Novos álbuns II / Clean Feed

Hoje, como prometido ontem, a segunda e última parte dos últimos lançamentos pela editora Clean Feed, com Produção Executiva de Pedro Costa. Os últimos quatro álbuns de um total de oito.

Zanussi 5 / “Live in Coimbra”. Com Kjetil Moster (saxofone tenor e soprano, clarinete), Jørgen Mathisen (saxofone tenor e clarinete), Eirik Hegdal (saxofone barítono e clarinete), Gard Nilssen (bateria), Per Zanussi (contrabaixo).
Gravado ao vivo, em Coimbra, durante a edição de 2013 dos Encontros Internacionais de Jazz, esta é a forma de se saber como o quinteto, liderado por Per Zanussi, soa em palco. Enérgico e lírico, combinando improvisação livre e estruturas melódicas, “Live in Coimbra” oferece uma perspetiva única, quase surrealista da gramática jazz. A frente formada por saxofones (mais clarinetes) é parte do segredo para o som de Zanussi: Kjetil Moster, Eirik Hegdal e Jorgen Mathisen transmitem perfeitamente o que parece deslocar-se entre um universo sonoro de uma big band e de um grupo de câmara de sopros. Em pano de fundo, mas cruciais ao quinteto, o contrabaixo sempre assertivo de Per e a bateria enérgica de Gard Nilssen. A música é funky, com um ritmo coeso todo o tempo. Zanussi 5 aprofunda estranhas e cinemáticas paisagens sonoras, que relembram os exóticos fifties. É imaginar um caleidoscópio, sempre a mudar cores e formas. Gravado, ao vivo, no Salão Brazil, Coimbra – Portugal, dias 31 de maio e 01 de junho de 2013 por João P. Miranda; misturado por Ingar Hunskaar em maio 2014, masterizado por Luis Delgado em agosto 2014; produzido por Per Zanussi.

Brötzmann/ Edwards/ Noble /”Soulfood Available”. Com Peter Brötzmann (saxofones tenor e alto, clarinete b-flat/contrabaixo, tárogató), John Edwards (contrabaixo), SteveNoble (bateria).
É o segundo álbum do trio Peter Brotzmann com John Edwards e Steve Noble, que sucede “The Worse the Better” (estando também juntos num terceiro projeto – “Mental Shake” – junto com Jason Adasiewicz/ vibrafone). E, assim como o primeira gravação, ao vivo em 2010 no Café Oto, o que vai encontrar aqui é o registo ímpar de um concerto vivido – a performance do trio durante a edição de 2013 do Festival de Jazz de Liubliana. A banda é a reunião de várias gerações de improvisadores europeus e a melhor noção que pode ter do que foi encontro, tão especial, é ouvi-los assim, a tocar ao vivo sem redes. As conclusões que, certamente, irá tirar, é que Brotzmann está longe de ser uma figura histórica que tenta apenas manter viva a sua mensagem; é o oposto, ele continua na linha de frente, sempre levar a música adiante, sem nunca parar de evoluir. Um álbum para os que gostam de emoções fortes. Gravado em 54.º Ljubljana Jazz Festival, na Eslovénia, a 06 de julho de 2013; gravado, misturado e masterizado por Luis Delgado; produzido por Brötzmann, Edwards, Noble.

De Beren Gieren plus Susana Santos Silva / “The Detour Fish (Live in Ljubljana). Com Fulco Ottervanger (piano), Susana Santos Silva (trompete e flügelhorn/fliscorne), Lieven Van Pée (contrabaixo), Simon Segers (bateria).
O Ljubljana Jazz Festival tem a boa prática em programar, no seu cartaz, tanto veteranos como novatos que já provaram o seu valor e neste álbum está a prova/ gravação de concerto ímpar, apresentado na edição de 2014 desse evento, pelo jovem trio de piano jazz – De Beren Gieren. Depois de colaborações várias – Ernst Reijseger, Louis Sclavis e Jan Klare – desta vez, os improvisadores belgas Fulco Ottervanger, Lieven Van Pée e Simon Segers têm a presença da trompetista portuguesa Susana Santos Silva, uma convidada mui especial. Todos os quatro tocam aqui com uma missão: encontrar novos caminhos com as ferramentas da tradição jazz e com algumas apropriações mais clássicas e técnicas. Um dado é certo: eles conseguem-no. A música é uma lufada de ar fresco, por vezes com humor reforçado e também com estilo groovy – pois, há alguns riffs de rock durante a gravação. Gravado ao vivo no Festival de Jazz de Ljubljana a 04 de julho de 2014 por Luís Delgado; misturado e masterizado por Luís Delgado; produzido por De Beren Gieren.

Tony Malaby TubaCello / “Scorpion Eater”. Com Tony Malaby (saxofones tenor e soprano), Christopher Hoffman (violoncelo), Dan Peck (tuba), John Hollenbeck (bateria, percussão e piano preparado).
Enquanto bandleader na improvisação, em Nova York, o saxofonista Tony Malaby abraçou uma série de grupos, entre eles um trio com tuba e bateria e outro com violoncelo e bateria. As possibilidades tímbricas e as texturas desses trios foram incomparáveis e criaram uma base criativa para o conceito distinto de Malaby chegar ainda mais longe. Nos últimos anos, Malaby decidiu unir todos os instrumentos, num quarteto, e chamar alguns dos seus colaboradores: Dan Peck, Christopher Hoffman e John Hollenbeck. O resultado é este “Scorpion Eater” – “This band has a different type of gravity that playing with a bassist simply doesn’t have. I just want to be embedded in that and just be in the middle“, diz o saxofonista de Nova York, um dos mais convincentes criativos do jazz atual. A formulação e textura de “Scorpion Eater” é notável pela sua flexibilidade e também pela leveza rítmica, com saxofone de Malaby no topo da energia dada pelos músicos que tocam consigo. Este álbum é música que se apresenta como arrebatadora e irresistível. Tem uma energia inebriante que a presença do saxofone de Malaby exige, desde o começo. Gravado no dia 22 de dezembro e 23, de 2013, nos Systems Two studios, Brooklyn – Nova Iorque por Joe Marciano assistido por Max Roth; misturado por Christopher Hoffman; produzido por Tony Malaby.

Com estes quatro álbuns terminam as apresentações dos últimos lançamentos da Clean Feed. Todos os álbuns contam com a produção executiva por Pedro Costa, Trem Azul e Design by Travassos. A ouvir, a descobrir Jazz atual.  •

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