Durante as viagens, registo o que vejo em fotografia, não ando sempre com os olhos atrás da máquina. A imagem fica registada na retina, ganha vida para sempre na minha memória e na memória do cartão digital. Na mala de viagem, trago também um objecto físico que me liga ao lugar visitado e quando é comprado directamente a quem o produz, a ligação ainda fica mais estreita. Não quero ter objectos coleccionados em casa nem apontar quantas milhas já voaram por mim. Gosto de conhecer as mãos por onde andam esses objectos e saber como nascem as coisas – “Das coisas nascem coisas” escreveu Bruno Munari, e das conversas também, digo eu.
Nas ruas, nos mercados, os vendedores que percebem quem não é “local”, argumentam e insistem em vender o que têm nas bancas, e eu ouço-os enquanto penso na capacidade de armazenamento da minha mala de viagem. Decido e trago o que vale um lugar em casa.
Último dia de férias, final da tarde, estou numa esplanada muito rústica, muito confortável, muito pouco colorida. É o branco que predomina em toda a estrutura de madeira. As mesas, os bancos e as almofadas que acomodam quem ali está a beber e a comer, são neutras. Tudo está organicamente desbotado. O único colorido pertence ao céu, à água que se chega muito perto dos meus pés e à roupa do rapaz que sai do balcão com um tabuleiro nas mãos para trazer os pedidos das mesas. Roupa que é um pano, “uma capulana com uma grande história” – como ele me disse, e reparo que é semelhante às que já estão arrumadas e prontas a seguir na minha mala de viagem.
Tenho curiosidade sobre as histórias dos tecidos e, enquanto ali estou, penso nas voltas que as capulanas deram há uns séculos, e ainda vão dar, e leio, numa rápida pesquisa que faço, que os portugueses foram responsáveis por uma parte da história destes panos tão icónicos. Uns com estampados a lembrar os tecidos de chita, outros tão geométricos que me remetem para as fachadas forradas a azulejo tradicional, e fico a saber que há uma relação estreita entre tudo isto.
Regresso com a mala cheia de capulanas.
Em conversa com uma amiga sobre trapos e sobre a possibilidade que eles nos dão de viajar até às mãos de quem os fazem, vem à conversa um projecto que reúne isso mesmo e que agora conheço: Üva | homewear. É uma marca made in Portugal de “roupa que veste a casa” inspirada pelos padrões dos tecidos de origem africana e portuguesa.
Conheço a colecção. Todas as peças são produzidas em tecidos de algodão, com padrões criados a partir de capulanas e de tecidos de chita portuguesa. Há “toalhas de mesa, individuais, almofadas, pousa-quentes, que complementam a decoração e definem a função de um espaço”. Caracteriza-se por combinar a simplicidade das formas com os padrões recriados a partir de uma fusão de inspiração portuguesa. Em cada peça percebe-se bem a forma como as suas criadoras entendem a vida – inspirada na natureza e contemporânea. São peças simples e orgânicas, criam “vida exclusiva para o sítio que se quer singular: a sua casa”, registam.
Fico com uma toalha que ponho na mesa do jardim, sirvo um vinho fresco, que vem a propósito, e a conversa sobre trapos continua… agora com Üva à mesa. •
+ Üva Homewear