Há nova subida ao palco, pela companhia de teatro Marionet, já este mês de outubro. Focada na temática da pílula contracetiva, esta é também uma homenagem a um dos seus “progenitores”, Carl Djerassi. Porque na ciência, há teatro.
No ano em que se assinala o centenário do nascimento do cientista e dramaturgo Carl Djerassi, a Marionet relembra esta pessoa com a qual a companhia colaborou diretamente em espetáculos anteriores e que ficou mundialmente conhecido por ser um dos responsáveis pela invenção da Pílula.
A comercialização em larga escala deste inovador método contracetivo contribuiu para uma profunda transformação social, sobre a qual “iMaculada” reflete. Abordando temas ainda povoados de dúvidas, mitos e inibições, como a sexualidade e a contraceção, neste espetáculo a companhia teatral conimbricense parte do processo histórico de desenvolvimento da pílula, assim como do impacto e resistências que a sua utilização provocou (e ainda provoca).
Segundo as palavras de Mário Montenegro, diretor artístico da Marionet e autor do texto original de “iMaculada”, a criação teve por base «um trabalho de pesquisa referente à história do desenvolvimento da pílula, o modo como esta atua no corpo feminino, a sua receção pública e o seu impacto social», sendo que, ao longo da peça, estas e outras questões «atravessam os pensamentos, as palavras, as ações e as situações que são representadas pelos intérpretes». Sublinhou também a importância de Carl Djerassi no percurso da Marionet, que «produziu duas das suas peças, tendo o autor assistido à apresentação da primeira [“Cálculo”], em Coimbra, e financiado a segunda [“Ego”], que estreou já após a sua morte».
Sinopse de “iMaculada”
O primeiro contracetivo feminino de ingestão oral, Enovid, criado e distribuído nos Estados Unidos a partir de 1960, revolucionou o conceito de sexualidade. A pílula é considerada uma das mais importantes contribuições científicas do século XX e comummente associada a uma libertação feminina do jugo da maternidade forçada. Passadas seis décadas sobre a sua invenção, será que este desenvolvimento tecnológico representa, hoje, uma libertação para as mulheres?
“iMaculada” reflete sobre os modos como a pílula é percebida, os modos como é utilizada, as transformações sociais que acarretou. No contexto em que vivemos, ao discutirmos assuntos como estes, relacionados com sexualidade, atravessamos um terreno ainda pouco esclarecido e povoado de dúvidas, mitos e inibições. A nossa intenção com este espetáculo é criar um espaço aberto ao questionamento e à reflexão.
Tida por algumas pessoas como a mãe da revolução sexual, a pílula tem sido disputada quanto à sua paternidade? Porquê esta necessidade de encontrar um pai?
A não perder no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) de 25 a 27 de outubro, pelas 21h30. •