Muito! Sobretudo quando são pratos cheios de sabor e viciantes, de comer até ao fim e servidos na dose certa. Mas há mais boas-novas no Tapisco do chef Henrique Sá Pessoa.
Desengane-se quem julgue que o Tapisco, do chef Henrique Sá Pessoa, é um bar de tapas. No n.º 81 da Rua D. Pedro IV, localizada no Príncipe Real, em Lisboa, servem-se pratos com sabores bem portugueses, a par com receitas inspiradas na cozinha latino-americana e da vizinha Espanha. O balcão em mármore disponível para uma dezena de lugares é o lugar ideal para acompanhar a azáfama controlada e articulada dos cozinheiros. As mesas dispostas em fila, onde metade dos lugares são sofás em pele castanha, são a alternativa, para quem prefere uma conversa fluída a dois ou a quatro, durante o almoço ou o jantar. Eis os aspectos a enaltecer, sobretudo nos dias de hoje, em que novos públicos procuram locais com um ambiente descontraído, com música a condizer e uma carta de vinhos a consultar.
Cozinha portuguesa apurada
Para os conhecedores deste espaço de restauração de Henrique Sá Pessoa, esta introdução não é novidade. Nas novidades cabem, isso sim, seis pratos. Comecemos pelo pica-pau de cogumelos, a experimentar, bem como pelo mexilhão à espanhola. Esta entrada quente cuja receita tem, como base, a congénere espanhola, tem um molho de tomate, com malagueta q.b. e rebentos de coentros, que merece a passagem de pedaços de pão quente servido como companhia indissociável, claro está. Neste contexto, Henrique Sá Pessoa declara que, inicialmente, havia igualdade entre o número de pratos nacionais e pratos espanhóis no Tapisco. Agora, confessa que a balança pende mais para o receituário português.
A caldeirada de garoupa é exemplo incontornável dessa decisão, que o chef foi assumindo de forma natural. Este é uma das boas-novas da ementa e vale cada garfada, graças ao molho aveludado, ao ponto de cozedura do peixe e do camarão, sem esquecer, uma vez mais, os rebentos de coentros, que confere um ligeiro toque picante ao prato. Junte-se o viciante arroz caldoso de marisco, com mexilhão, camarão e vieiras nesta pequena lista de novidades, servido num pequeno tacho, tal como a caldeirada.
O arroz doce servido também em creme juntamente com gelado de canela, molho de caramelo e miso, e maçã caramelizada, entra neste desfile. O mesmo destaque é atribuído à sericaia, de textura semelhante à de um pudim, encimada por pedaços de Ameixa d’Elvas e acompanhada por um gelado de limão, para contrablançar a doçura do referido doce conventual.
Os bons sabores de Espanha
Pelo meio, e em jeito de incentivo às papilas gustativas, fica o peixe marinado, introduzido na ementa há menos de um ano e que rima com os dias de calor, que se adivinham. A respeito desta entrada fria, é, em 90 por cento das vezes, a garoupa a eleita para protagonizar esta fusão genial entre o ceviche e o peixe alimado, técnica da cozinha algarvia, que, aqui, resulta na perfeição.
Sabor e frescura são atributos a enaltecer a respeito desta sugestão da ementa do Tapisco, com a ligeira salinidade emprestada pela alga alface-do-mar e a acidez do “leite de tigre”, ao qual o chef lisboeta juntou alho, azeite e rebentos de coentros, para aumentar a intensidade da sensação de picante, mas q.b. A batata-doce é um truque bem pensado no que ao equilíbrio de sabores diz respeito.
O tártaro de atum, com abacate e “ovas” de wasabi, la bomba de Lisboa, à qual é introduzida a alheira ao invés da carne picada, como manda a cartilha de nuestros irmanos, as gambas al ajilho, a tortilha de patata, os huevos rotos ou a paella negra são outras das muitas viagens gastronómicas a fazer por Espanha. De Portugal, são de experimentar, entre outros, o bacalhau à Brás ou o bacalhau à Gomes de Sá, ou o arroz de pato, este na secção das brasas, onde também entra a presa de porco ibérico ou os legumes grelhados.
Os pratos do Tapisco do chef Henrique Sá Pessoa apresentam doses generosas q.b., que pode pedir para partilhar todos os dias, à excepção da hora do jantar de sábado e domingo. Bom apetite!