Escrever é, também, abrir interiormente uma estrada sanguínea.
A natureza é algo muito longínquo em dias absurdos e absortos que nos banham e em horas de aflição, de confronto, de exasperação. Talvez a mentira seja a grande persona do tempo que nos coube viver. Mas a mentira não faz a realidade. Pelo contrário: a realidade é a verdade. E a realidade não é literal. Podemos enumerar e descrever sem misericórdia o que nos circunda e que nos refracta, no entanto, sem a fina placa esburacada do deslumbramento nunca conseguiremos atingir o cerne da realidade. Irreal? Não. Tomamos a natureza também como garantida e imutável, mas na verdade existe um movimento incomensurável da e na natureza. Matéria? Facto. Escrever, por isso, é, também, abrir interiormente uma estrada sanguínea.
Há um barco doido no coração. Nós, humanos, somos natureza. A imagem e a palavra são um mesmo corpo.