A “filosofia experimentalista” da família Cardoso Pinto

O trabalho colectivo é um bem preservado na Quinta do Pinto, em Alenquer, e reflecte-se no saber-fazer no que à produção vínica diz respeito, tal como se confirmou no Sommelier Edition de 2022.

O solar do século XVIII, onde está instalada a adega


A vontade de inovar é um dos predicados da equipa da Quinta do Anjo, propriedade vinhateira de 120 hectares, mais conhecida como Quinta do Pinto, localizada na Merceana, aldeia pertencente ao concelho de Alenquer, em plena região dos Vinhos de Lisboa. Este projecto familiar tem António Cardoso Pinto como CEO e as filhas, Rita Cardoso Pinto e Ana Cardoso Pinto, nos cargos de Administradora e Directora de Vendas, respectivamente.

A importância atribuída à da vinha, de 53 hectares – a mais velha ronda os 50 anos –, é apenas o ponto de partida deste ciclo de desafios constantes, que tem nas castas brancas o futuro de Alenquer e da região dos Vinhos de Lisboa. Às variedades de uva tradicionais, “juntámos castas do Rhône”, explica Rita Cardoso Pinto, em resposta “pela preferência do pai”, que tem o poder de decisão a respeito do lote final.

A viticultura de precisão é dado adquirido nesta casa


A tipologia geológica da vinha é outro assunto de extrema importância, já que é esmiuçado até ao mais ínfimo pormenor, através do estudo de precisão realizado com o Smart Farm CoLab  – Laboratório Colaborativo para a Inovação Digital na Agricultura, centrado nas microzonagens efetuadas no solo da vinha ou com a leveduras indígenas, na fermentação das uvas vindimadas na quinta. Acresce o respeito pela biodiversidade associada à opção pela agricultura integrada, sem que se recorra ao uso de herbicidas e em prol da sanidade das uvas das 27 castas aqui plantadas.

A comprovar tão importante atributo relacionado com a “filosofia experimentalista”, nas palavras de Rita Cardoso Pinto, estão alguns dos vinhos postos à prova no âmbito do evento Sommelier Edition de 2022, que teve a adega, instalada no solar do século XVIII, como palco principal. A começar pelo Vinhas do Lasso Garrafeira tinto 2011 (€13,95), que permaneceu nove anos em garrafa, , uma estreia no que toca ao método de vinificação alguma vez realizado na Quinta do Pinto. Apesar de revelar potencial de guarda, este vinho, feito a partir das castas Aragonez, Touriga Nacional, Tinta Miúda e Alfrocheiro, “mantém a pureza da fruta”, segundo Pedro Maia, enólogo da casa, bem como a identidade da região vitivinícola, que tem vindo a dar cartas e a acicatar a curiosidade dos entendidos nesta matéria.

O desfile de vinhos postos à prova, com a presença de dois Quinta do Pinto Limited Edition da colheita de 2021, uma feita a partir da casta Semillon e outro de Roussanne, com saída para o mercado previsto para o Outono


Nas estreias, conte-se com Quinta do Pinto Limited Edition Petit Verdot 2017 (preço sob consulta), ou não fosse esta a primeira edição da casta internacional nesta gama de vinhos e que está disponível em apenas 1.731 garrafas numeradas. É de um ano que “foi particularmente bom” para Pedro Maia. Comummente usada em lotes, a Petit Verdot é, neste caso, a casta eleita para o todo, que, pelas suas características, merece ser guardado.

Na lista dos vinhos emblemáticos consta o Quinta do Pinto Limited Edition Tinta Miúda 2004 (preço sob consulta). “A Tinta Miúda da Quinta do Pinto é a mais antiga da região”, avança Ana Cardoso Pinto, para quem esta variedade de uva “é uma casta muito acarinhada”, apesar da morosidade do tempo de maturação, o que requer atenção redobrada durante a vindima. Sobre esta colheita, é de salientar que está pronta a beber, embora deixe transparecer o potencial de evoluir em garrafa. A alternativa é o novo Quinta do Pinto Limited Edition Tinta Miúda 2017 (preço sob consulta), que esteve à prova, mas que precisa de mais tempo, para mostrar todos os atributos desta nobre casta da região dos Vinhos de Lisboa. Este desfile vínico, foi iniciado com Vinhas do Lasso Colheita Selecionada tinto 2017 (€5,95). Feito a partir das castas tintas Aragonez, Touriga Nacional e Castelão, este vinho estagiou por três anos, em cubas de cimento subterrâneas. É experimentar! 

Entretanto, houve Quinta do Pinto Limited Edition Syrah 2017 (€26,50), uma das novidades especiais de 2020, da família Cardoso Pinto, limitado a 1.340 garrafas numeradas. À Syrah, decidiu-se adicionar uma pequeníssima quantidade da casta branca Roussanne, que confere alguma frescura a este vinho.

O término desta lista foi protagonizada por Quinta do Pinto Grande Escolha tinto 2017 (preço sob consulta), em que a Touriga Nacional, a Merlot e a Petit Verdot evidenciam as suas notas em perfeita harmonia, ou não fosse “a arte de bem lotear”, frase de Rita Cardoso Pinto, o espelho da experiência de António Cardoso Pinto e do saber-fazer desta casa.

A cave de barricas de madeira é contígua à ala reservada às cubas de inox e aos antigos depósitos de cimento


Quanto aos brancos, reveladores do carácter deste território vitivinícola, com grande influência Atlântica, vejamos a potencialidade da Arinto, variedade de uva que é rainha em três referências vínicas produzidas nesta adega. A sua vivacidade é marcante no Vinhas do Lasso Colheita Selecionada 2020 (€5,95), mesmo loteada com a Fernão Pires, que, por sua vez, compensa a acidez da primeira.

No Quinta do Pinto Arinto 2018 (€11,95), ambos atributos atrás mencionados denotam equilíbrio, graças ao estágio em barrica de madeira, que também confere maior longevidade a este vinho branco, que, por si só, já a tem. No Quinta do Pinto Limited Edition Arinto 2019  (preço sob consulta), edição com 1.072 garrafas numeradas, a equipa de enologia optou por “barrica usada, com tosta média, para não ficar marcada no vinho”. O certo é que os aromas cítricos, a frescura e a acidez, na boca, estão presentes neste vinho, cuja persistência é outra das qualidade a elogiar.

O portefólio vínico da família Cardoso Pinto


Das castas típicas para as internacionais, a família Cardoso Pinto mantém a “tradição” de lotear a Viognier com a Chardonnay, lote que, de acordo com Rita Cardoso Pinto, “é muito pouco comum no mundo”. Trata-se do Quinta do Pinto Viognier e Chardonnay 2019 (preço sob consulta), um vinho sério, com uma frescura muito agradável, acidez marcante e sensação de salinidade, perfeito para o verão, pois, à mesa, combina com uma caldeirada em família ou entre amigos. Na mesma linha entra Quinta do Pinto Grande Escolha 2018 (preço sob consulta), feito a partir das castas Viognier, Roussanne e Marsanne, para harmonizar com queijos, pratos de peixe assado na grelha ou no forno.

Fernão Pires, Chardonnay e Arinto são as castas que entram na composição do Terras do Anjo branco 2014 (preço sob consulta), “uma boa amostra em como os vinhos de Lisboa têm potencial de guarda”, declara Pedro Maia. À mesa, vai bem com pratos de carne mais elaborados.

Em cartaz, cabem ainda Quinta do Pinto Chenin Blanc 2021 (preço sob consulta), branco que merece a atenção de curiosos em matéria de vinho; e Quinta do Pinto Sauvignon Blanc 2021 (preço sob consulta), que reflecte inteiramente a vivacidade desta casta associada a frescura, acidez, sensação de mineralidade.

Três castas simbolizam três gerações nesta singular colheita tardia


Novidades à parte, é de brindar com a edição limitada de Quinta do Pinto Colheita Tardia (€23,50). A sua produção, feita a partir de três castas representativas de três gerações – Fernão Pires, Semillon e Chardonnay – simboliza a homenagem ao avô de Rita e Ana Cardoso Pinto e também para “ter algo doce na nossa vida (…) somos orgulhosamente produtores da região dos Vinhos de Lisboa!”

Brindemos!

+ Quinta do Pinto
© Fotografia: João Pedro Rato

+ Legenda da foto de entrada: Rita Cardoso Pinto, Administradora, e Ana Cardoso Pinto, Directora de Vendas

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