D. Graça, Pai Horácio e Avó Escrivão. A família de Jorge Lourenço 

A Vinilourenço conta a história de duas gerações. Iniciada na década de 1980, é aprofundada vinte anos depois, com ênfase na viticultura e nas castas antigas da Região Demarcada do Douro.


“Começou com 25 hectares, plantados pelo meu pai [Horário Lourenço]. Hoje, temos cerca de 60 hectares de vinha” e ainda “compramos bastante uva”. O resumo é feito por Jorge Lourenço, proprietário da Vinilourenço, em Poço do Canto, no concelho de Mêda. Nestas contas estão contemplados os 20 hectares de vinha plantadas nas encostas da Ribeira da Teja – curso de água que atravessa Mêda e desagua na margem esquerda do Rio Douro –, onde é visível a “transição para xisto, que dá mais estrutura aos vinhos, apesar de ter bastante granito, que dá mais frescura”.

A Quinta da Junqueira, na posse da Vinilourenço desde 2018, é ocupada por aproximadamente 15 hectares de vinha, aos quais se somam os dez da Quinta do Grilo, pertencente à freguesia de Mêda, e onde o solo é predominantemente composto por xisto. Junte-se a vinha Entre Águas, de nove hectares, no Vale da Teja, Sebafelhe, bem como os 4,5 hectares no Vale de Mouro, no Pocinho, ambos pertencentes ao município de Vila Nova de Foz Côa, e os oito hectares alugados também neste concelho localizado na sub-região do Douro Superior.

Há cerca de uma década a produzir vinho, Jorge Lourenço decidiu criar uma enoteca desta que é a sua casa na sub-região do Douro Superior. Instalada no antigo laboratório da adega, tem espaço para dez mil garrafas, será a prova da verticalidade desta empresa. 

A adega, com a primeira fase de construção datada de 2002, estreou-se no ano seguinte, aquando da recepção das primeiras uvas. Eis a entrada em cena de Jorge Lourenço neste negócio familiar. A sua , centrada na cultura da vinha e na aposta crescente nas castas típicas da região duriense, que estavam a desaparecer do mapa vitivinícola. Em 2006, funda a Vinilourenço. A ampliação do piso subterrâneo conta com o registo de 2019. A loja, à entrada do piso térreo, e a ampla sala de provas complementam as boas novas.


D. Graça, a homenagem à mãe


“A vinificação é feita em separado, pela data ideal da vindima”, começa por explicar o anfitrião, mas “cada ano é um ano”, reforça, no sentido de esclarecer que o vinho revela diferenças em cada colheita. Comecemos, porém, esta viagem com uma boa nova da Vinilourenço, o D. Graça Vinhas Antigas Curtimenta 2019, que esteve à prova e é uma recomendação a quem tanto aprecia este tipo de vinho. De acordo com Jorge Lourenço, fermentação foi feita em contacto com as películas das uvas durante quatro a cinco dias, entre os 20° e os 22° C, para dar maior estrutura ao vinho. Frescura, sensação de mineralidade e acidez são outras das característica deste vinho, mas igualmente de outros do portefólio deste produtor do Douro.


A prova esteve em cima da mesa com outras referências desta gama. A produção de monovarietais D. Graça consiste em “perceber o que a casta dava e respeitar ao máximo o carácter varietal de cada uma”, afirma o nosso anfitrião. Neste núcleo pedagógico de edições limitadas, constam D. Graça Samarrinho 208 e D. Graça Donzelinho Branco, “a casta mais tardia”, de 2016 e 2017, entre outras.


Já na colheita de 2019, o fundador da Vinilourenço determinou a feitura do Graça Donzelinho Branco e Samarrinho, blend que já tem uma segunda edição, a de 2021. Ambas as variedades de uva são “desafiantes”, uma vez que são colhidas de uma vinha plantada em 2002.

Na senda dos brancos, é digna de destaque a Viosinho, com a qual Jorge Lourenço revela ter “uma relação muito especial”. Não é de admirar a constante produção, ano após ano, da referência D. Graça Reserva Viosinho, desde 2005 a 2021. A mesma variedade de uva é utilizada na feitura do D. Graça Espumante Bruno Natural de 2013, 2015, 2016 e 2018, os quais foram submetidos a 20 meses de estágio, assim como no D. Graça Colheita Tardia branco 2018, “com previsão para entrar no mercado em Setembro ou Outubro de 2022”, informa Jorge Lourenço.


Na lista de provas, constou D. Graça Bastardo 2019. A casta tinta, vindimada em solo de transição, ou seja, na encosta da Ribeira da Teja, em vinhas plantadas entre 490 a 600 metros de altitude, e que resultou num vinho com baixa percentagem de álcool (11,5 por cento), revelou todos os seus predicados de uma forma mais elegante, com boa acidez e uma frescura singular.

D. Graça Grande Reserva Sousão tem nas colheitas de 2011, 2015, 2017 e 2019 os seus atributos, mas como disse – e bem – Jorge Lourenço, cada ano “dá corpo” a vinhos distintos. Diríamos mais: diferenciadores. As diferenças são notórias da colheita de 2015, para 2017 e, por sua vez, para 2019. Vindimada na vinha do Pocinho, esta casta tinta revela o seu potencial aromático, com um revelador toque a especiarias; refira-se a acidez típica e da frescura, que, a par com o clima e o solo, resultam num vinho seco.

Nos bastidores, fiquemos pelo vinho feito a partir de Casculho, uma das castas típicas durienses, em vias de extinção, que Jorge Lourenço está a explorar na vinha, na adega e no copo. Ensaios que registam a sua crescente curiosidade relacionado a este legado deixado por outros povos em terras do Alto Douro Vinhateiro.

A gama de monovarietais D. Graça inclui ainda as castas Rabigato, nos brancos, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Tinto Cão, nos tintos.


Os tributos ao pai e ao avô


Ademais, Jorge Lourenço também resolveu prestar homenagem a outros seus ascendentes, através da produção de vinhos igualmente especiais. É o caso de Pai Horácio, “o vinho mais importante”, que está na base desta adega baseada num conceito familiar, ou não tivesse sido este o homem que, na década de 1980, suscitasse a cultura da vinha na família, acção impulsionadora da criação da Vinilourenço.

Nesta gama enquadra-se Pai Horácio Grande Reserva branco 2019, para o qual foram seleccionadas castas brancas em vinhas velhas, à semelhança das edições anteriores – 2015 e 2018. Pai Horácio Grande Reserva tinto 2015 e 2017, ambos feitos a partir de vinhas velhas, é outro vinho a decorar e com a colheita de 2020 na calha.

Avô Escrivão é o tributo reservado ao avô paterno, que assim “era conhecido por muita gente” e, “dos seis irmãos, era o que escrevia algumas palavras”, declara Jorge Lourenço. A sua estreia aconteceu com um Avô Escrivão Grande Reserva tinto feito a partir de vinhas velhas, predominadas pelas castas Touriga Nacional e Touriga Franca, da colheita de 2017. A saída para o mercado teve lugar no final de 2021.

As duas variedades de uva – com maior predominância da segunda – associadas à Tinta Roriz, vindimadas em vinhas localizadas entre os 550 e os 700 metros de altitude, foram as eleitas para o Insuspeito Grande Reserva tinto 2018. Este vinho é produzido apenas em anos excepcionais.

Mais há para provar, de preferência no sítio mais suspeito, a sala de provas da Vinilourenço, onde terá, certamente, uma boa recepção.

É ir. Brindemos!


+ Vinilourenço
© Fotografia: João Pedro Rato

Legenda da foto de entrada: Jorge Lourenço, proprietário da Vinilourenço

• A Vinilourenço foi visitada no âmbito do evento “Há Beira e Douro”

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