Pratos frescos, notas aromáticas mais leves e o colorido dos ingredientes anunciam a chegada da época de estio a este restaurante de Lisboa, pelas mãos da equipa do chef Carlos Afonso.
O Oitto, localizado no Chiado, em Lisboa, está prestes a assinar o primeiro aniversário. Aberto desde Julho de 2022, é palco da “comida portuguesa, porque é feita com produtos portugueses”, esclarece Carlos Afonso, no sentido de desmistificar que se trata de um restaurante de cozinha tradicional. “Alguns são inspirados em receitas portuguesas, nomeadamente a alheira com couve portuguesa salteada e ovo estrelado”, sugestão que rimava com a estação de Inverno.
Embora haja desvios para cozinhas de outras latitudes, onde os ingredientes nacionais marcam forte presença, o chef assegura que “cada vez vou inspirar-me mais em outros lugares, desde que seja saborosa. A comida ser saborosa e ser consistente juntamente com o serviço, que é a coisa mais difícil que há, porque requer estabilidade de equipa, na entrega das matérias primas, na confecção. Isso leva tempo…”
Quase um ano depois do Oitto abrir portas, é chegada a altura de celebrar novamente a chegada do Verão. A rima é perfeita com os cocktails preparados pelo barman Pedro Dias, no bar instalado na mezzaninne do restaurante Oitto. Recém-integrado nesta profissão, criatividade não falta, assim como “liberdade para criar”, reforça, daí que, além dos clássicos, a carta também é composta pelos de autor. E não raras são as vezes que, quem faz a refeição ao balcão do bar, acompanha o desfile de pratos com cocktails.
A mesma sequência é feita na cozinha, com pratos leves e frescos, como as ostras ao natural. A alternativa são as ostras à Oitto, com pickles de pepino, óleo de coentros e raspa de lima. Mas a profunda ligação de Carlos Afonso – natural de Beja e com formação na Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre – é visível, na ementa do restaurante. Da empada à alentejana de galinha à papada de porco braseada, ou o croquete Oitto, feito a partir “de carne de vitela estufada lentamente durante várias horas”, de acordo com a descrição da ementa.
Pato e cogumelos de escabeche, molho que remonta a tempos há muito idos, testemunha a inspiração em heranças que prevalecem por cá, sem esquecer escapar a salada de polvo com pimentos. Só a ceviche de corvina “da nossa costa”, batata-doce de Aljezur e cebola portuguesa, o ceviche de atum e o tártaro de carne Oitto style dão boleia para outros destinos. Uma vez mais, o chef reforça a primazia do produto nacional.
A cada prato sugerido na ementa do Oitto, Carlos Afonso adicionou a respectiva explicação – o bife de atum, de inspiração açoreana, o polvo grelhado com pimentos assados, azeitona preta e batata-doce de Aljezur, baseado no prato algarvio, e o bacalhau assado, ingrediente-chave de mil e uma receitas de muitas partes do país. Sem esquecer o arroz malandrinho de camarão, “um prato típico um pouco por todo o país”, segundo a descrição na ementa e intemporal. Quem não consegue sentir os aromas desta criação gastronómica divinal?
O chouriço de porco alentejano surge, como não poderia deixar de ser, na primeira sugestão dos pratos de carne: arroz de pato malandrinho à chef Carlos. Aqui, os coentros e a laranja marcam presença. As bochechas de porco estufadas durante três horas em vinho tinto são já uma provocação para os mais indecisos neste alinhamento “carnal”, com o clássico bife à portuguesa acompanhado por “um molho com um leve toque de mostarda” a entrar na fila dos favoritos.
Inspirada nas “burras” alentejanas, a terrina de bochecha de vaca velha estufada durante quatro horas em Vinho do Porto entra nesta jogada num piscar de olhos.
Tal como na cozinha, onde a partilha, “sobretudo do conhecimento” é ponto assente para o chef Carlos Afonso, que é da opinião de que “prendemos com todos, desde o cozinheiro ao ajudante de bar”, a mesma acção estende-se à mesa do Oitto, desde as entradas à sobremesa. Quem vai resistir à tábua constituída por Queijo da Ilha, com 24 meses de cura, queijo de ovelha curado alentejano tipo merendeira e queijo de cabra alentejano curado, e enchidos? Ou à paleta de porco alentejano “criado no Alentejo”. “Depois existe a partilha do bem receber, que todos os dias a equipa faz com muito empenho e esforço”, acrescenta.
Encharcada com sorbet de tangerina é outra receita intrinsecamente ligada às raízes de Carlos Afonso. Afinal, trata-se de um doce originário do Convento de Santa Clara de Évora. Mousse de chocolate com avelã é uma preciosidade do, que “nasceu de uma vontade minha em ter uma cozinha maior, um restaurante com um bar, onde pudesse desenvolver cocktails, mas sem se pretensioso. Ter uma boa comida e bom ambiente”.
Bom apetite!