Um tinto de vinhas velhas sem madeira e o Porto Colheita 2013 da Quinta Dona Matilde

Este produtor duriense prova, uma vez mais, que a matéria-prima vale ouro, seja nesta segunda edição do Vinha dos Calços Largos, submetido a estágio em inox, seja na referência cabe ao ex-líbris produzido na região demarcada mais antiga do mundo.


Filipe Barros destaca o Vinha dos Calços Largos tinto 2020 pelo facto de não ter estagiado em barricas de madeira, para “expressar melhor o terroir da Quinta Dona Matilde


Depois da colheita de 2017, eis o Vinha dos Calços Largos tinto 2020. Feito a partir de uva vindimada em vinhas históricas da Quinta Dona Matilde, propriedade vinhateira, de área total de 93 hectares, localizada em Canelas, Peso da Régua, no distrito de Vila Real, resulta da experiência iniciada precisamente em 2017, no âmbito da produção de “vinhos sem madeira”. Segundo Filipe Barros, filho de Manuel Ângelo Barros – neto de Manoel Moreira de Barros (que, após a compra da quinta, em 1927, alterou o nome, para Dona Matilde, em homenagem à sua mulher) e proprietário da mesma a partir do final de 2006 – “achámos que o vinho ganharia muito não tendo madeira”, para “expressar melhor o terroir da Quinta Dona Matilde.

Com três dezenas de castas diferentes, a Vinha de Calços Largos tem nesta variedade de uvas uma mais-valia “que nos dá  a priori uma maior complexidade no vinho”, afirma João Pissarra, enólogo na Quinta Dona Matilde. Além disso, o histórico da matéria-prima destas vinhas velhas indicia “que estas eram as melhoras uvas da quinta”, por isso, “tiramos partido do que a vinha nos vai dando ano após ano”. O resultado deste Vinha dos Calços Largos tinto 2020 (€40) traduz-se num vinho elegante, com boa acidez, volume de boca, e um final longo e persistente.


Manuel Ângelo Barros é o proprietário da Quinta Dona Matilde e grande conhecedor no que à produção de Vinho do Porto diz respeito


A Vinha dos Calços Largos, virada a Sul e a Oeste e localizada a meio, em altitude, na Quinta Dona Matilde, “foi das primeiras a serem feitas em socalcos largos”, esclarece Manuel Ângelo Barros, ou seja, “mais espaçados e plantada em encostas relativamente suaves”. De acordo com José Carlos Oliveira, viticultor e responsável por esta função nesta propriedade, é uma vinha pós-filoxera e tem mais de 70 anos. Aliás, Manuel Ângelo Barros recorda-se do momento da sua plantação.

Por outro lado, é uma vinha de sequeiro, o que favorece a sua sanidade face ao panorama actual relacionado com o clima. De acordo com José Carlos Oliveira, uma “vinha velha vai vencer as alterações climáticas”, já que, tradicionalmente, “está conduzida de modo irregular”. Ou seja, este procedimento “faz com que os cachos fiquem mais escondidos na videira e ficam menos expostos ao sol”, continua. Além disso, “as vinhas aramadas é um dos requisitos para que as suas uvas sejam utilizadas na produção de Vinho do Porto”, que, desde a demarcação do Douro, constituída em 1756, tem a sua importância nesta região vinhateira. 


Quinta Dona Matilde Porto Colheita 2013 envelheceu em cascos de madeira instalados nos armazéns da empresa, localizados nas Devesas, Vila Nova de Gaia,


Neste alinhamento, consta a Quinta Dona Matilde, uma das mais antigas propriedades da região, com presença assinalada no vetusto trabalho cartográfico, de 1848, de James Forrester, conhecido por Barão de Forrester. Ainda hoje, a vinha, de 28 hectares, desta propriedade tem classificação “letra A”, a mais alta no universo do Vinho do Porto. Por essa razão, a família Barros mantém a produção de Vinho do Porto, sobretudo Tawnies.

João Pissara enaltece a influência da qualidade das uvas e da aguardente seleccionada, para este processo de vinificação exclusivo da Região Demarcada do Douro. Outro aspecto determinante é o facto dos armazéns, situados nas Devesas, em Vila Nova de Gaia, onde repousa o Vinho do Porto da Quinta Dona Matilde, terem percursos de água por perto, factor que permite manter a temperatura do interior do edifício sempre baixa, em relação ao exterior.

Essa mesma frescura é notória no Quinta Dona Matilde Porto Colheita 2013 (€36), produção limitada a 1.200 garrafas. Elaborado a partir de uvas colhidas nas vinhas de baixa altitude – ou não fosse “a localização um factor importante neste caso”, segundo José Carlos Oliveira –, este Vinho do Porto envelheceu em cascos de madeira instalados no referido armazém. 

Segundo os entendidos nesta matéria, este Vinho do Porto apresenta características mais comuns num Late Bottled Vintage (LBV) do que num Tawnie. Acrescentemos a acidez equilibrada, que permite atenuar a sensação de fruta compotada, tornando este Porto mais especial.

Brindemos!


+ Quinta Dona Matilde
© Fotografia: João Pedro Rato

Legenda da foto de entrada: O Vinha dos Calços Largos tinto 2020 é feito a partir de uvas colhidas em vinhas velhas e estagiadas em inox

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