Novo álbum: “Last Dance” / Keith Jarrett & Charlie Haden

Dois nomes incontornáveis do jazz, da música. Dois gigantes que se juntam com um piano e um contrabaixo, num álbum obrigatório.

Keith Jarrett e Charlie Haden, piano e contrabaixo respetivamente, decidiram tocar juntos clássicos mágicos do jazz, dando continuidade seu projeto, depois do sucesso do álbum “Jasmine” (2010), onde nos deixaram rendidos ao seu formato duo. Um álbum que se tornou ainda mais precioso e com um título que… acaba por ser tão absolutamente verdadeiro sabendo que Charlie Haden nos deixou, no passado dia 11 de julho 2014, aos 76 anos. É esta a última dança a dois que não terminará, nunca, porque o álbum tocará sempre.

O registo, irrepreensível, destas nove interpretações do universo bem conhecido do jazz e do Great American Song Book, data da altura de “Jasmine”, no estúdio de Keith Jarrett, em sua casa. Mais do que bem conhecidas, são clássicos obrigatórios: “My Old Flame” (Arthur Johnston/ Sam Coslow); “My Ship” (Kurt Weil/ Ira Gershwin); “Round Midnight” (Thelonious Monk); “Dance Of The Infidels” (Bud Powell);  “It Might As Well Be Spring” (Richard Rodgers/ Oscar Hammerstein II); “Everything Happens To Me” (Thomas Adair/ Matt Dennis); “Where Can I Go Without You” (Victor Young/ Peggy Lee); “Every Time We Say Goodbye” (Cole Porter); e “Goodbye” (Gordon Jenkins)… é este o alinhamento, de ouro, desta dança entre um piano e um contrabaixo. Certo é que há dois momentos na dança em que somos transportados para “Jasmine” com Young e Peggy Lee e com Jenkins, na primeira o passo não tem mudanças muito sentidas, na segunda abrandamos subtilmente o ritmo, em ambas, porém, ouvimos como se fosse a primeira dança.

Tempos precisos, exactos, perfeitos. Apenas as notas pedidas. É simplicidade, é o “menos é mais” da música. Casamento perfeito de dois músicos que vestem os seus papéis com a humildade necessária (sem exageros) para que o seu tocar só viva com a existência do outro, só se complete quando acompanhado, e nunca se sobrepondo à mestria, ao tocar ímpar de cada individualidade (e claro, os vocalismos de Jarrett). Um álbum que não se pode imaginar só com Jarrett ou Haden, desde o início, quando começa a tocar. Se “Jasmine”, que uniu novamente dois músicos que não tocavam juntos há mais de 30 anos, foi uma viagem de sucesso merecidamente reconhecida, “Last Dance” é a confirmação máxima, com mais tempo de gravação, que quando dois geniais músicos se juntam com, apenas e só, um piano e um contrabaixo, estamos na presença de uma dança intima, tão cúmplice, que temos de agradecer a sorte de nos ser permitido ouvir e sentir. Sim, sorte poder ouvir música de excelência.

A forma como tocam é única e resulta de se saber ouvir como afirma Haden “Realmente, Keith ouve e eu oiço. Esse é o segredo“. Ao ouvir este álbum, só nos ocorre um verso, de uma música de Cohen, “dance me to the end of love“. Keith Jarrett e Charlie Haden sem apresentações, pois o nome e o tocar tudo nos dizem. Obrigatório ouvir! •

+ ECM Records