Cícero Bistrot, o restaurante que também é uma galeria de arte

Nome maior da pintura modernista do Brasil, Cícero Dias é o ponto de partida para a criação deste espaço localizado no bairro lisboeta de Campo de Ourique, onde os ingredientes portugueses e brasileiros, com um toque francês, fomentam o diálogo com a arte.
As profícuas peças de arte dispostas nas três salas do Cícero Bistrot dão azo a que o restaurante seja, simultaneamente, uma galeria de arte


A abertura do Cícero Bistrot acontece em Julho de 2022, no n.º 171 de Campo de Ourique, um dos bairros mais emblemáticos de Lisboa. A escolha deste local por parte do co-fundador e co-proprietário, Paulo Macedo – que conta com a sócia Ana Carolina Silva –, não é feita por acaso. Em Dezembro de 1943, o artista pernambucano Cícero Dias, um dos nomes incontornáveis da pintura modernista do Brasil, casa-se com Raymonde, na Basílica da Estrela, igreja localizada no coração deste bairro, onde reside até 1945. Durante este período dedica-se à missão de Adido Cultural da Embaixada do Brasil em Portugal e, logo no primeiro ano, participa no Salão de Arte Moderna, em Lisboa, onde é distinguido com um prémio. 

Em jeito de roteiro, Cícero Dias é quem, através das suas obras, dá as boas-vindas, na Sala Modernista, espaço para o qual se abre a porta de entrada para o Cícero Bistrot. A par com os trabalhos do pintor pernambucano, estão vitrais de Marianne Peretti, artista parisiense que trabalhou com Oscar Nimeyer na construção de Brasília, capital do Brasil. Há ainda outras obras de outros artistas brasileiros eternizadas neste restaurante. Basta descer a escada de acesso ao Salão Contemporâneo ou reservar a Sala Origem, recanto destinado a refeições mais intimistas, para comteplar toda a coleção de arte pertence a Paulo Macedo. As peças de mobiliário vintage complementam a decoração.

Das paredes para a mesa, impera a explicação acerca da ementa do Cícero Bistrot. A primazia é dada a uma espécie de diálogo entre ingredientes portugueses, brasileiros e franceses. Esta missão cabe ao chef português Hugo Cortez, que confere, a cada prato, as técnicas da cozinha francesa. No fundo, cada prato reflete a trilogia Recife-Paris-Lisboa, três cidades por onde passou Cícero Dias, que convergem numa viagem gastronómica a experimentar.

Senão, vejamos. Broa de milho e sardinhas protagonizam a tapa “Santos Populares”, numa ode a Lisboa, enquanto a geleia de moqueca com a broa de milho e robalo já convidam a viajar ao Brasil. 

Nas novidades, constam o carabineiro e robalo em molho de coco e azeite de dendê, bem como o lavagante com risotto de gengibre e endro, zest de chocolate e pickles de galanga (gengibre tailandês). 

Há creme de peixe da nossa costa, assim como o infalível bacalhau com crosta de milho, salsa e azeitona preta, batata assada no forno, pimentos e grelos de nabo salteados com alho. Já o arroz de coentros é feito com lírio e amêijoas pretas, e acompanhado por chips de mandioca.

A perna de pato confitada, o lombinho de porco preto, o entrecôte grelhado e o lombo de novilho maturado também são acompanhados por alimentos de outras latitudes, de onde são trazidos ingredientes utilizados na feitura das sobremesas. Lascas de coco, farinha de rosca, chocolate negro da Amazónia, e gelado de açai comprovam este roteiro pelo Brasil. Com particular destaque para o pudim do marquês, flan tradicional brasileiro a provar.

Na carta de vinhos, desenhada pelo escanção Rodolfo Tristão, marcam presença referências nacionais e francesas, com destaque para o tinto Belle de Jour, inspirado na música do brasileiro Alceu Valença, cujas sonoridades podem muito bem fechar esta viagem sensorial à mesa do Cícero Bistrot, entre terça-feira a sábado, ao almoço, e segunda-feira a sábado, ao jantar. 

Sala Modernista
Sala Origem
Carabineiro e robalo, molho de coco e azeite de dendê
Pudim do marquês, o flan tradicional brasileiro


Bom apetite!


+ Cícero Bistrot

© Fotografia: João Pedro Rato

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