Estreado em 1922, esta raridade do cinema mudo português – “Os Faroleiros” – é apresentado, este mês de março, com uma nova banda sonora, encomendada pelo Batalha Centro de Cinema ao compositor Daniel Moreira, no formato cine-concerto com o quarteto de cordas Arditti Quartet. Prepare a sua agenda cultural.
O drama — uma ambiciosa produção dos anos 1920 restaurada no âmbito do FILMar, projeto operacionalizado pela Cinemateca Portuguesa, parceira e impulsionadora desta iniciativa, com o apoio do programa EEAGrants 2020/2024 — acompanha um triângulo amoroso fatal. Em torno de Rosa (alojada no farol após a morte do seu pai no mar), do faroleiro João Vidal, por quem ela nutre sentimentos, e de António Gaspar, um outro faroleiro que vive arrebatado pelo ciúme, desenvolve-se uma narrativa apaixonante que navega entre o afeto e a violência, sempre com o mar como elemento omnipresente.
Rodado nas agitadas águas de confluência entre o Tejo e o Atlântico e realizado por Maurice Mariaud (que no filme interpreta o papel de João Vidal), Os Faroleiros esteve perdido durante décadas, tendo sido encontrado no Palácio do Bolhão, no Porto, em 1993 — onde a empresa do produtor Raul de Caldevilla, pioneiro dos filmes de publicidade em Portugal, teve a sua sede.
Um filme que, pelo seu pioneirismo e audácia técnica, se tornou num marco do cinema mudo europeu, numa altura em que os mais desafiantes e ambiciosos filmes eram o resultado do esforço de equipas multinacionais, que recorriam aos mais variados exercícios de imaginação para reproduzir, no ecrã, realidades desconhecidas.
Daniel Moreira, compositor, é doutorado (PhD) em Composição Musical (King’s College, Londres; 2017), mestre em Composição e Teoria Musical (Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo; 2010). Em 2009, foi Jovem Compositor em Residência na Casa da Música. A sua música abarca múltiplos géneros — da música orquestral à de câmara —, com uma especial ênfase, mais recentemente, em música coral, ópera, música para filme e música em que interagem instrumentos acústicos e electrónica. É investigador integrado no CEIS20 – U.Coimbra (2020-), apresentando regularmente o seu trabalho — centrado em música do século XX e XXI — em conferências nacionais e internacionais. Tem um artigo publicado sobre a música de Webern (Revista Portuguesa de Musicologia, 2016) e dois sobre a música de Bernard Herrmann para os filmes de Hitchcock (Music Analysis, 2021; Journal of Film Music, no prelo), estando actualmente a preparar outros trabalhos sobre a música dos Radiohead e sobre a ideia de musicalidade nos filmes de David Lynch.
O Arditti Quartet tem uma reputação mundial pelas suas interpretações espirituosas e tecnicamente refinadas de música contemporânea e do início do século XX. Várias centenas de quartetos de cordas e outras obras de câmara foram escritas para o agrupamento desde a sua fundação pelo violinista Irvine Arditti, em 1974. Estas obras deixaram uma marca definitiva no repertório do século XX e deram ao Arditti Quartet um lugar sólido na história da música. Compositores como Adès, Aperghis, Birtwistle, Cage, Carter, Dufourt, Dusapin, Fedele, Ferneyhough, Francesconi, Gubaidulina, Harvey, Hosokawa, Kagel, Kurtág, Lachenmann, Ligeti, Nancarrow, Rihm, Scelsi, Sciarrino e Stockhausen confiaram estreias mundiais da sua música ao quarteto, cujo repertório engloba integrais dos quartetos de cordas de inúmeros compositores.
O filme restaurado Os Faroleiros, raridade do cinema mudo português, com realização de Maurice Mariaud, é apresentado o dia 22 de março, no Cinema Batalha, no Porto, e na Culturgest, em Lisboa, no dia 31 de março.
A tomar nota. A ir, no Porto ou em Lisboa.