The fins of the Opera House / Sidney

A Ópera de Sidney é um marco no universo construído, quer na história da arquitetura australiana, quer na história da arquitetura internacional. Para a maioria dos habitantes de Sydney é impossível imaginar a cidade sem a Ópera que foi incluída pela UNESCO na lista de Património da Humanidade, em 2007. As “barbatanas” da Ópera de Sydney tornaram-se celebridades arquitetónicas e já muito se escreveu a seu respeito.

Visitei a Ópera de Sydney pela primeira vez em 2008. A Ópera foi um dos poucos edifícios que estudei como aluno de arquitetura, mas que nunca tinha tido o privilégio de analisar in loco. Aguardava ansiosamente por essa experiência.
Relembro vividamente a primeira vez que me dirigi à Ópera de Sydney. As “barbatanas” podem ser vistas de bastante longe e são indubitavelmente de uma enorme beleza. Mas, se me permitem a pergunta, sabem que materiais foram empregues na construção dessas “barbatanas”?
Confesso que a construção da Ópera de Sydney nunca foi assunto que me preocupasse, até ter tido a oportunidade de a visitar. Também não sabia que a Ópera tinha sido concebida, como projeto, em meados dos anos cinquenta; além disso, estou tão habituado aos processos construtivos contemporâneos, que nunca me passou pela cabeça que as “barbatanas” da Ópera tivessem sido construídas em betão e cobertas com mosaico cerâmico, como as fotos bem ilustram.
A primeira coisa que me veio à mente foi “mas que método de construção tão arcaico”, especialmente quando o betão é usado à escala da Ópera de Sydney, o que parece algo insustentável para um arquiteto dos tempos que correm.

Estudei as “barbatanas” em pormenor e fui recordando ter visto estruturas de betão colossais em países sem os conhecimentos e as competências técnicas para construírem edifícios com tal grau de sofisticação. Penso que, se a Ópera tivesse sido construída hoje, se teria sido usado um processo construtivo completamente diferente. No entanto, e apesar da minha estupefação, causada pela grande expetativa que tinha acerca do valor da Ópera de Sydney, como marco arquitetónico, consegui chegar a uma conclusão. Estas “barbatanas” foram, provavelmente, de uma enorme complexidade de construção para época. O que é fascinante reconhecer é que, embora tivéssemos pisado a lua nos anos sessenta, os avanços nos métodos de construção, sendo o Guggenheim de Bilbau um bom exemplo disso, são conquistas arquitetónicas recentes; eu nunca me tinha apercebido de tal, ou sequer pensado nisso, antes de visitar a Ópera de Sydney.
Mas há algo mais a dizer sobre as “barbatanas”, extremamente relevante pa-ra a história da arquitetura, que só depois de visitar o edifício é que tomei consciência. Embora o desenho ousado da Ópera de Sydney possa parecer desatualizado para um arquiteto contemporâneo, não nos devemos esquecer que o local abriu as suas portas ao público no ano de 1973. Desde então, a Ópera de Sydney tornou-se num edifício icónico que todos nós conhecemos e um dos símbolos mais fotogrados que mais se associam à Austrália.

Embora Sydney seja considerada por direito próprio uma das mais belas cidades do mundo, faltava-lhe um edifício digno de postal ilustrado, que fosse reconhecido em todo o mundo.
A Harbour Bridge era, desde os anos 30, a fotografia turística por excelência, mas foi a partir do momento em que a Ópera ficou concluída que Sydney ganhou um postal ilustrado icónico, reconhecido em todo o mundo. E o timing não poderia ter sido mais perfeito. Foi nos anos setenta que o turismo se propagou como um vírus no mundo desenvolvido; e as “barbatanas” da Ópera de Sydney revelaram ter o sex appeal capaz de atrair milhares de turistas a Sydney. Hoje em dia, a Ópera de Sydney atrai cerca de sete milhões de turistas por ano.
A Ópera de Sydney deixou de ser o desastre construtivo de que todos nós ouvíamos falar, para se tornar num marco arquitetónico que atrai como um íman os turistas e justifica uma visita a esta cidade portuária; demonstrando assim a edilidades de todo o mundo, como a arquitetura pode impulsionar a economia de uma cidade. Desde então, têm-se multiplicado concursos de arquitectura em todo o mundo, propostos por autoridades locais inteligentes, promovendo a construção de edifícios capazes de atrair turistas.

O Guggenheim de Bilbau é um bom exemplo disso mesmo. Bilbau deixou de ser conhecida como uma cidade industrial cinzenta, para se tornar num marco na arte contemporânea, atraindo milhares de turistas anualmente, desde que o museu abriu portas. Até o aeroporto da cidade teve de ser melhorado e atualizado. O aeroporto, que movimentava menos de um milhão de passageiros por ano antes da abertura do museu, chegou aos quatro milhões de passageiros em 2012.
Em suma, as “barbatanas” da Ópera de Sydney, construídas em betão e cobertas por mosaico cerâmico, fazem agora parte de uma cultura global, e é provavelmente irrelevante que tenham sido construídas num material considerado “passe” hoje em dia. A importância da Ópera de Sydney e das suas “barbatanas” reside no facto de este edifício ter dado uma contribuição importante no posicionamento de certas cidades como destinos turísticos através da arquitetura. Por outras palavras, a Ópera de Sydney lançou as fundações para a criação de uma arquitetura arrojada, tão presente nos dias de hoje.
Jorn Utzon faleceu em 2007. Frank Gehry, arquiteto do Guggenheim, exprimiu as suas condolências dizendo, “(Utzon) foi um arquiteto à frente do seu tempo”. Uma frase que eu não pude deixar de sentir como perfeita quando visitei o seu projeto mais emblemático. •

 + www.sydneyoperahouse.com

 

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