Rita Carmo & David Fonseca / Música da fotografia

Quando a música faz zoom e a fotografia toca compassada, é um exercício supranormal. Se não, vejamos…

O normal dentro de uma aparente normalidade: a Rita fotografa o David. Porém, o David também tira fotografias, sem deixar de ser músico. Ora, quem pensa que o normal é a Rita fotografar o David, em ambientes vários, é porque nunca arriscou fazer o David fotografar a Rita à beira do Tejo. É normal, com toda a regularidade que assiste ao adjetivo ou substantivo “normal”, falar sobre a Rita acompanhada da fotografia do David. Passaremos então a atestar essa dita normalidade, de seguida e em paralelo.
Rita Carmo é o rosto que não vemos nas musicais fotografias que miramos, é a mão que controla a lente, é o desenhar no nosso olhar, de outros olhares. Nas lides da fotografia, há mais de duas décadas, começa a prender notas, a captar músicos e a retratar concertos em 1992, para o semanário Blitz, onde se mantém como fotógrafa residente desde então. Mas a sua lente, a livre, corre a imprensa nacional e internacional com um sem fim de fotografias editadas, interpreta capas de álbuns e imagens de divulgação, de número infinito. A mesma lente, retrata 15 Criadores de Moda para o livro “15 Histórias de Hábitos” de Cristina L. Duarte, em 2003 e, no mesmo ano, edita “Altas-Luzes”, livro com cerca de 200 fotografias de concertos em Portugal e de sessões fotográficas, pela Assírio & Alvim. Para trás, pelo meio, tanta musicalidade imortalizada onde podemos ouvir e sentir, cada acorde, em cada fotografia tirada. No ano 2013, Rita Carmo lança “Bandas Sonoras – Fotografias de Rita Carmo”, da Chiado Editora, um compêndio fotográfico que reúne 100 retratos de música nacional, todos tirados entre 2003 e 2013, com prefácio de um escritor amante assumido da cena musical, José Luís Peixoto. A Rita é, sem desafinar, a música da fotografia.

E o que é a música que a Rita retrata?

Música é substantivo feminino. Organização de sons com intenções estéticas, artísticas ou lúdicas, bem variáveis. É a arte e técnica de combinar os sons de forma melodiosa. Composição de obra musical. Depois, é o conjunto de músicos que é uma banda ou uma orquestra e o papel, que contém notações musicais, é uma partitura. Para terminar, é ainda uma sequência de sons cuja cadência ou ritmo lembram uma melodia. Todavia, se formos ao informal, música é manha, é lábia. E é com alguma manha e temperada lábia que invertemos papéis, que trazemos para a frente o rosto que, regularmente, não vemos e escondemos o rosto musical que, normalmente, olhamos.
Mais do que um falar da Rita este artigo é o mais inocente dos desafios de colocar um músico “fotógrafo a fotografar uma fotógrafa” (David) e apresentar-vos a genuidade desse desafio. David Fonseca, que não necessita de apresentações pois rasgados são os justos elogios ao seu trabalho sonoro é, também ele, muitas vezes o rosto por detrás das fotografias que ouvimos. Nem mais, nem menos. Rita Carmo por David Fonseca. Quando a música fica a controlar a lente e a fotógrafa a ser captada.  •

© Fotografia: David Fonseca