Ser visitada por um girassol, ou melhor, por uma flor solar, ou por um sol em flor, como Gustav Klimt nos proporciona, não deverá menosprezar-se: é o que acontece hoje.
Actualmente, tudo ou quase tudo se prepara para liquidificar o rosto e diluí-lo no amorfo. O rosto é, tão somente, a manifestação visível do amor que, assim, também se dilui, não chegando a adquirir uma forma que o espírito possa guardar através da memória. Um caminho passível de ser observado na arte moderna é, precisamente, a progressiva adulteração do rosto: seja através do caos, seja por intermédio da dita forma pura, seja ainda pela incorporação imediata, citação, da realidade. Relativamente ao caos o défice reside na ausência de forma fixa; no caso da forma pura o défice radica na falta da mão humana; já para a incorporação imediata pode-se referir a falta de distância contemplativa. Temos, então, que as obras de arte, análogos da experiência humana, nos chegam: ou embrutecidas, ou despersonalizadas, ou indistintas. Se embrutecidas, agridem; se despersonalizadas, magoam; se indistintas, deixam-nos indiferentes. Este caminho é, portanto, aquele que segue pela liquidificação do rosto, que é substituído: ou por uma crosta; ou por uma folha de papel vegetal; ou por tudo, o que corresponde ainda a nada.
Em “Sonnenblume”, Klimt providenciou-nos um rosto e isso é admirável. E ali vemos uma flor solar, ou um sol em flor, ou uma flor que ri, ou uma flor que nos vem abraçar. É certo que podemos ver isto, sendo correcto, também, concluir que um rosto não é uma entidade petrificada, mas sim vibrátil. E é através desse pressuposto de movimento que o rosto vem fecundar o espírito, manifestando, então, essa forma que possa ser guardada pela memória.