Ilha termal, de natureza farta, São Miguel também é cultura

Inverno é sinónimo de regeneração na maior ínsula dos Açores, predicado explorado por quem procura fruir de serenidade. Até porque muito há para fazer. Banhar nas águas quentes e desfrutar das paisagens luxuriantes deste pedaço da Macaronésia. Saborear o receituário e os vinhos do arquipélago. Absorver o legado de mestres da literatura portuguesa e da ciência.


Da aproximação à Ilha de São Miguel, feita pelo ar, avista-se a sua imponente costa. Predominada pelo basalto, num contraste profundo com a espuma alva das ondas do Atlântico, a paisagem preguiça, terra adentro e os tons de verde tomam conta desta ínsula pertencente ao grupo oriental do arquipélago açoriano.

O mesmo mar do Atlântico, carregado de sal, conserva, em alguns pontos, a temperatura ideal para mergulhar ao ar livre na estação mais fria do ano. Eis o convite para um roteiro relaxante, profícuo em águas termais, que tornam a Ilha de São Miguel um lugar inesperado no Inverno e tem Ponta Delgada – capital administrativa da Região Autónoma dos Açores e localidade costeira, localizada a Sudoeste da ilha – como ponta de partida para este eclético roteiro.


Mergulhar a céu aberto


Comecemos pelo lugar da Ferraria, integrado no Monumento Natural Regional do Pico das Camarinhas e na Ponta da Ferraria, localizada em Ginetes, freguesia de Ponta Delgada – capital administrativa da Região Autónoma dos Açores e localidade costeira, localizada a Sudoeste da ilha –, no extremo sudoeste da Ilha de São Miguel.

Inóspito e enigmático, o Pico das Camarinhas, no alto dos seus 309 metros de altura, esteve na génese desta fajã lávica, que se estende até ao mar. Em resultado deste fenómeno, surgiram as piscinas naturais de água, cuja temperatura ultrapassa os 30 °C. 


Agora, imagine-se a mergulhar neste Spa criado pela natureza, em pleno Inverno. Faça-o apenas quando a maré estiver pouco baixa, porque a sensação térmica é muito alta, na baixa-mar, e torna-se fria, na preia-mar. Leve calçado apropriado, para ficar mais confortável. O acesso ao local é feito pela escada em madeira e há uma escada em metal, para entrar nestas águas quentes. Com programas de tratamento e piscina, Termas da Ferraria, instaladas na casa situada junto ao estacionamento, são outra das opções.

A Caldeira Velha, nome atribuído à cascata de água quente férrea localizada na encosta da Serra de Água de Pau, na Ribeira Grande, já no centro da Ilha de São Miguel, é outro dos lugares a ir também durante o Inverno. A recomendação é partilhada por Simão Markovitch e João Cogumbreiro, respectivamente, Director Geral do Terra Nostra Garden Hotel, nas Furnas, e Director do Hotel Marina Atlântico, em Ponta Delgada. Ambos nomeiam, ainda, a Poça da Dona Beija, situada na freguesia das Furnas, onde as águas  quentes termais e a envolvente tomada pelas tonalidades de verde e castanho tornam este lugar mágico.


Contíguo ao Terra Nostra Garden Hotel, o Parque Terra Nostra é outro dos lugares eleitos nesta lista de sugestões. A nascente está situada na freguesia das Furnas e as suas águas férreas termais quentes alimentam, por gravidade, a recente dupla de jacuzzis, bastante apetecível no Inverno, uma vez que mantêm a temperatura das suas águas mais alta, em relação ao tanque termal, outro espaço a céu aberto muito procurado também no Inverno, neste emblemático recinto verdejante. 

“Nesta altura do ano, a magia dos Açores está na sua natureza exuberante, nos seus recantos, no seu clima temperado”, acrescenta Simão Markovitch. Na verdade, são estes factores, que abrem caminho aos passeios e desafiam os aventureiros a percorrer os trilhos. Eis o ponto de partida, para ir à descoberta, com os miradouros pelo meio!


Vistas de cortar a respiração e caminhadas regenerativas


O basalto, de cor negra avista-se de miradouros espalhados por este pedaço de terra emersa rodeada de mar. O Miradouro da Ilha Sabrina, privilegiado pela panorâmica para a Ponta da Ferraria e o imenso oceano à frente, é um desses lugares imperativos na lista de amantes da natureza. Mais à frente, está o Miradouro Lomba do Vasco, com vista para a freguesia de Mosteiros, lá em baixo, junto ao mar.


Os tons de verde entrecortados por baixos muros feitos a partir de basalto e os relevos verdejantes na paisagem complementam o panorama contemplativo e acompanham a estrada de acesso à Lagoa das Sete Cidades. Pare o carro, saia da viatura e feche os olhos. Deixe-se levar pelo silêncio. Percorra a ponte deste lugar, cuja lenda explica a cor verde, de um lado, e azul, do outro. E uma outra esclarece a origem do nome Sete Cidades.


Escolha um dos trilhos sugeridos no ponto informativo exposto na ponte e avance. A fauna e a flora, junto às águas de cada lagoa, encantam e os bovinos complementam a paisagem, enquanto pastam tranquilamente nos prados, em vale, nas encostas e no cimo das montanhas.

Suba até ao Miradouro das Cumeeiras, de onde se avista a lagoa e a freguesia que lhe empresta o nome, Sete Cidades. Dali, é notável a partilha do espaço entre a natureza e o Homem, com as suas casas, as suas propriedades delimitadas por muretes e as estradas. 


Mais à frente, a Lagoa do Canário merece a visita, mas, no Inverno, o horário é mais curto – entre as 08h30 e as 15h00, e apenas nos dias úteis. O frondoso Parque Florestal da Mata do Canário, composto pela flora nativa da Ilha de São Miguel, é o exemplo vivo da Macaronésia – designação criada, no século XIX, pelo botânico e geólogo britânico Philip Baker, a quatro arquipélagos do Atlântico (Açores, Madeira, Cabo Verde e Canárias), devido ao padrão agregador da botânica e do mundo animal.

O Miradouro do Pico do Carvão, na freguesia de Arrifes, com o Maciço das Sete Cidades em frente, é outro dos lugares imperdíveis. A vista alcança a Ponta do Cintrão e o Pico da Vara, na costa Norte.


Entre ambos, está localizado o Miradouro do Salto da Farinha, queda de água com 40 metros de altura, e o Miradouro da Pedra dos Estorninhos. O Vulcão do Fogo, a Este, Água de Pau e Serra Gorda, na costa Sul, são dois pontos que se avistam do Miradouro do Pico do Carvão.


Já no centro da Ilha de São Miguel, vá até ao quase desconhecido Miradouro Castelo Branco, localizado na freguesia de Ponta Garça, em Vila Franca do Campo. A pequena torre, outrora, de vigia, tem vista privilegiada para o oceano e a Lagoa das Furnas, sendo, esta última, o epicentro do próximo percurso pedestre.


Um pedaço de paraíso na Terra


Com mais de dois séculos de história, o Parque Terra Nostra remonta ao século XVIII, com o primeiro cônsul norte-americano Thomas Hickling, que ali construiu a sua residência de veraneio, o Yankee Hall. A seus pés, mandou construir o tanque de água termal. O jardim totalizava apenas dois hectares. 

Em 1848, a propriedade é adquirida pelos Viscondes da Praia. Ampliam a casa, que está no coração do parque. O filho de ambos decide, por sua vez, alargar o recinto botânico até aos 12 hectares e “embeleza mais o parque, ao estilo britânico”, diz-nos Carina Costa, engenheira agrónoma de formação e responsável pela classificação da fauna do Parque Terra Nostra, tarefa aprendida com o pai, Fernando Costa, antigo chefe deste pedaço de paraíso na Terra.

Em 1935, ano da inauguração do Hotel Terra Nostra, o jardim é comprado pela Sociedade Terra Nostra – fundada em 1933, por Vasco Bensaude – e, ao fim de dois anos, já recuperado, abre ao público, também com o tanque maior, tal como está hoje. 


Os seus actuais 12,5 hectares são calcorreados por uma multiplicidade de gerações e culturas, inclusivamente por quem procura informação académica sobre os cultivares ali existentes. Desde a colecção de bromeliácias provenientes da América do Sul, particularmente o ananás, produto muito comum na Ilha de São Miguel, à coleção de camélias. Este acervo botânico reúne “de cerca de 800 cultivares diferentes” e, em 2014, conquistou o prémio “Jardim de Camélias de Excelência” atribuído pela International Camellia Society. No total, “são milhares, que estão espalhadas, de forma organizada, pelo parque. E também temos a Camelia Sinensis, continua Carina Costa, apontando para os arbustos desta planta proveniente da China, a qual dá origem às folhas de chá produzidas em duas fábricas, em São Miguel.

As plantas endémicas dos Açores têm igualmente espaço próprio dentro do Parque Terra Nostra. Desenhado pela nossa cicerone, este pedaço de terra devidamente cercado, contém 52 plantas endémicas e nativas da região. Acresce a colecção de cíclades. “Há 93, neste momento.” Parecidas com as palmeiras, estas plantas são “consideradas fósseis vivos”, como nos esclarece Carina Costa. “Têm mais de 250 milhões de anos.”

A alameda de Ginkos, igualmente milenares, é outro dos lugares surpreendentes deste imenso jardim, assim como a vizinha floresta selvagem, constituída pela floresta de palmeiras. Percorra a Avenida da Memória e o caminho de acesso ao açucareiro, designação dada ao local, em que, outrora, se tomava chá e, hoje, se ouvem conversas. Como? É ir! Continue até ao lago de águas vulcânicas e descubra a colecção de fetos, composta por mais de duas centenas de cultivares diferentes.


PRC 6 SMI é o nome do trilho que se segue no roteiro. O ideal é começar no Terra Nostra Garden Hotel, no Vale das Furnas, e passar ao lado da Poça da Dona Beija, em direcção à Lagoa das Furnas.

A caldeira do vulcão das Furnas, com passadiços em madeira, é o primeiro ponto de atracção, ou não fosse este o local eleito pelos restauradores e chefs de cozinha, para cozinhar os ingredientes do cozido das Furnas, um dos pratos típicos dos Açores e do Restaurante TN, do Terra Nostra Garden Hotel. Aqueles são dispostos em grandes panelas de ferro, cobertas por um lençol branco, posteriormente introduzidas nos respectivos buracos. Estes são tapados com um tampo em madeira e pela terra de origem vulcânica. Entre cinco a sete horas, está pronto!


Percorra o trilho, junto à margem da lagoa. A floresta densa reserva o silêncio em todos os recantos deste refúgio. Em redor do Centro de Monitorização e Investigação das Furnas (CMIF) e da Ermida de Nossa Senhora das Vitórias, um belíssimo exemplar do neo-gótico no Arquipélago dos Açores, mandada construir no século XIX, por José do Canto. Bibliógrafo e apaixonado pela botânica, este ilustre açoriano impulsionou a agricultura na região e criou o jardim botânico chamada de Mata Jardim José do Canto, junto à Lagoa das Furnas. 


Ode ao bem-estar ou fascínio cosmopolita?


Prossiga o passeio até chegar perto do local de chegada e siga em direcção ao Terra Nostra Garden Hotel, da Bensaude Hotels Collection, contíguo ao Parque Terra Nostra. Inaugurada em Abril de 1935, preserva a Ala Art-Déco, o seu edifício original, subjacente à Ala Jardim, cuja ampliação é iniciada em finais da década de 1980 e terminada no começo de 1990, a par com o aumento do Restaurante TN, uma verdadeira janela para o exuberante jardim botânico, que é o Parque Terra Nostra. Em 2013, é indexada uma nova estrutura, onde é instalada a recepção.


Paralelamente, a sua antiguidade na história da hotelaria açoriana e proximidade com a freguesia de Furnas é testemunhada pela presença de famílias locais a desempenharem funções neste quatro estrelas. “O chefe de sala reformou-se no ano passado. Tinha 45 anos de casa!”, revela Simão Markovitch. É uma escola hoteleira, em que é dada a atenção à técnica, mas também ao cuidado a ter com os hóspedes”, reforça o Director Geral.


Tida como referência da hospitalidade dos Açores, esta unidade hoteleira é uma ode ao bem-estar. Basta entregar-se, de corpo e alma, às mãos de profissionais do TN Wellness Place e deixar-se levar pela tranquilidade de uma massagem. Prolongue a sensação de tranquilidade no tanque ou num dos jacuzzis de águas termais do Parque Terra Nostra, sobretudo à noite, altura em que esta experiência é privilegiada apenas pelos hóspedes e, claro, imperdível! 


Para quem gosta de hotéis citadinos, a recomendação recai no Grand Hotel Açores Atlântico. Esta unidade hoteleira de inspiração marítima da Bensaude Hotels Collection está localizada a dois passos do centro histórico da cidade de Ponta Delgada.

Totalmente renovado e com uma nova identidade desde 2018, o outrora Hotel Açores Atlântico, inaugurado em 1990, oferece uma vista privilegiada para o oceano que lhe empresta o nome, além de que é ideal para mergulhar também no Inverno, uma vez que a temperatura da água está quente – solicite a toalha na recepção.


Mas este é apenas o início de uma viagem, que começa no nascer do sol, sobretudo dos quartos situados na fachada frontal do edifício, de onde também se avista a Ilha de Santa Maria – se o tempo estiver de feição –, já que este cinco estrelas “conta” a narrativa desta companhia de transportes marítimos que o Grupo Bensaude deteve por cerca cem anos, a Empresa Insulana de Navegação. 


A epopeia marítima começa na recepção do Grand Hotel Açores Atlântico, onde está o desenho da proposta elaborada para o navio Carvalho Araújo (Liverpool, 1972), e estende-se ao lounge, espaço contíguo ao Bar Vapore, onde o enredo da Insulana é “contado” através de elementos alusivos aos roteiros marítimos.

O próprio capacete do escafandro é um dos que foi utilizado no teste de mergulho realizado em 1911, na baía do Porto Artificial de Ponta Delgada, pelo francês Charles Richet (1850-1935) – cuja dedicação à Ciência valeu-lhe, dois anos mais tarde, a distinção com o Prémio Nobel da Fisiologia e da Medicina – e Francisco Afonso Chaves (1857-1926), meteorologista, naturalista e exímio fotógrafo. 


A história prossegue pelos corredores, por meio de retratos de época – cedidos pela família Bensaude e pelo Museu da Marinha Portuguesa, bem como da autoria do fotógrafo Luís Miguel Correia – e respectivas legendas, transportando cada hóspede a esse passado transatlântico. Não é por acaso, que as suites ostentam o nome dos principais navios da Insulana – Açor, Angra do Heroísmo, Carvalho Araújo, Funchal, Lima, Peninsular, Ponta Delgada, San Miguel, Terceirense e Veja.

Em suma, o Grand Hotel Açores Atlântico tem, no traço, a assinatura do arquitecto açoriano Gomes de Menezes. Os interiores revelam o cunho do arquitecto portuense Paulo Lobo, que, com as peças respeitantes às embarcações, os veludos, o bege, o verde, o azul e o dourado mate, traduzem a elegância deste cinco estrelas. Conforto também é palavra de ordem extensível aos quartos, todos com varanda.


Da terra e do mar dos Açores para a mesa


O respeito pela matéria-prima regional prevalece no Grand Hotel Açores Atlântico e no Terra Nostra Garden Hotel. As sugestões das listas dos respectivos espaços de restauração ditam a primazia da matéria-prima, seja local ou cuja proveniência nomeia as restantes ilhas do Arquipélago dos Açores.

Comecemos pelo Vapore, nome atribuído ao bar do Grand Hotel Açores Atlântico, o qual representa a energia, que, ao longo de um século, foi utilizada nos navios da Empresa Insulana de Navegação. Apesar da internacionalização ditada pelas designações atribuídas a alguns pratos, sandes e tostas, hambúrgueres, pregos, omeletes, petiscos e pratos confirmam a premissa gastronómica associada à matéria-prima regional. É o caso da selecção de queijos ou o recomendado camarão frito com pimenta da terra, o polvo dos Açores frito em farinha de milho ou o entrecôte de novilho dos Açores maturado. 


A carta do Balcony – nome dado ao restaurante da mesma unidade hoteleira, em alusão às varandas dos cruzeiros – é igualmente exemplo no que diz respeito à escolha dos referidos produtos. As entradas assim o ditam, com os crustáceos da nossa costa, o creme de lapas dos Açores e o tártaro de novilho dos Açores, bem como o risotto, com queijo da Ilha de São Jorge, ou o cherne pescados nestas águas, com açorda de bivalves, os pratos de novilho e de acém Black Angus, raça em produção no arquipélago.


Paulo Saraiva, sub-chef do Balcony, enaltece que “cada ilha tem a sua mais-valia”, pois “é no Pico onde há o expoente da carne, no paladar, na gordura, no sabor”, enquanto na Ilha Terceira está a ser feita “a produção de peixe fumado”. À Ilha de Santa Maria é atribuída a feitura da alheira – no Escuna, restaurante do Hotel Marina Atlântico, em Ponta Delgada – e do primeiro queijo curado de ovelha, cujo processo experimental remonta a Março de 2021, a somar à produção de queijo de pasta mole, semelhante ao brie francês, na Ilha do Pico.

O ananás de São Miguel, o vinho Czar, da adega Czar Wines, no Pico, o creme de café da Fajã dos Vimes, na Ilha de São Jorge, o gelado de maracujá das ilhas e a selecção de queijos e compotas dos Açores, nas sobremesas, são cúmplies neste alinhamento. Sempre com “um toque cinco estrelas ou mais de charme”, como muito bem descreveu Paulo Saraiva, destacando “as cores, as texturas e os sabores”. Os olhos também comem, mas é no paladar que se atesta a harmonização dos dois últimos, aprovados, aliás, com mérito.


“Valorizamos muito o produto local e regional”, garante Simão Markovith, referindo-se ao Terra Nostra Garden Hotel. A prova está no alinhamento da carta do Restaurante TN, que tem o chef Valter Vieira à frente da equipa de cozinha. Creme inhame das Furnas ou o creme de funcho do Nordeste, no alinhamento das sopas, são disso exemplo, assim como a açafroa, produto cultivado na Ilha de São Miguel e que consta na tagliatelle de lulas com arroz negro.

O vinagrete de ananás utilizado na sala de gambas, o novilho dos Açores, ingrediente primordial do tártaro, a par com a batata-doce, outra matéria-prima regional, complementam o ramalhete, assim como os boletus, uma das espécies de cogumelos, que faz parte do ravioli de gambas e que é colhido no Parque Terra Nostra, nas entradas. O peixe do dia não falta. O chef Valter Vieira nomeia o cherne, o espadarte e o lírio, além do chicharro e do atum, servido no Verão. “Temos os micro-legumes e ervas aromáticas, por exemplo, que colhemos nas nossas estufas, no Parque Terra Nostra”, continua o cozinheiro. Muitas são utilizadas nas saladas do The Gaurdener, o bar com esplanada do Terra Nostra Garden Hotel, por exemplo. 

Some-se a tempura de polvo, com molho à regional, os escalopes de vitela, ambos nas sugestões de carne, e a selecção de queijos das ilhas dos Açores, propostas da carta do Restaurante TN.


Acrescente-se os clássicos, como, o cozido das Furnas – disponível também na versão vegetariana – e os filetes de abrótea. “Tentamos sempre não desvirtuar o cozido e procuramos o melhor produto, como a morcela, por exemplo, e não usamos a farinheira, porque não temos”, assegura Simão Markovitch. A sopa do cozido é outro dos pratos recomendados pelo Director Geral do boutique hotel das Furnas, assim como os croquetes de cozido, que, por vezes, são servidos no couvert, e o arroz do cozido não escapa a esta lista de destaques.


A harmonização vínica é outro ponto a salientar, já que Milton Furtado e Rodrigo Cabral, escanções do Grand Hotel Açores Atlântico e do Terra Nostra Garden Hotel, respectivamente, dão ênfase aos vinhos produzidos nos Açores. A verdade é que as referências desta região vitivinícola acompanham qualquer itinerário gastronómico açoriano à mesa de ambos os hotéis.


Roteiros do passado e das letras


De volta a Ponta Delgada, com as suas Portas da Cidade, erguidas no século XVIII, no já extinto cais local – e posteriormente transladadas para a actual Praça Gonçalo Velho Cabral, no centro histórico da urbe –, é de salientar a sua importância enquanto polo de comércio do Arquipélago dos Açores em tempos há muito idos. A título de curiosidade, esta cidade assistiu ao ditoso comércio das laranjas no século XIX. A exportação tinha como destino as Terras de Sua Majestade.

À época, pomares de laranjeiras cobriam uma parte da Ilha de São Miguel e os seus frutos eram colhidos assim que, de fortalezas erigidas junto à orla marítima, se avistavam navios de fora. O objectivo era vender o produto fresco, na actual Praça Gonçalo Velho Cabral, para que chegasse, nas melhores condições, ao Reino Unido.

Esta rua é paralela à dos Mercadores, que, ainda hoje, é uma das principais vias do comércio de Ponta Delgada. Palco do casario alvo, com pormenores em basalto, este centro histórico da cidade, apresentado por João Couto – marcoense, que, desde 2008, se deixou conquistar pelos Açores, e pelos seus produtos, com destaque para os vinhos produzidos neste arquipélago –, que nos fez uma visita guiada por diversos pontos de interesse.


Esta rua está localizada a escassos metros do Palácio da Conceição, datado de finais do século XIX e recentemente recuperado, para aí ser instalado o Museu da Autonomia, centrado na história dos Açores enquanto região autónoma – o Palácio de Sant’Ana, de meados do século XIX e cujo jardim é profícuo em exemplares botânicos provenientes de outros cantos do mundo, situa-se a três quarteirões mais acima.


O Coliseu Micaelense, ligado à cultura e aos bailes que assinalam duas celebrações anuais – o Entrudo e a Passagem de Ano –, com o Campo de São Francisco, mais à frente, palco das Festas do Espírito Santo e onde permanece o centenário e imponente metrosídero. Daqui até aos lugares reservados à movida nocturna da cidade é um passo, onde restaurantes e bares anseiam por um centro histórico mais cosmopolita.

Porque a Ilha de São Miguel também é cultura, João Luís Cogumbreiro, Diretor do Hotel Marina Atlântico, realça os roteiros temáticos promovidos pela Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada. Com destaque para a poetisa e política Natália Correia (1923-1993), que se refere a São Miguel, como “ilha centro-materno agregador”, ou o escritor Antero de Quental (1842-1891), ambos mestres do soneto, nascidos na Ilha de São Miguel. O escritor Vitorino Nemésio (1901-1978), nascido na Praia da Vitória, Ilha Terceira, e o escritor e professor Teófilo Braga (1843-1924), que, em 1915, assume a função de Presidente da República Portuguesa, entre outros, também protagonizam estes roteiros e dão origem a viagens pelas outras ilhas açorianas.

É ir!

Leia mais aqui sobre a viagem a São Miguel.

+ Grand Hotel Açores Atlântico
+ Terra Nostra Garden Hotel
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© Fotografia: João Pedro Rato

• A Mutante viajou a convite do Bensaude Hotels Collection e à boleia da Wayzor

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