“Os Maias” + João Botelho / TAGV

Obra literária a que ninguém escapa, e ainda bem. Referência e referenciado, “Os Maias” de Eça de Queirós chegaram ao grande ecrã pela mão de João Botelho. Muitos já viram o filme nos cinemas, mas agora é tempo de o ver, de outra forma.

O filme “Os Maias”, do realizador João Botelho, é a primeira adaptação cinematográfica da obra homónima de Eça de Queirós considerada uma das mais importantes da literatura portuguesa, vai percorrer o país com a presença do realizador. Em Coimbra, o filme será exibido no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) com sessões para escolas nos dias 28 (10h00) e 29 de janeiro (10h00 e 14h30). Tal como aconteceu com o filme do “Desassossego”, esta digressão nacional será acompanhada pelo realizador ou por um dos atores, que estará disponível para responder às perguntas dos professores e alunos, logo depois de cada sessão. Porque o cinema também nos ensina e ver um filme pode ser uma aula diferente. Se é professor na região de Coimbra, ou aluno, que tal programar, para um destes dias, uma ida ao TAGV?

Eça de Queirós publicou “Os Maias”, um dos grandes clássicos da literatura portuguesa, em 1888. Conta a história da família Maia ao longo de três gerações, centrando-se depois na última geração e dando relevo aos amores incestuosos de Carlos da Maia e Maria Eduarda. É através deste romance que Eça compõe um retrato mordaz e acutilante do Portugal da época, centrado na visão da alta sociedade lisboeta. Inovador no estilo e na técnica narrativa, “Os Maias” é o livro mais ambicioso de Eça, que o considerou a sua obra-prima.

Nas palavras do realizador “Entre Afonso da Maia e o seu neto Carlos, constrói-se o último laço forte da velha família Maia. Formado em medicina na Universidade de Coimbra e posteriormente educado numa longa viagem pela Europa, Carlos da Maia regressa a Lisboa no outono de 1875, para grande alegria do avô. Nos catorze meses seguintes, nasce, cresce e morre a comédia e a tragédia de Carlos como a tragédia e a comédia de Portugal. A vida ociosa do médico aristocrata, invariavelmente acompanhado pelo seu par amigo, o génio da escrita e de obras ‘inacabadas’, o manipulador João da Ega, leva-o a ter amigos, a ter amantes e ao dolce fare niente, cheio de convicções. Até que se apaixona de verdade por uma mulher tão bela como uma madona e tão cheia de mistérios, como as heroínas da estética naturalista. Um personagem novo num romance esteticamente revolucionário. A vertigem: paixão louca para lá dos negrumes do passado, um novo e mais negro precipício, o incesto. Mesmo sabendo que Maria Eduarda é a irmã a paixão de Carlos não morre e vai ao limite. E depois termina abruptamente porque o velho Afonso da Maia morre para expiar o pecado terrível do seu neto, neto que era a razão da sua existência. E então em vez da morte do herói, nova invenção de Eça. Carlos e Ega partem para uma longa viagem de ócio e de pequenos prazeres. Dez anos depois, voltam a encontrar-se em Lisboa tão diferente e tão igual, a capital de um pais a caminho da bancarrota. ‘Os Maias’, escrito pelo genial Eça de Queiroz, grande, melodramático, divertido e melancólico, aponta um destino sem remédio, tanto para a família Maia como para Portugal“.

João Botelho, realizador, passou pela Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e dirigente do CITAC. Cineclubes de Coimbra e Porto. Como professor, esteve na Escola Técnica de Matosinhos e tornou-se ilustrador de livros infantis e artes gráficas a partir de 1970. No seu caminho está também a Escola de Cinema do Conservatório Nacional e é crítico de cinema em jornais e revistas, e fundou a revista de cinema M. Iniciou-se na realização com 2 curtas-metragens para a RTP e o documentário de longa metragem “Os Bonecos de Santo Aleixo” para a cooperativa Paz dos Reis. Teve filmes premiados nos festivais de Figueira da Foz, Antuérpia, Rio de Janeiro, Veneza, Berlim, Salsomaggiore, Pesaro, Belfort, Cartagena, etc, e foi distinguido por duas vezes com o prémio da OCIC, da Casa da Imprensa e dos Sete de Ouro. Todas as longas metragens tiveram exibição comercial em Portugal, quase todas em França e alguns em Inglaterra, na Alemanha, em Itália, em Espanha e no Japão. Teve retrospetivas integrais em Bergamo (1996), com edição de uma monografia sobre a obra em La Rochelle (1998) e na Cinemateca de Luxemburgo (2002). Em 2005 foi distinguido com a Comenda da Ordem do Infante, de mérito cultural. Um curriculum bem preenchido de um realizador que deu vida, na sétima arte, a uma obra ímpar.

A ir, em Coimbra, para ver e conversar os e sobre “Os Maias”.  •

+ TAGV
© Imagem: pormenor do cartaz de divulgação.