Malhadinha, Peceguina, Teres, Ancoradouro, Vale Travessos e Quinta da Teixinha. Aumentou o léxico vitivinícola desta propriedade alentejana, à qual acresce a vinha de Portalegre. Tudo boas novas, mas só algumas colheitas de 2021 dão corpo a vinhos sem o recurso a químicos, na vinha e na adega.
Experiências à parte, Nuno Gonzalez, enólogo na Herdade da Malhadinha Nova há aproximadamente uma década, manifesta um contentamento enorme pelo facto das referências Monte da Peceguina e Malhadinha ostentarem, nos seus respectivos rótulos da colheita de 2021, a certificação de vinho biológico. “É o caso do [Monte da] Peceguina branco, os dois Antão Vaz da Malhadinha, o Viognier da Malhadinha e o Roupeiro da Malhadinha. Tudo daqui da Malhadinha”, explica o enólogo.
O primeiro trata-se do Monte da Peceguina branco 2021 (€13,5) e é feito a partir das castas Antão Vaz, Verdelho, Viosinho e Encruzado. No segundo caso, Nuno Gonzalez refere-se aos dois monocastas de Antão Vaz. Desta dupla, o Antão Vaz da Malhadinha Vinha da Peceguina 2021 (€15) é feito a partir desta variedade de uva vindimada na Vinha da Peceguina; enquanto o Antão Vaz da Malhadinha Vinha dos Eucaliptos 2021 (€15), é elaborado com uvas da mesma casta, colhidas na Vinha dos Eucaliptos, plantada em 2018.
Desta vinha, também foram colhidas as uvas da casta Viognier, para o penúltimo a que o enólogo se refere, o Viognier da Malhadinha Vinha dos Eucaliptos 2021 (€25). O Roupeiro da Malhadinha Vinha da Malhadinha 2021 (€25) é feito a partir da casta Roupeiro vindimada da Vinha da Malhadinha, datada de 2001. Em suma, todas as uvas são provenientes das vinhas, em que a produção é trabalhada em modo biológico. Aliás, “toda a nossa área é certificada em termos de viticultura desde o final de 2019”, reforça Nuno Gonzalez.
A mesma máxima inerente à produção biológica é aplicada na adega. Segundo o enólogo, “não mudou praticamente nada na vinificação, porque todas as técnicas e produtos que utilizávamos – e utilizamos – são permitidos no biológico, à excepção de um produto que tivemos de trocar”. Mas por que razão só a partir desse ano são vinhos certificados biológicos na vinha e na adega? “Porque só a partir de 2021 é que nos tornámos auto-suficientes”, isto é, “só a partir de 2021 que deixámos de adquirir uva a terceiros” e “em 2020 ainda comprávamos uva e alguns produtores não eram certificados”.
Mesmo assim, “em 2021 a única uva que entrou na Malhadinha, sendo nossa e que não é biológica, é a de Vale Travessos, que ainda está em reconversão, mas nos dias em que vinificamos a uva de Vale Travessos não vinificamos nenhuma outra uva, para que não houvesse problemas”, continua. “Para efeitos de certificação, não pode haver cruzamentos de uvas [certificada e não certificada] em termos de materiais, de equipamentos.”
Na senda de novas colheitas, é de contar com o Malhadinha rosé 2021 (€27), vinho biológico feito a partir das castas Touriga Nacional, Baga, Tinta Miúda e Touriga Franca, das vinhas dos Eucaliptos, de Terges e da Malhadinha. Para breve, conta-se com a apresentação de um vinho tinto da colheita de 2020, feito a partir da casta Touriga Franca vindimada na Vinha do Ancoradouro, a qual foi plantada em 2017. “É de uma vinha nova e é um vinho que está muito interessante.” Esta variedade de uva também entra no lote do Malhadinha tinto do mesmo ano de colheita.
As Marias da Malhadinha voltaram! Depois da colheita de 2013, eis o branco de 2020 (€65), feito a partir de uvas brancas colhidas em vinhas velhas, e o tinto de 2019 (preço sob consulta), elaborado com uvas provenientes das vinhas velhas de Vale Travessos. “A partir destas colheitas, vão passar a sair todos os anos”, assegura Rita Soares, CEO da Herdade da Malhadinha Nova. “Para o ano, vamos lançar o Malhadinha branco 2021, que também é biológico”, revela o enólogo.
Voltando um pouco atrás no tempo, enalteçamos o Tinta Miúda da Malhadinha 2019 (€35). Esta casta tinta está plantada na Vinha da Malhadinha desde 2001, mas só há três anos foi eleita para fazer um monocasta, graças ao potencial revelado e, finalmente, trabalhado a solo, para estrear este ano.
Quanto ao Espumante Malhadinha Bruto Natural rosé 2016 (€35), feito a partir das castas Baga Tinta Miúda Touriga Nacional foi apresentado no Natal de 2021, à mesa do restaurante e na loja da Herdade da Malhadinha Nova. “Vai ser sempre uma edição limitada”, avança Nuno Gonzalez, e “não podemos fazer todos os anos, porque nem todos os anos são propícios a vinhos com boa acidez e pouco álcool, por exemplo”. Em estágio em garrafa, está a colheita de 2017 e haverá um outro de 2021. “O mínimo será sempre de 54 meses de estágio e os dois são feitos a partir das mesmas castas”.
A escassos quilómetros da adega, e ainda em Albernoa, está Vale Travessos. A vinha foi comprada em 2016, pela família Soares ao Sr. Isidro. “Quando entrei na casa do Sr. Isidro, o chão tinha precisamente o mesmo padrão dos azulejos hidráulicos que eu tinha para o pavimento do restaurante”, aquando das obras de remodelação do espaço, conta Rita Soares. A coincidência é assinalada pelo azulejo hidráulico, que está na caixa e no pequeno quadrado colocado no gargalo de cada garrafa. Vale Travessos é constituído por 3,5 hectares de vinha velha, datada de 1949, e cinco hectares de vinha plantados em 2022. Sobre os vinhos, há o Vale Travessos tinto 2016 (preço sob consulta) e Vale Travessos branco 2016 (€65).
Outra grande novidade são os dois branco da colheita de 2021, da Quinta da Teixinha, na Serra de São Mamede, em Portalegre. “Que o vinho é muito bom, é!” A garantia é dada por Nuno Gonzalez, que deixa transparecer um regozijo imenso a respeito desta recente compra por parte da Herdade da Malhadinha Nova. “A uva de lá é completamente diferente. É um outro Alentejo.”
A vinha de dois hectares plantada na Quinta da Teixinha data de 1997, está virada a Norte e situada a 700 metros de altitude. “É um field blend Trincadeira, Aragonez, Alicante Boushet, Bical, Fernão Pires, Salsa, Tamarez”, declara o enólogo. Contabilize-se ainda um hectare de 2016, com a casta Aragonez, e outro tanto de Roupeiro, de 2017. “Neste momento, estamos com quatro hectares de vinha e mais cem de terra”, pelo que há probabilidade de aumentar a área de vinha. Ademais, trate-se da imagem deste vinho e teremos, em breve, mais vinho na cave, até porque a soma da área das propriedades da família Soares totalizam já 580 hectares.
Brindemos!