O fascínio ganha forma na infância, com os objetos, as fotografias, as miniaturas, para catalogar, colecionar, organizar… Memórias que transporta na bagagem que a acompanha para todo o lado, que a inspira todos os dia. Sem deixar de olhar em frente, para o futuro. Eis o mundo de Joana Astolfi, arquiteta, artista, designer.
The Universe is Incredibly Big and We Are Incredibly Small / 2013
Tudo tem uma estória
“A vida de alguém, uma narrativa, uma memória afetiva.”
Reminiscências muito presentes no objeto em segunda mão, esquecido no tempo, o qual é convertido num outro que conta a estória de Joana, por meio de um processo de transformação carregado, por sua vez, de memórias de uma infância que a acompanha todos os dias e que, hoje, se encarrega de o encher de humor pelo inesperado, por vezes, através da manipulação da escala desse mundo, sempre com uma lupa, em grande.
“A minha [vida], hoje, é um caminho que vem da infância.”
The Universe is Incredibly Big and We Are Incredibly Small / 2013
Um caminho de permanente convívio com o mundo das artes, habitado por artistas, arquitetos, designers, de onde Joana absorveu a vontade de recriar e criar, de colecionar miniaturas, fotografias antigas cujos retratados protagonizavam estórias inventadas, de catalogar e organizar objetos, de ter pequenas gavetas para tudo.
“Adoro os anos 1950′, 1960′, 1970′. Se me dessem a escolher a geração que gostaria de viver, ia para Ipanema, anos 1950′.”
Da infância advém a curiosidade, a procura constante de objetos doentes, sem vida, num roteiro que, hoje, é uma viagem pelo passado convertido num hábito envolto numa perseverança singular por Lisboa. Sem rotinas.
“Preciso de poder viajar no meu espaço.”
A mesma cidade que acolhe o seu atelier, o Studio Astolfi que, calorosamente, nos abre as portas numa tarde de inverno.
Don’t Look Back Unless it’s a Good View / 2013
Peças com cenários dentro
“Ando muito a pé por Lisboa – Chiado, Cais do Sodré, Baixa, Alfama. Ando muito pela Baixa, nas lojas de carimbos, adoro drogarias, adoro ir a fábricas comprar o mobiliário antigo – mesas de luz, móveis de tipografias, estiradores antigos…”
Lugares comuns mergulhados num património carregado de memórias que sustentam cada estória, que nasce ora de uma ideia, ora de um objeto. Depende do projeto que a arquiteta, que é artista, que é designer, tem em mãos no momento, para o qual precisa de “xis” candeeiros, “xis” sofás, “xis” peças de decoração.
“Vou a sítios específicos ou ligo a perguntar se tem este ou aquele objeto ou peça de mobiliário. Faço muito ‘reperar’.”
E depende do click que resulta da empatia entre Joana e uma peça interessante que vê naquele momento, porque há espaço para as peças que querem protagonizar uma estória sua, plena de humor, com twist. A compra é, por vezes, garantida, e casos há em que a peça precisa de esperar um ou dois anos…
“Até ver o dia!”
Até ver o dia em que serve de cenário de uma estória retratada numa fotografia, habitada por bonecos e objetos em miniatura, pequenos detalhes que dão vida ao que é velho, como uma casa de bonecas, de uma infância inseparável.
Por um fio / 2013
Reabilitar. Revitalizar. Ressuscitar
Lá dentro, no atelier, o antigo, no tempo e nas estórias, é reabilitado, é revitalizado, é ressuscitado. Recebe uma segunda oportunidade de vida para dar vida aos espaços criados por Joana Astolfi – ambientes quentes, harmonizados pelo betão e pelas madeiras nobres, traçados pela linha dos anos 1960′, 1970′, que convidam a ficar, a desfrutar cada objeto.
“Bastam três ou quatro toques para que o cenário nasça.”
Não mais.
“Os objetos têm de respirar dentro desses ambientes.”
E a iluminação?
“É fundamental. Tem de celebrar o espaço!”
Park Terrace Bar / Lisboa 2013
Sobre 2013 e o que ai vem
Em 2013, os ponteiros do tempo andaram entre a revitalização da rua Direita, em Viseu; o Park, o spot lisboeta do verão passado, a integração na galeria Bloco 103 , em Lisboa, e as exposições “Six Impossible Things Before Breakfast”, no Chiado Underscore_, e “How Insomnia Can Be Beautiful”, na Irlanda.
Em mãos, para 2014, Joana Astolfi tem a conceção do design de interiores e da imagem de um café/pastelaria, em Londres, o qual irá homenagear o pastel de nata; um restaurante/bar num terraço, em Lanzarote; a exposição com Ana Tecedeiro, para abril, na Bloco 103; um projeto “louco” coordenado por Mariana Duarte Silva, no Museu da Carris, em Lisboa, chamado Village Underground Lisboa – mais de 20 contentores marítimos transformados em estúdios e escritórios para artistas, músicos –, cujo desafio consiste em transformar dois autocarros desativados em um café e um meeting room. E mais: Joana Astolfi foi convidada a fazer uma montra da loja da Hermès, no Chiado, no âmbito da Shop window designer Portugal.
No momento, participa numa exposição coletiva institulada “Small things to collect”, na Bloco 103, patente até depois de amanhã, dia 7 de fevereiro de 2014. •
“Brincar é trabalhar! O meu pai dizia-me: ‘Joana, o melhor que você pode fazer é brincar, fazer aquilo que você gosta’. Não há nada melhor do que isso!”
+ www.joanaastolfi.com