Já o disse aqui, mas volto a dizê-lo agora diferentemente: a paixão é amor em ato. Escrevê-lo é lançar os olhos na direção do alto, e da raiz.
“Dois pesos, duas medidas”: …? Não. A imagem e a palavra são totalmente equivalentes, mantêm igual urgência, exigem-se na mesma proporção. A palavra inscreve-se no horizonte da bondade e a imagem é paixão por inteiro. A palavra é expelida, faz-se fumo e é riscada com carvão nas superfícies. A imagem mostra-se na sua nudez, e é total. Ver uma imagem é ser atingida num ponto de difícil definição e, no entanto, todo o esforço para nomear, descrever, dar a ver, esse invisível em que colidimos, é válido, meritório, mais: mesmo necessário. Porque, efetivamente, a única forma de ver o espírito é através da visibilidade: dos seres, das coisas. Depois, ou concomitantemente: há um ar, aquele que serve de estofo, de carne, de ligação, entre os seres, entre as coisas. A artista decanta esse ar, porque o vê; apesar de todas nós o inspirarmos e expirarmos, algumas pessoas não se dão conta dele. E qual a razão para que umas o vejam e outras nem sequer entendam a sua existência? Porque existem modos de ver que confundem tudo, o que procede, parecendo paradoxal, de se olhar para os seres e para as coisas como se não fossem contíguas.
A palavra é bondade. A imagem, que aqui e agora procura dar conta da justiça, é ela mesma justa.