De cereja a flor… / Luísa Sobral

Hello Luísa! “Hello stranger”

Não vou começar no dó e acabar no si, não tenho sustenidos, não vou ao tradicional solfejo de perguntas que “Mr & Mrs Brown” já sabem as respostas. “Why should I?” Disse ao “Xico” que não me interrompesse. “After all”, “I would love to” have a nice talk! Algum recado ou saudades para o “Xico” antes de avançarmos?
Um obrigada por tudo. Ele levou-me a conhecer os músicos que tenho, levou-me a tocar em sítios onde queria tocar, levou-me a este disco, levou-me a tudo o que tenho agora, por isso, obrigada!

“As the night comes along”, em jeito de contradança das palavras, soltemos a conversa com amores cantados e acordes na memória porque “I remember you”, quando havia um bolo com uma cereja… Porque de um bolo com cereja saltamos para uma flor no quarto? Evolução ou só emoção?
É só emoção, não penso neste disco como uma evolução do disco anterior. Bom… sim, é uma evolução no sentido em que sou eu dois anos depois, mas não no sentido musical, são histórias diferentes, são dois discos diferentes. A flor é porque sinto que o disco é um pouco melancólico, mas também tem um lado feliz e a flor mostra que há esperança, que há um lado bonito das histórias. Queria uma flor por isto mesmo. O quarto é porque foi o primeiro disco que eu escrevi de volta a casa, escolhi-o naturalmente.

A flor é uma “Japanese rose”, a bebida é do “Sr. Vinho”, a cidade é Paris porque nos dizes  “I was in Paris today” e eu questiono “Cuantas veces” hesitaste em cantar em castelhano? Chegaste a pensar em jeito de metáfora “The letter I won’t send”?
É uma canção que foi escrita, há mais de um ano, para a nossa primeira tournée em Espanha. Era para ser tocada só nessa tournée, mas no dia a seguir a voltarmos de Espanha, tocámos “Cuantas veces” no Casino Lisboa. Quando foi para gravar não tinha a certeza se a queria porque não era uma das que eu mais gostava e não queria ter muitas línguas no disco, mas os meus músicos e o meu manager adoram essa canção e as pessoas divertem-se muito com ela. Passou a ser parte do nosso percurso destes dois anos, a fazer parte do nosso reportório. É como se fosse o nosso diário de bordo.

E agora um pouco de solfejo. Com a música, Luísa, foi algo como: “Quando te vi”, música, foi amor à primeira vista! Acertei? “Don’t let me down”.
Não me lembro bem como surgiu a música… Toda a gente ouve música e ninguém se lembra da primeira vez que ouviu música, a primeira vez que teve contacto com a música. Para mim foi exatamente igual, porém a minha família sempre foi muito musical e o contacto com a música foi sempre muito genuíno. Sei que tocar instrumento foi aos 12 anos, por querer tocar as músicas da rádio e a partir dai comecei a sentir que queria explorar mais, a perceber que não só queria tocar as músicas da rádio, mas tinha necessidade de compor coisas minhas. Confesso que houve um conflito entre representação e música, sempre gostei das duas e não sabia qual escolher, mas quando escolhi a música não pensei mais nisso.

E, hoje e desde ontem, escrever, compor, ir para estúdio há a sensação de quando se vê “Rainbows” no imenso céu? Há borboletas?
Para estúdio não há borboletas, porque há a possibilidade de errar e fazer outra vez, e só vou com pessoas com quem me sinto muito confortável, então nunca fico nervosa. Também já gravei muitas vezes, até quando andava na Universidade onde havia estúdio e fazia parte de quem estava a estudar Engenharia de Som convidar cantores para gravar, comecei aí a ter um grande à vontade em estúdio. O compor também não me deixa ansiosa, é quase como uma necessidade de por as coisas cá para fora, há uma necessidade de o fazer e, no fim, é um alivio. É algo completamente natural para mim.

Há algo que indago sempre no universo das musicalidades: a capacidade de não se perder o talento para criar novos projetos e não se ser “Déjá vu”. Já alguma vez disseste: criatividade, “Will you find me?”
Eu penso que o segredo é continuarmos sempre a buscar coisas diferentes naquilo que tocamos. Eu vou sempre criar e tocar músicas diferentes se eu for sempre ouvindo sons diferentes. Nós temos de, em qualquer área criativa, ler muitos livros, ver muitos filmes, ouvir muita música… Se for sempre fazendo isso eu, como pessoa e músico, vou evoluindo e nunca me vou repetir. Não tenho assim tanto medo que a criatividade não venha, não penso muito nisso e “se a criatividade vier, vai encontrar-me a trabalhar”. É isto que eu quero. Nós temos de trabalhar para que ela venha, temos que ir alimentando o nosso saco da criatividade, já dizia uma professora de teatro…

“Inês”… não estava posta em sossego e a verdade que todos desconhecem é que ela, com Pedro, “She walked down the aisle” ao som da Luísa, porque a tua música é de um amor assim, para sempre? Há uma queda para cartas de amor?
Eu acredito no amor. Acabei de ler o que será um dos livros da minha vida – O Amor nos Tempos de Cólera – é esse amor que eu quero. Atualmente não se acredita no amor para sempre, acreditamos em momentos ‘agora estou apaixonada!’, mas porque não posso dizer que vou estar apaixonada por toda a minha vida? Se calhar não vai ser, mas vou acreditar nisso, apesar das minhas histórias no disco nunca acabarem bem, excepto o “Sr. Vinho”, eu acredito no romantismo e nesse amor para sempre… tenho esperança.

Ok, vamos para “The last one” que a dança da contradança de palavras já vai longa e a “Clementine” já “Saiu para a rua” a perguntar “What do you see in Lily?” Luísa, de voz suave, baixa, de música de toada jazz com pinceladas pop… se tivesses de escolher um estilo para interpretar que fosse a contradança do teu, qual seria ele?
Nunca pensei nisso… Se calhar, não com a minha voz, com outra voz, mas escolhia o R&B de um Ray Charles, mais antigo, clássico. Sim, era este que escolhia.

Até já, “I’ll be waiting” por concertos e tantos mais originais.
Até já… •

© Fotografia: Gonçalo F. Santos.
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