Tête-à-tête com Pedro e o(s) Lobo(s)

O Pedro, é Galhoz. Todavia, anda com os Lobos. Ouvimos o EP, deambulámos em palavras sobre “Um Mundo Quase Perfeito”. Divulgámos concertos (continuaremos a divulgar) e fomos a um concerto, claro.

Depois de EP ouvido e esmiuçado – aqui nos perdemos entre notas com palavras – e um concerto assistido, tornava-se imperativo este jogo rápido de pergunta resposta sobre um projeto que tem tantas patas para andar (nota: estamos a falar de lobos). E há coisa que não se pode deixar passar e perfeita para começar: Sergei Prokofiev. No ido ano de 1936 era criada a história infantil mais musical de sempre “Pedro e o Lobo”, pela pena inconfundível de Prokofiev, que também se pode recordar pela reconhecida composição “Dance of the Knights”. Como percebem, se somos confrontados com um projeto musical de nome Pedro e os Lobos, ressuscitar Prokofiev era inevitável. Mas concentremo-nos na primeira e vamos a meia dúzia perguntas. Só seis e no fim sabereis o porquê de conta certa e não mui extensa.

Pedro, desmistifiquemos o nome. A obra de Prokofiev marcou-te a infância onde o in repeat era mote para tudo? Ou não há qualquer ligação ao universo composto pelo Sr. P.? Desvenda-nos.
Pedro Galhoz (PG): A história de Pedro e o Lobo foi uma agradável coincidência, pois quando procurei um nome, para o meu projecto, essa referência da infância e a força da própria história foram sem dúvida factores chave para a escolha do nome.

Feito. Pedro e os Lobos tem relação com “Pedro e o Lobo“, a Mutante na senda certeira…

Agora, longe do que pode, ou não, ter a mencionada obra influenciado o nome, a mesma, “Pedro e o Lobo”, foi escrita com o intuito pedagógico de dar a conhecer a sonoridade de cada instrumento. Até que ponto consideras a música, genericamente falando, pedagógica e essencial à educação e construção de uma sociedade? E, na tua, o que nos ensinas?
PG: A música é sem dúvida a mãe das artes, aquela sem a qual o mundo não faz sentido, imaginar o mundo sem música é um erro infinito. Não sei se a minha música tem pedagogia, gostava de não ser eu a avaliar esse ponto. No entanto, assumindo desde já que ela é um exercício de liberdade absoluto, poderá fazer sentido assumir que sim!

Lobo, Gato, Avô,… e o Pedro. Em Pedro e os Lobos há, também, vários personagens, como a voz feminina, que integram a história. Como se reúne a tua matilha e o porquê de cada um, neste trabalho?
PG: Convido pessoas que admiro e que acredito compreenderem o meu universo musical. Assumi, até agora, não cantar, logo, recorro a pessoas que vestem as minhas músicas da forma que eu as imagino. Porém, gosto igualmente de ser surpreendido pelo talento dos convidados e fui, sobretudo nas colaborações do João Rui, dos a Jigsaw, e na colaboração do Carlão.

Nesses convidados tão a preceito, com que editas este EP – Aldina Duarte, João Rui, Pacman, António Ribeiro e Tó Trips – o que quiseste, de cada um deles, para este teu mundo? Ficou a faltar alguém?
PG: Posso dizer que todas as pessoas que convidei aceitaram o meu desafio, estou muito contente. Conheço, particularmente bem, o trabalho de cada convidado e tive a preocupação de os desafiar sem os chocar. Tentei produzir uma obra em que eles se revissem, penso que consegui. E, para já, penso que não falta ninguém.

Na lírica e composição, este teu mundo entra-nos forte no ouvido, não se fica indiferente. “Alma e Sangue”, “Volta à Morte” a “Noite Fria” e há o “Diabo Sabe o Meu Nome”. Amenizado um pouco n”Os Braços do Sol” e com uma esperança na “Dança”. Na composição há algo verdadeiramente nosso, creio. Na lírica há uma carga matizada de breu e ironia. O que é transversal a todas no conteúdo e que história nos contas em 7 capítulos?
PG: As letras são, por vezes, fruto da vivência na primeira pessoa e outras vezes fruto da observação do que nos rodeia; no meu meio sou um espectador ativo e atento. Gosto de escrever sobre as relações e sobre a condição humana, admiro a nobreza dos actos e o cristal dos sentimentos.

Dizes-nos que isto é só meia etapa. Numa “Volta ao Mundo em 80 Dias”, estes seriam só os primeiros 40 de algo que nos anuncias para 2015. Falas de um Lado B. Novo EP ou um desejado LP? Será o LP “O Mundo Perfeito” ?
PG: (Risos). Tenho como objectivo uma nova edição, em 2015, sem fazer disso uma obsessão. Não quero correr contra o tempo, mas sim ao lado dele. Gostava de lançar o lado B de um Mundo que nunca será perfeito, afinal, quem quer o mundo perfeito?

E não mais que seis perguntas chave porque em “Pedro e o Lobo” só há seis personagens representados pelos seus instrumentos – o Lobo (três trompas), o Avô (fagote), o Pato (oboé), o Gato (clarinete), o Passarinho (flauta transversal) e o Pedro (quarteto de cordas). Bom, também há os caçadores (tímpanos, timbales e bombo) que sois vós, o público que tem de caçar e degustar este novo trabalho na musical nacional.

“Um Mundo Quase Perfeito”, está disponível em formato físico e digital . Bons sons! •

+ Pedro e os Lobos
© Fotografia: Miguel Barrento.