13 vinhos tintos para saborear com vagar

Tempo é uma das palavras a que se poderia “dar mais ouvidos”, ou não fosse este precioso, ora para apreciar, ora para dar azo ao aperfeiçoamento de algo. Eis precisamente o “ingrediente” muitas vezes ignorado em relação ao vinho, temática cada vez mais debatida e que requer educação, seja pela moderação, seja pelo saber avaliar e degustar… com tempo. 

Segundo reza a história, as terras da Quinta do Côtto, em Mesão Frio, na sub-região do Baixo Corgo, foram entregues por Rosa Carolina Pinto Barreiros, como dote do seu casamento, em 1865, com António Montez Champallimaud. Mais tarde, em 1922, a mesma mulher funda a empresa Montez Champallimaud. Quase cem anos depois, esta casa duriense apresenta o Quinta do Côtto Vinha do Dote 2017 (€20), em homenagem a este acto determinado e empreeendedor. Limitada a 4.700 garrafas, devido à produção reduzida da Vinha do Dote – parcela constituída por videiras com cerca de 90 anos –, esta colheita espelha o perfil de um Douro elegante, – cheio de fruta preta madura, com notas de especiarias, taninos suaves e um final fresco. Tem tudo, para rimar, à mesa, com carnes assadas e pratos de caça, e ser apreciado com tempo.

+ Quinta do Côtto

A Touriga Nacional reflecte-se através dos seus aromas, seja no nariz, seja na boca, neste Quinta Nova Grande Reserva tinto 2017 (preço sob consulta), mas há outras castas, desta feita, colhidas na vinha centenária. Juntas, deram origem a esta colheita engarrafado em Junho de 2019. Disponível em 4.500 garrafas, é como uma pequena parte da história da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, propriedade vinhateira duriense da família Amorim. Apesar dos taninos macios, da elegância e da sua complexidade, trata-se de um tinto que, com mais tempo em garrafa, vai ganhar uma expressão maior, graças à variedade de uva principal, a somar ao trabalho na vinha, realizado pela viticultora Ana Mota, e ao da adega, feito por Jorge Alves.

+ Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo

Flor das Tecedeiras tinto 2016 (€9,90) é feito a partir de Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Tinta Amarela e Tinto Cão, um sexteto de castas típicas do Douro, desta feita, da sub-região do Cima Corgo. As nuances de frutos do bosque e aromas florais conquistam o nariz. Já na boca, predomina a frescura, a sensação de mineralidade e o final longo, características perfeitas para brindar com carnes vermelhas. Este vinho da Lima & Smith – dupla formada pelo empresário brasileiro Marcelo Lima e o ex-jornalista britânico Tony Smith – conta com a dedicação de Rui Cunha na vertente de enologia desta empresa. A Quinta das Tecedeiras, berço das referidas variedades de uva, dista cerca de oito quilómetros da vila do Pinhão e possui vista privilegiada para o Rio Douro, e a marca Tecedeiras celebra, este ano de 2021, duas décadas de história.

+ Lima & Smith

Vindimadas nas encostas circundantes da Batalha, as variedade de uva Baga, Castelão, Aragonez e Syrah compõem este Batalha Real tinto (preço sob consulta), edição comemorativa da Batalha de Aljubarrota, ocorrida a 13 de Agosto de 1385. Com Denominação de Origem Encostas d’Aire – pertencente à região dos Vinhos de Lisboa –, este vinho tem António Ventura como responsável maior no que diz respeito à enologia, e Sílvia Pereira, como enóloga residente. Frutos secos, frescura, acidez q.b. e taninos sedosos são os atributos maiores de vinho, com o qual, a Adega Cooperativa da Batalha, quer elevar o patamar de parte dos vinhos ali produzidos, no sentido de dignificar o trabalho no campo e na adega. Uma realidade, que se quer cada vez mais esmiuçada. Já à mesa, celebremos esta irreverência com pratos de caça e de assados no forno, que tanto apetecem este Inverno.

+ Adega Cooperativa da Batalha

Os aromas a especiarias e a frutos vermelhos sobressaem neste Cabo da Roca Grande Reserva Cabernet Sauvignon 2016 (€19), feito a partir daquela casta francesa, que, quando bem trabalha, resulta em vinhos de grande qualidade. É o caso deste tinto, elaborado sob a batuta do enólogo Hélder Cunha, no qual a complexidade e a elegância conferidas pelo tempo denotam estar à altura de pratos mais estruturados, como as carnes assadas no forno. A elaboração deste tinto tem a chancela da Casca Wines, projecto sem vinha, nem adega, dedicado à procura e selecção criteriosa de uvas, bem como à produção de vinho em dez regiões vitivinícolas de Portugal, um verdadeiro roteiro a descobrir na loja Porta da Adega, localizada em Cascais.

+ Casca Wines

Syrah, a casta que esteve na génese da Quinta do Monte d’Oiro, predomina em quase cem por cento este Quinta do Monte d’Oiro Reserva 2016 (preço sob consulta), a par com apenas quatro por cento da variedade de uva branca Viognier, colhidas em parcelas de vinha em modo de produção biológico. Eis mais um tinto merecedor de tempo em garrafa, mas os aromas a fruta madura e a especiarias, típicos da Syrah, bem como os taninos aveludados, graças à evolução em garrafa, e a elegância, aliados ao saber-fazer dos enólogos Graça Gonçalves (residente) e Grégory Viennois (consultor) – num trabalho alinhado com Francisco Bento dos Santos, responsável por toda a equipa desta propriedade – despertam a vontade de abrir uma garrafa. Acompanhe com pratos de caça, assados no forno e queijos de pasta semi-mole. Ou deixe este vinho – produzido com uvas colhidas na propriedade vinhateira pertencente a José Bento dos Santos e localizada em Alenquer, na região dos Vinhos de Lisboa – repousar por mais uma década. 

+ Quinta do Monte d’Oiro

Quinta de S. Sebastião tinto 2019 (preço sob consulta) é o primeiro vinho com Denominação de Origem Arruda da Quinta de S. Sebastião, propriedade vitivinícola de António Parente, localizada no concelho homónimo, abrangido pela área geográfica dos Vinhos de Lisboa. O lote é composto pelas variedades de uva Touriga Nacional e Tinta Roriz, seleccionadas pelo enólogo Filipe Sevinate Pinto. As notas florais e a frutos vermelhos, no nariz, conferem um aroma agradável; os taninos, a complexidade e a estrutura revelam o potencial de guarda deste vinho, que precisa de mais tempo em garrafa, para elevar Arruda dos Vinhos a uma região, onde os tintos bem feito afiançam um grande investimento.

+ Quinta de S. Sebastião

A região do Tejo tem vindo a mostrar boas surpresas e este Quinta da Atela Reserva tinto 2017 (preço sob consulta) é uma delas. Feito a partir das castas Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Castelão e Cabernet Sauvignon, este vinho revela-se bastante agradável e é o par ideal de umas bochechas de porco alentejano, por exemplo, ou pratos de carne vermelha ou de caça. A Quinta da Atela, localizada em Alpiarça, foi fundada, no século XIV, pelos Condes de Ourém e, ainda com a designação de Quinta da Goucha, fora doada ao Convento da Graça de Santarém. Em 2017, os seus cerca de 600 hectares foram adquiridos pela Valgrupo, que criou a ValWine, empresa responsável pelos vinhos desta quinta e, desde então, tem apostado na recuperação de edifícios, no sentido de melhorar as condições de vinificação e desenvolver a vertente de enoturismo, na qual está integrada a loja, actividades, a Casa da Atela e os futuros 16 alojamentos T1.

+ Quinta da Atela

Os aromas frutados aliados à frescura, sublimam este Moreto Chão dos Eremitas 2018 (€35), vinho tinto encorpado e com persistência, feito a partir da casta Moreto, vindimada em vinhas velhas existentes no sopé da Serra d’Ossa, Alentejo. António Maçanita, produtor e enólogo, deixou que esta variedade de uva se expressasse no copo, sem que o estágio em barrica desvirtuasse as características da Moreto. Quanto ao nome Chão dos Eremitas, este deve-se ao terreno plano onde foram plantadas as videiras e à existência, em tempos idos, da ordem religiosa de monges eremitas, que também se dedicavam à cultura da vinha e do vinho nesta zona da região alentejana. Sirva a 16 °C, com pratos de caça e de carne vermelha.

+ FitaPreta

Petit Verdot, Touriga Nacional e Alicante Bouschet, sendo a primeira a casta dominante deste Herdade do Freixo Art tinto 2016 (€75), vindimadas na propriedade homónima localizada na sub-região de Redondo, no Alentejo. Os aromas frutados conjugados com os taninos sedosos e a frescura, conferem elegância a este vinho tinto de lote, que merece ser apreciado com vagar. Apesar do seu potencial de envelhecimento em garrafa, este topo de gama da Herdade do Freixo, cuja enologia esteve nas mãos de Diogo Lopes, é a companhia perfeita de pratos de carne assada, bem como de sobremesas conventuais. A servir a 16 °C. Sobre a Herdade do Freixo, propriedade localizada entre a Serra d’Ossa e Évora, é de destacar os seus mais de 300 hectares, os quais são ocupados por uma vinha de 35, onde a adega subterrânea comprova o respeito pela paisagem natural e pelo ecossistema do Alentejo.

+ Herdade do Freixo

É de duas pequenas parcelas de terra, que perfazem um total de cerca de 1,5 hectares, no lugar de Cevadeira, no sopé da Serra do Mendro, Alentejo, de onde são provenientes as uvas deste Myndru 2019 (€70), a boa nova da Herdade Aldeia de Cima, propriedade vinhateira de Luísa Amorim e Francisco Rêgo, localizada na sub-região da Vidigueira. Alfrocheiro, Baga e Tinta Grossa são as três castas que compõem este tinto, sem estágio em madeira, mas sim em ânforas de gesso e barro. Ambos os recipientes contribuíram para a frescura deste vinho e a sensação de mineralidade, trabalho supervisionado pelo enólogo da casa, Jorge Alves, sem desvirtuar os atributos de cada variedade de uva deste lote, que tanto apetece “namorar”. Queijos de paste semi-mole acompanhados de frutos secos, arroz de pato, cabrito assado e doces conventuais são ideais para este vinho disponível em 2.186 garrafas de 0,75 litros numeradas.

+ Herdade Aldeia de Cima

Alicante Bouschet e Cabernet Sauvignon são as variedades de uva tinta seleccionadas para este Herdade do Sobroso Grande Reserva tinto 2018 (€35), da Herdade do Sobroso, propriedade vitivinícola localizada na Vidigueira. As notas florais, típicas da primeira, e as de fruta preta e especiarias, da segunda, dão origem a um vinho, que, à mesa, faz par com as receitas típicas do Alentejo à base de carne, como lombinhos de javali ou bochechas de porco alentejano, ou não fosse este um tinto poderoso, que vale a pena guardar por mais uns anos. Além do restaurante, onde o receituário desta região é rei, esta propriedade, de 1600 hectares, tem uma country house a descobrir.

+ Herdade do Sobroso

Negra Mole, casta tintas autóctone da região vitiinícola do Algarve, foi a casta eleita para o Villa Alvor Negra-Mole 2019 (€10,79), da Aveleda. Os aromas característicos de frutos vermelhos e frutos silvestres estão presentes neste vinho regional, que, na boca, revela frescura e uma leve sensação de salinidade, graças à proximidade do mar e ao trabalho de enologia de Manuel Soares. O final e boca e a persistência são outros atributos a referir em relação a este monovarietal feito a partir de uma variedade de uva, que esteve na iminência de desaparecer, mas, ultimamente, tem vindo a ser recuperada por produtores e enólogos, em terras algarvias. Sem esquecer as ainda existentes em vinha de pé franco, que, na segunda metade do século XIX, escaparam à filoxera, por estarem plantadas em solos arenosos. Na cozinha, prepare a salada de polvo, seguida de um atum braseado, para acompanhar, à mesa, com este tinto.

+ Aveleda


© Fotografia: João Pedro Rato

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