A longa presença no Douro, a ligação ao vinho e o saber-fazer estão nas mãos de três mulheres inspiradoras e audazes, que nadam contra a corrente, com ensaios arrojados e uma herança vínica singular.
Luísa e Maria Eduarda Borges são irmãs. A primeira é enóloga dos vinhos da família. A segunda é responsável pela gestão do negócio familiar. A ambas junta-se a mãe, Maria de Lurdes, impulsionadora deste projeto, juntamente com a filha mais velha e um pilar incondicional das filhas.
O objetivo é dar continuidade ao património vitivinícola iniciado, no século XIX, por José Silvério Vieira de Sousa, tetravô da dupla que representa a quinta geração. A finalidade é extensível à produção e engarrafamento de vinhos do Porto e de Denominação de Origem Controlada (DOC) “Douro”, com a chancela Vieira de Sousa Vines & Wines, projeto fundado em 2008 e apoiado pelo pai de ambas, António Vieira de Sousa Borges. Assim, os vinhos do Porto desta família passaram a ter nome próprio e os DOC Douro, cuja estreia remonta a 2011, são feitos a partir de uvas próprias e castas durienses. Estas são colhidas dos cerca de 70 hectares de vinha dividida em diferentes propriedades da família situadas na sub-região do Cima Corgo.
DOC Douro com potencial de guarda
Da Quinta da Fonte, localizada em Celeirós do Douro, são colhidas as uvas para a produção do Vieira de Sousa Reserva branco 2021 (€17). Situada a 500 metros de altitude, virada a Nascente e de solos predominantemente xistosos, reúne, as características ideias para dar origem a vinhos frescos e com uma acidez equilibrada. Os dois atributos estão presentes na referida referência, feita a partir das variedades Rabigato e Viosinho. “Queremos apresentar a qualidade das uvas e do terroir”, explica Luísa Borges, que, desde a colheita de 2013 elege as duas castas para este vinho e sobre este 2021 é notório o potencial de guarda.
Vieira de Sousa Reserva tinto 2020 (€17) é outra das boas novas, desta feita, elaborado a partir das variedades Touriga Francesa e Touriga Nacional, colhidas numa única vinha, da Quinta de Água Alta, em Gouvinhas, e de uvas vindimadas numa vinha velha da Quinta do Fojo Velho, em Vale de Mendiz. “As castas são vinificadas e estagiadas em separado. O lote só é feito quando [o vinho] é engarrafado”, salienta a enóloga.
Apesar do perfil fresco deste vinho, mais apetecível nos dias frios e amenos, Luísa Borges insiste na feitura do Vieira de Sousa Unoaked 2021 (€13), feito com as mesmas castas vindimadas na referida propriedade. Esta referência é produzida desde 2012 e sempre com a predominância da Touriga Francesa, “casta que mais gosto de trabalhar”, revela a Luísa Borges. Além de estar virada a Nascente, esta vinha beneficia “das manhãs frescas”, acrescenta, já que está situada na cota mais baixa do vale, o que contribui para a igual frescura e a acidez deste vinho, que se apresenta ainda mais elegante.
Património incontornável
O legado iniciado por José Silvério Vieira de Sousa, continuado por José Ermelindo, bisavô de Luísa e Maria Eduarda Borges, bem como pela avó Maria Luísa Vieira de Sousa e a sua irmã, Alice, e prosseguido por António Vieira de Sousa Borges, a dupla de irmãs, juntamente com Maria de Lurdes, é hoje preservado. “Somos guardiãs de stock”, declara a enóloga da casa a respeito do Vinho do Porto centenário, que permanece guardado. “Vamos engarrafando à medida das nossas necessidades” e com a colaboração de Pedro Sá, enólogo entendido nesta matéria de Vinho do Porto, com quem trabalham desde 2018. No entanto, e apesar do “mercado do Vinho do Porto estar em declínio”, continuam a apostar na apresentação desta jóia da coroa da família.
Vieira de Sousa Porto Colheita branco 2003 (€48,60) é a prova de que o Vinho do Porto tem elevada qualidade, além de ser uma estreia nesta categoria. Feito a partir de castas vindimadas em vinhas velhas de uma vinha da Quinta da Fonte. Mas a aposta neste legado histórico vai mais longe, com Vieira de Sousa Porto Tawny 50 Anos. Elaborado a partir de vários lotes de Vinho do Porto, com idade mínima de 50 anos de estágio em tonéis e pipas guardados em armazéns localizado em propriedades da família é, para Luísa Borges, “um lote que mostra o potencial da empresa”. A sua profunda complexidade é o mote para brindar à estação que acaba de chegar e que será marcada por novidades trazidas por esta tripla de mulheres.
Brindemos!
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