novas de carvalho francês.
E porquê fazer deste vinho uma aguardente? Porque o proprietário de então, Joaquim de Oliveira, era um “francófono”, como descreve António Ventura, que, durante vários anos, foi enólogo desta casa, tendo deixado de exercer esta função na Quinta da Atela, em 2017, regressando no início de 2020.
Em 2021, a ValWine, empresa da Valgrupo responsável pela Quinta da Atela e representada por Anabela Tereso, determinou que era chegado o momento de engarrafar esta aguardente e atribuir-lhe um nome. Capela da Atela XO 20 anos denota notas de frutos secos e especiarias, no nariz; na boca, é sedosa e reveladora de grande elegância, e apresenta um final longo, além de que é persistente.
+ Quinta da Atela
Agora, é tempo de escolher a sua preferida, servir num copo em balão, preferencialmente à temperatura ambiente e no final da refeição. Sente-se confortavelmente na poltrona ou no sofá de casa, com música a acompanhar ou, simplesmente, o silêncio, e deguste com a devida calma.
Brindemos!